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Diagnosticada com autismo nível 1, conhecido como autismo leve, a jornalista Renata Simões vai debater abertamente sobre o tema

Opinião | Um novo ABC, mais inclusivo

O ensino considerativo se adapta às necessidades de cada aluno, como autistas, hiperativos e outros estudantes neurodivergentes

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Sabendo das condições associadas ao TEA, como TDAH e ansiedade, aprendi estratégias que me ajudassem à “voltar à terra” caso o balão subisse sem controle. Truques como tentar encontrar o dedão do pé sem olhar para ele, deslocando o foco em meio a uma crise. Passei a técnica para amigos que, como mais de 50% da população em 2021, apresentavam sintomas de ansiedade, insônia e depressão. “Lidar com distrações e fortalecer sua capacidade de estar consciente é o desafio desde sempre. E o atual momento provocador para nossa capacidade de atenção plena no que fazemos”, conta Daniela Degani, fundadora da MindKids.

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Ser calmo e focado numa caverna no Nepal parece mais fácil que em São Paulo, onde a vida cheia de estímulos gera desgaste de energia. Mindfullness, a prática da atenção plena, é um dos mais de 500 tipos de meditação catalogadas na história. Daniela começou a estudar para aplicar na sua vida. Estendeu a prática aos filhos, tornou-se voluntária em centros comunitários e escolas, e hoje promove formação de professores em técnicas para serem aplicadas em sala de aula. Em maio, produziu o encontro online Mindfulness & TDAH: Pesquisas, Benefícios e Práticas Adaptadas para Estudantes.

Daniela desenvolveu um método adaptável: as crianças mais novas entram de forma lúdica, os alunos de Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio são fisgados pela neurociência. “Quando comecei a dar aulas nas escolas, percebi muitos alunos no campo da neurodiversidade: TDAH, TEA, TOD, paralisia cerebral... Nós adaptamos as práticas para que esses alunos sejam incluídos e respeitados, e sintam que se eles quiserem, eles conseguem. Não é uma obrigação, é um convite.”

A atenção plena apresenta ganho para os professores, que têm melhores sinais em relação ao estresse. “Com educadores e alunos mais presentes cria-se um ambiente propicio ao aprendizado.” O ensino considerativo defendido por Daniela é uma metodologia que abraça a existência de alunos neurodivergentes e a acessibilidade dessas práticas à eles: breves e repetidas para quem tem déficit de atenção; em movimento, para hiperativos; séries de repetidas e pequenos rituais para alunos no espectro autista.

Embora pesquisas científicas estrangeiras sobre os benefícios das práticas em adultos com TDAH tenham resultados mais conclusivos, a pesquisa voltada à educação infantil, ainda que limitada, é promissora. Entre os pais de escolas atendidas pelo método, 72% notam influências positivas no comportamento da criança em casa após seis meses do início das práticas. A Mindkinds atende em sua maioria escolas particulares, e desde o ano passado trabalha com duas Secretarias de Educação do interior do estado de São Paulo, adequando às práticas a situação de vida dos alunos.

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Daniela estimula em alunos e professores um novo ABC, nas palavras dela. Atenção, Bem-estar e Compaixão. Como é que você pode ser empático ao outro se não prestar atenção? l

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