Descongestionante nasal vicia? Veja cinco riscos associados ao uso excessivo do produto

Utilizados para desobstruir a respiração, esses medicamentos não são inofensivos como parecem, alertam especialistas

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Por Victoria Lacerda
Atualização:

Com a chegada do inverno, a incidência de problemas respiratórios sobe. Afinal, a maior circulação de vírus favorece quadros como gripe e resfriado, enquanto a baixa umidade deixa as pessoas mais suscetíveis a quadros alérgicos, como rinite e sinusite. Essas situações têm alguns sintomas parecidos, e um deles é o nariz entupido.

Para resolver esse incômodo, uma parcela da população recorre aos descongestionantes nasais, medicamentos caracterizados por concentrarem substâncias vasoconstritoras, que estimulam o estreitamento dos vasos sanguíneos – fenilefrina, difenidramina, cloridrato de oximetazolina, nafazolina ou cloridrato de nafazolina são alguns exemplos.

Com a chegada do inverno, a incidência de problemas respiratórios sobe Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Acontece que os frascos são vendidos sem prescrição, e o uso contínuo e exagerado pode ser altamente prejudicial à saúde. Especialistas ouvidos pelo Estadão listaram algumas das perigosas consequências da aplicação desenfreada. Confira:

1. Vício

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O medicamento proporciona um alívio instantâneo, e isso aumenta o risco de dependência, segundo Maura Neves, otorrinolaringologista do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP). “O alívio é imediato por causa das substâncias vasoconstritoras que reduzem o fluxo sanguíneo”, explica a médica.

Porém, o uso contínuo faz com que o efeito seja cada vez menos significativo. “O resultado é que o indivíduo passa a precisar cada vez mais do medicamento para respirar melhor, e em quantidades cada vez maiores”, descreve a otorrino.

Ela explica que não se trata de um vício químico, mas, sim, de uma dependência motivada pelo desejo de respirar facilmente. Não há um período de uso que caracteriza essa situação como um vício. Mas, quando o indivíduo precisa do descongestionante diariamente, mesmo sem uma doença diagnosticada, por exemplo, já pode ser considerado dependente.

Quem sabe bem como é essa situação de compulsão é a policial militar Juliana Mendes, de 36 anos. “Eu tinha um frasco dentro do carro, um no meu quarto, outro no trabalho e, às vezes, mais um no meu bolso e na minha bolsa. E quando sentia falta, o nariz ficava entupido na hora”, relata.

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De acordo com Maura, o período máximo que uma pessoa deve recorrer ao produto é de dois a três dias. Ou seja, o descongestionante não é proibido, mas é preciso utilizar com parcimônia e, de preferência, com orientação. “É possível usá-los algumas vezes sem ocasionar danos ao organismo e à saúde”, informa.

2. Complicações na gravidez

A policial Juliana só procurou um médico quando surgiu o desejo de ser mãe, porque descobriu que exagerar na aplicação de descongestionantes poderia ser particularmente perigoso na gravidez.

E ela estava certa. O potencial vasoconstritor desses medicamentos não fica restrito só aos vasos sanguíneos presentes no nariz. Sendo assim, aqueles vasos presentes na placenta – órgão que leva nutrição ao feto – também são impactados.

“Se a grávida usar esse tipo de descongestionante por muitos dias, existe a chance de o bebê receber menos oxigênio, o que pode ocasionar na restrição do crescimento fetal”, relata o ginecologista Eduardo Cordioli, diretor técnico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana (SP).

Segundo o médico, esse é um efeito que precisa ser conhecido, já que estamos em um momento de alta incidência de problemas respiratórios. “Temos observado o abuso desses medicamentos no consultório”, relata.

O médico informa que, dependendo do histórico da grávida, é possível indicar descongestionantes com corticoides em baixa dosagem, que apresentam menos efeitos colaterais. Mas o ideal mesmo é tentar o alívio com soro fisiológico, inalação com vapor e elevação da cabeceira da cama ao descansar.

Antes de engravidar, a policial Juliana fez vários exames solicitados pelo otorrino e descobriu que seu caso já era cirúrgico devido às inflamações e também ao desvio de septo.

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3. Problemas cardiovasculares

“Os descongestionantes nasais devem ser usados com cautela por pacientes hipertensos e portadores de arritmias ou isquemia coronariana”, avisa Carmen Barbas, pneumologista do Hospital Albert Einstein (SP).

As médicas relatam que a aplicação contínua desse tipo de medicamento faz com que a mucosa nasal absorva a substância vasoconstritora presente na fórmula, levando-a até a corrente sanguínea.

Dessa maneira, como contamos, os medicamentos não causam a constrição só dos vasos do nariz: outras áreas do corpo são afetadas, como o sistema cardiovascular. Aí, as consequências podem ser aumento da pressão arterial, taquicardia ou arritmia.

4. Rinite medicamentosa

Quem fica esguichando descongestionante sem parar, devido à perda de efeito, acaba potencializando a irritação presente no nariz. Essa condição passa, então, a ser a causa secundária da obstrução nasal. É a chamada rinite medicamentosa.

Esse quadro é diferente da rinite viral e também da bacteriana. A primeira está ligada a uma variedade de vírus, e ocorre geralmente a partir de um resfriado comum. Os sintomas consistem em corrimento nasal, congestão, gotejamento posterior, tosse e febre baixa. Já a bacteriana, como o próprio nome indica, é provocada por bactérias, e é marcada por um excesso de secreção nasal mais espessa e coriza frequente.

Vale destacar ainda que, segundo Maura, além de machucar a mucosa, abusar dos descongestionantes pode causar perfuração de septo e perda de olfato.

5. Deixar de tratar a doença que trava o nariz

Se as narinas vivem entupidas e a solução sempre é aplicar os descongestionantes, a doença que está por trás da dificuldade de respirar permanece sem tratamento, e a situação vira uma bola de neve.

No caso da rinite, é essencial contar com o apoio médico para, por exemplo, identificar os gatilhos que levam às crises de espirro, coceira e congestão nasal. Assim, o profissional de saúde pode traçar medidas comportamentais capazes de amenizar a doença – como reduzir o contato com ácaros – e indicar medicamentos realmente eficazes.

Em casos de congestionamento nasal, os especialistas explicam ainda que a hidratação da região é fundamental para proporcionar alívio. A indicação aqui é aplicar soro fisiológico nas narinas, várias vezes por dia. Além disso, quando o tempo estiver seco, uma boa é lançar mão de um umidificador de ar em casa e evitar o ar condicionado.

Descongestionantes são especialmente perigosos para crianças

Se o abuso desses medicamentos causa prejuízos nos adultos, entre crianças a situação é ainda mais delicada. Os descongestionantes podem disparar náuseas, dor de cabeça, elevação ou queda da pressão, diminuição acentuada da temperatura do corpo, bradicardia, sudorese e sonolência.

De acordo com Valéria Granieri, presidente da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), em casos mais extremos há risco de convulsões, coma e até mesmo morte. Assim como acontece entre os adultos, a pediatra recomenda a aplicação de soro fisiológico.

Os benefícios da lavagem com soro fisiológico

Esse tipo de higiene beneficia pessoas de todas as idades, desde bebês e crianças até adultos Foto: Taba Benedicto/Estadão

“Essa técnica consegue remover secreções, micróbios e alérgenos existentes nas cavidades nasais. Assim, promove limpeza, fluidificação e descongestão nasal”, resume Valéria. “O procedimento também é capaz de prevenir novas crises de alergia, além de gripes e resfriados”, incentiva.

A lavagem é feita com uma seringa sem agulha. E vale lembrar que o soro deve estar à temperatura ambiente para evitar que a mucosa das fossas nasais fique irritada. Eventualmente, o soro pode ser aquecido antes da realização da técnica.

Esse tipo de higiene beneficia pessoas de todas as idades, desde bebês e crianças até adultos. O importante é manusear e seringa com cuidado e controlar a intensidade dos jatos para evitar qualquer tipo de desconforto na hora da irrigação.

Depois da cirurgia de septo, a policial Juliana não precisou usar mais nenhum descongestionante nasal. “Desde setembro de 2016, quando estou resfriada só utilizo o soro fisiológico para a lavagem nasal. Também faço isso com os meus filhos por instruções da pediatra”, contou.

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Para os pequenos, Valéria ressalta que existem diferentes concentrações e apresentações dos produtos – vale verificar com o pediatra qual a melhor opção. “A quantidade de soro fisiológico usada nas crianças pode variar bastante, mas, em recém-nascidos, em geral recomenda-se entre 0,5 ml a 1 ml. Conforme o bebê for crescendo, é possível aumentar a quantidade, de 3 ml a 5 ml”, detalhou a médica.

A limpeza pode ser realizada diariamente, e várias vezes ao dia. Porém, antes de injetar o líquido, é preciso limpar o nariz para retirar crostas e excesso de secreções. Nos bebês, que ainda não conseguem assoar o nariz, a remoção pode ser realizada com hastes de algodão. A lavagem com soro entre os pequenos pode ser um desafio, então, quanto mais tranquilo for o processo, melhor será o resultado. E maior a chance de esse hábito ser levado para o resto da vida.

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