Um dos maiores erros é achar que, apenas olhando para uma pessoa, é possível dizer se a saúde dela está em risco ou não. Embora isso possa ser verdadeiro para casos mais extremos, o visual de um indivíduo pode enganar – e muito.
Já escrevi em coluna anterior sobre as limitações do uso do IMC (o índice de massa corporal) como ferramenta de avaliação corporal. Em função disso, muitos pesquisadores têm procurado modos mais confiáveis de avaliar riscos à saúde que vão além da classificação simplista baseada apenas na relação entre estatura e peso corporal.
Uma das possibilidades inclui uma nova categoria: metabolicamente obeso com peso normal (MOPN ou, em inglês, NWMO – normal weight metabolically obese).
Apesar de muitos acharem que o risco aumentado de problemas de saúde está relacionado apenas ao excesso de gordura corporal, saiba que a localização da gordura é tão importante quanto a sua quantidade.
Nesse sentido, as pessoas MOPN, mesmo não apresentando, visualmente, um excesso de gordura corporal, acumulam internamente gordura na região abdominal, onde é capaz de ocasionar alterações metabólicas significativas e aumentar a probabilidade de doenças.
Ainda não existe um critério diagnóstico definitivo para essa nova classificação, contudo, um dos mais aceitos é o mesmo que se utiliza para identificar a chamada síndrome metabólica: se a pessoa possui três ou mais das características abaixo, deve procurar acompanhamento médico:
- Obesidade abdominal: Cintura maior que 102 cm em homens e maior que 88 cm em mulheres
- Triglicérides elevados: nível igual ou acima de 150 mg/dl
- Colesterol HDL (considerado bom) baixo: menor que 40 mg/dl em homens e menor que 50 mg/dl em mulheres
- Pressão arterial elevada: igual ou acima de 130/85 mmHg
- Glicemia de jejum elevada: igual ou acima de 110 mg/dl
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Atenção: uma pessoa que toma medicação pode estar com exames dentro da faixa de normalidade, mas isso não necessariamente a exclui da classificação.
Para ter ideia da relevância dessa nova abordagem, um estudo israelense com 3 mil participantes verificou que 38% das mulheres e 26% dos homens poderiam ser classificados como metabolicamente obesos, apesar do peso normal.
Outro estudo, dessa vez americano, estratificou os participantes por faixa de idade e verificou que a prevalência de obesidade metabólica e peso normal era de:
- 20–34 anos: 10,3%
- 35–49 anos:16,9%
- 50–64 anos: 41,7%
- 65–79 anos: 54,7%
- Mais de 80 anos: 56,2%
Alguns pesquisadores inclusive defendem a ideia de que a obesidade seja categorizada baseada principalmente no perfil cardiometabólico, e não no IMC.
Considero que isso faz muito sentido. Existem pessoas com peso aumentado, até mesmo com sobrepeso, que são metabolicamente saudáveis – às vezes muito mais saudáveis que algumas com IMC considerado adequado. Vale lembrar que o IMC foi desenvolvido no século XIX e possui diversas limitações.
Seria essa a volta do conceito de “falso magro”?
Era comum receber pacientes com esse “diagnóstico” de outros profissionais – e, pasmem, essa fala não vinha acompanhada de qualquer exame que indicasse alteração metabólica, era apenas um julgamento do profissional pelo viés estético.
Quando falamos de pessoas com peso normal e metabolicamente obesas, estamos tratando única e exclusivamente de parâmetros de saúde.
À medida que os profissionais começarem a aderir a essa nova classificação, certamente encontraremos muitas pessoas sendo caracterizadas como MOPN, e esse será um grande avanço, pois não estaremos falando de forma corporal e, sim, de saúde.
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