Covid: Quais os riscos da nova variante da Ômicron, a BE.9, encontrada no Amazonas?

Sublinhagem avançou nas últimas semanas e ‘fez ressurgir a covid-19 no Amazonas’, segundo pesquisadores

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Foto do author Ítalo Lo Re
Atualização:

A Rede Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou o surgimento de uma nova subvariante do coronavírus no Amazonas. Chamada de BE.9, trata-se de uma versão da Ômicron que avançou nas últimas semanas e, segundo pesquisadores, “fez ressurgir a covid-19 no Amazonas” – o Estado chegou a ser o epicentro da pandemia no País no início do ano passado.

No resto do Brasil, os efeitos da BE.9 ainda são incertos, embora haja cenário de alta de casos em grande parte dos Estados. Especialistas ouvidos pelo Estadão comentam o assunto e as perspectivas de avanço da nova sublinhagem, que está sob estudo. Reforçam ainda a importância de completar o esquema vacinal e de adotar medidas de precaução, como uso de máscara em locais fechados.

Paciente com covid-19 chega a hospital em Manaus durante pico do início do ano passado Foto: Bruno Kelly / Reuters - 14/01/2021

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“É muito importante que monitoremos de perto a BE.9, pois já vimos que ela fez ressurgir a covid-19 no Amazonas e não sabemos se ela poderá fazer o mesmo no resto do Brasil”, alertou o pesquisador Tiago Gräf, da Rede Genômica, em nota de divulgação. A nova variante foi identificada após equipe da Fiocruz Amazonas sequenciar mais de 200 genomas do Sars-CoV-2 entre setembro e outubro.

Ao Estadão, o virologista Felipe Naveca, que coordena o grupo de pesquisadores que fez as análises, explica que a variante BE.9 surgiu a partir da evolução de uma outra sublinhagem da Ômicron: a BA.5.3.1, que foi detectada pela primeira vez no Amazonas em junho deste ano. Desde então, os pesquisadores da Fiocruz começaram a acompanhá-la e observaram que ela estava acumulando uma série de mutações, principalmente a partir de setembro.

Naveca conta que a maior mudança ocorreu quando o vírus acumulou mutações em três posições da proteína Spike – pedaço do vírus que se prende à célula humana. “São mutações que aumentam a transmissão”, explica. “Justamente quando o vírus acumula essas três mutações, ele dá um salto e a gente passa a ter 94% das amostras que foram sequenciadas até o final de outubro como da linhagem BE.9.”

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Esse avanço, continua Naveca, acarretou em um aumento rápido de casos de coronavírus no Amazonas ao longo do mês passado. Dados da Fiocruz apontam que, no período recente, a média móvel de diagnósticos positivos subiu de aproximadamente 230 para mais de mil registros por semana no Estado.

As ocorrências graves, por outro lado, não avançaram em igual proporção. “Isso nos indica que há uma imunidade por conta das vacinas e também uma imunidade híbrida, por conta de infecção natural”, destaca o pesquisador. Segundo ele, trata-se de uma indicação positiva em relação à eficácia dos imunizantes sobre a nova subvariante.

O grupo vai continuar monitorando o cenário para reunir mais informações, assim como fez ao longo das últimas semanas. “Nós fomos acompanhando semana a semana e a gente pode dizer, sim, que a BE.9 surgiu no Amazonas, inclusive porque nós vimos esses intermediários dela, que foram acumulando as mutações aos poucos, sendo formados”, aponta Naveca.

Momento é de precaução, reforça infectologista

Professor da Universidade Feevale, o virologista Fernando Spilki destaca que o avanço rápido da subvariante no Amazonas requer precaução. “Esse quadro ainda não se repete na mesma magnitude em outras regiões, o que deve ser questão de tempo”, afirma.

Isso porque, explica, o “aumento na participação percentual no Amazonas é um indício de uma transmissibilidade alta”, embora essa questão e o escape parcial de anticorpos ainda estejam sendo estudados mais a fundo.

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A adoção de medidas de proteção, de todo modo, já é recomendada. “Ao encontrar um aumento no número de casos e, depois, encontrar uma variante que tem algumas diferenças, deve-se tomar medidas de precaução e de cautela”, destaca.

Nesse contexto, o virologista reforça a importância de completar o esquema vacinal da população e de recomendar medidas de proteção, como uso de máscara em ambientes fechados, especialmente para grupos mais suscetíveis a desenvolver quadros graves.

As vacinas contra covid, destaca Spilki, continuam dando uma proteção clínica importante e são as grandes responsáveis por ondas com números de internações bem menores que no início da pandemia.

“Todavia, a gente tem de tomar também, novamente, uma cautela e tentar evitar o número de casos alto, porque mesmo que seja um percentual baixo, se nós temos um número de casos alto, acaba tendo mais internações.”

Para o ano que vem, o virologista afirma ainda que é importante que o País comece a se preparar para desenvolver, ou mesmo adquirir, vacinas bivalentes e que tragam novidades em relação a novas subvariantes. “A curto prazo, (o ideal) seria fechar logo esse calendário vacinal e, para o ano que vem, de fato pensar os reforços atualizando as vacinas.”

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