Nem sei se precisa criticar a decisão do secretário de educação de São Paulo de abolir os livros didáticos. Não vi ninguém - a não ser ele mesmo - defender essa medida estapafúrdia.
No primeiro momento o plano era não ter material físico - o professor apresentaria os slides numa grande TV em sala de aula e os alunos anotariam em seus cadernos. "O livro tradicional, ele sai", afirmou Renato Feder. Segundo ele o material do Programa Nacional do Livro Didático é raso, "tenta cobrir um currículo muito extenso de maneira superficial". A proposta de migrar para o digital seria ter "um material mais assertivo", afirmou.
Mas é difícil ter certeza do que ele quis dizer, já que ser assertivo significa fazer asserções (afirmações) de forma segura e garantindo a validade da afirmação. Seria o livro um material titubeante, temerário, na interpretação do secretário? Ou ele usa assertivo como sinônimo de profundo?
Não parece ser o caso, já que basta uma olhada no site da Secretaria que reúne os materiais para conferir como os slides parecem mais com uma página do google do que de um livro. A aula sobre surgimento da vida, por exemplo, tem 17 slides, só 8 deles com algum conteúdo - e nenhum destes com mais de dois parágrafos de informação. São bons guias para os professores darem a aula, mas seria vergonhoso dizer que são profundos.
Na realidade o que o secretário quis dizer, me parece, é algo diferente. O material seria mais direto, sem a enrolação típica dos livros. Sabe, aquele monte de informação que enche a cabeça do aluno mas não cai na prova? Então, chega disso. O material assertivo tem só o que cai na prova. Estudar não pode requerer esforço. Vamos facilitar.
Obviamente está tudo errado. Não é o que se espera de um livro, muito menos o que se espera da educação. E, claro, não é o que significa assertivo.
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