Há algumas décadas na mira da ciência, a microbiota intestinal coleciona evidências de sua relação com a imunidade, o bem-estar emocional e até contra a obesidade. Agora, um estudo publicado na revista científica The Journal of Clinical Investigation aponta mais um possível benefício: contribuir para a qualidade de vida dos idosos.
Cientistas chineses realizaram uma análise observacional de 1.693 pessoas idosas, que foram separadas em três grupos, conforme a presença ou não de fragilidade (não frágil, pré-frágil e frágil). Para a classificação consideraram características como a perda de peso, o declínio físico, a lentificação na caminhada, a diminuição da força de preensão palmar e maior exaustão. Na segunda etapa do estudo, foram avaliados aspectos biológicos e metabólicos entre as turmas, inclusive com investigações sobre a microbiota.
Já o terceiro estágio, consistiu em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego. Nessa etapa, uma parte dos participantes consumiu, durante 12 semanas, um preparado de fibras especiais com ação prebiótica, ou seja, que contribuem para a proliferação e a atividade de bactérias benéficas. A outra recebeu placebo para controle e comparação ao final do estudo.
Após a intervenção, por meio de testes, observou-se uma melhora na velocidade de caminhada e na força das mãos entre os que ingeriram os prebióticos. Exames de fezes, de sangue, entre outros, mostraram ainda alterações benéficas na microbiota, além de redução de marcadores inflamatórios.
“O estudo traz indícios muito promissores”, opina a nutricionista esportiva Gabriela Mieko, do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein. Esses achados reforçam a importância de zelar pela saúde intestinal, especialmente em uma fase da vida em que a composição da microbiota é modificada pelo uso de certos medicamentos, pela presença de doenças e por hábitos alimentares.
Segundo Mieko, os avanços da nutrigenômica – campo científico que avalia a interação entre os genes e os nutrientes – estariam por trás do aumento e do aprofundamento de pesquisas sobre a microbiota, mas que ainda é uma área nova. “Começa-se a compreender melhor o papel dos micro-organismos que povoam o cólon e suas inter-relações com os diversos sistemas do nosso corpo”, observa.
Ecossistema em equilíbrio
Diversos trabalhos mostram danos atrelados à disbiose, que é o desequilíbrio nas populações de bactérias, com maior concentração de bactérias patogênicas em comparação com as “do bem”. Nesse cenário, a permeabilidade do intestino acaba prejudicada, permitindo que micro-organismos nocivos viajem pela circulação, o que pode desencadear inflamações, entre outros distúrbios.
Apostar em um cardápio recheado de frutas, hortaliças, grãos integrais e leguminosas é uma das estratégias para manter tudo em harmonia. Tais alimentos oferecem as chamadas fibras prebióticas. “Dentro desse grupo, há os fruto-oligossacarídeos (FOS), presentes na cebola, na batata yacon, no aspargo, no tomate, entre outros”, explica a nutricionista do Einstein.
Destacam-se ainda os galactos-oligossacarídeos (GOS), presentes no leite, inclusive o materno. Outro exemplo é a inulina, da alcachofra e da chicória. “Também existem estudos mostrando que substâncias chamadas de flavonoides, vindas do cacau, podem ter efeitos prebióticos”, acrescenta Gabriela Mieko.
Por fim, soma-se à lista o psyllium. “É uma fibra natural extraída das sementes de uma planta, a Plantago ovata, e tem sido muito utilizada em estudos”, conta. Requer a orientação profissional para o consumo, já que o exagero pode causar desconfortos abdominais, como gases e constipação.
Outros grandes aliados da microbiota são os probióticos. Pela definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), probióticos são “micro-organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do indivíduo”.
Eles aparecem em alimentos fermentados, como iogurtes especiais, no kefir, na kombucha, entre outros. Um cuidado é o de se atentar às informações dos rótulos e privilegiar produtos com menores teores de açúcar, aditivos e com a lista de ingredientes enxuta.
Zelar por esse ecossistema garante a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) – butirato, acetato e propionato –, o que propicia um melhor aproveitamento de sais minerais e outros nutrientes. Essas substâncias ajudam a reduzir o risco de deficiências e também teriam ação anti-inflamatória, segundo alguns estudos.
Independentemente da idade, não faltam bons motivos para redobrar os cuidados e manter a microbiota intestinal sempre saudável.
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