Em 1950, exatamente dois anos após a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a entidade instituiu o dia dedicado a reflexões, discussões e ações em prol das necessidades da população no que diz respeito a saúde, bem-estar e qualidade de vida.
Atualmente, entre as preocupações, os especialistas alertam sobre a importância de zelar pelo meio ambiente e da promoção de práticas sustentáveis. “No Brasil, nossos seis biomas, Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa, estão sob ataque”, lamenta o sanitarista Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
A degradação dos biomas leva a um desequilíbrio e aumenta os riscos de vírus, bactérias e outros micro-organismos. “Questões de saneamento básico, como a carência de esgotos e a deposição inadequada de lixo, destroem o meio ambiente, e isso tem tudo a ver com saúde”, acrescenta o médico.
Embora reconheça e celebre conquistas como a erradicação da varíola e as vidas salvas por meio de bem-sucedidas campanhas de imunização mundo afora, a OMS evidencia a necessidade de trabalhar pela equidade, palavra-chave quando se trata de melhorar as condições de vida no planeta. “A desigualdade social gera fome, falta de acesso a saneamento básico e a educação. Ou seja, está relacionada a sofrimento, doenças e mortes”, justifica Vecina.
SUS e financiamento em saúde
Na visão de Gonzalo Vecina, a crise sanitária da covid-19 despertou nos brasileiros um sentimento de valorização do Sistema Único de Saúde, o SUS. “Isso traz uma perspectiva de que talvez consigamos agora olhar com outros olhos a importância da estruturação da atenção da saúde, o que, é claro, exigirá mais políticas públicas voltadas a esse setor”, observa. “Vale ressaltar que o SUS não só atende doentes. Ele gera riqueza, pode dar origem a empregos. Para isso temos que melhorar seu funcionamento”, diz.
Outro desafio para o País é dar a devida atenção às chamadas doenças negligenciadas. “A realidade é que faltam investimentos em pesquisas sobre tuberculose, malária, leishmaniose, dengue. São problemas ignorados porque não são presentes nas regiões mais ricas do mundo. Nós, os países afetados, temos que acordar para a necessidade de criar uma base industrial própria, ter um sistema de saúde que gere valor”, reforça Vecina.
Ele exemplifica com os bons resultados obtidos a partir de 2007 com as parcerias para desenvolvimento produtivo, que estimularam a capacidade de farmacêuticas nacionais de produzirem biotecnológicos, diminuindo a dependência de fornecedores externos.
O Brasil, afinal, tem excelentes iniciativas quando se trata de saúde pública, com entidades como o Instituto Butantan, que vem ganhando protagonismo com a produção e exportação de vacinas contra gripe. “Também a Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] é referência nessa área como fornecedora de imunizante contra febre amarela para diferentes países”, destaca Vecina.
Entre os feitos a comemorar neste Dia Mundial da Saúde por aqui, o sanitarista cita o funcionamento da vigilância sanitária no País, que se equipara às do Primeiro Mundo, além do sistema de tratamento da aids, com o fornecimento de terapia antirretroviral que ganhou reconhecimento global. “Temos ainda o maior sistema público de transplante de órgãos do mundo”, lembra. “Precisamos agora focar a recuperação daquele que também já foi modelo, nosso programa de imunização. As taxas de cobertura vacinal caíram muito. Acredito que dentro de um ano seja possível alcançar níveis mais elevados”, espera o especialista.
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