Já ouviu falar em epidermólise bolhosa? Tauani Vieira conta como é viver com a doença

Condição rara provoca bolhas na pele com atritos mínimos; mais do que a dor física, ela conta o processo que a curou emocionalmente

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Foto do author Ana Lourenço

Pouco conhecida, a epidermólise bolhosa é uma doença genética que provoca a formação de bolhas na pele quando a pessoa sofre atritos mínimos. Estima-se que cerca de 500 mil pessoas em todo o mundo tenham a doença. 

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Aqui no Brasil, a psicóloga Tauani Vieira é uma delas. “É como se não tivesse essa ‘colinha’ que mantém a epiderme aderida na derme, então qualquer trauma faz com que minha pele se rompa”, explica.

Muito mais do que a dor física que a doença a fez sofrer, Tauani teve de enfrentar uma dor psicológica e emocional ao se descobrir diferente dos outros. “Eu já fiquei muito revoltada e cheguei a me perguntar por que eu sou assim. Cadê os outros iguais a mim? Achava que eu era a única pessoa no mundo desse jeito e me sentia esquisita”, conta. 

Tauani:a psicologia a ajudou a se aceitar como é Foto: Bárbara Vanzo

“Por 21 anos eu me escondi, em todos os lugares, para poupar os outros e para me poupar da reação deles, que às vezes era de curiosidade, outras de medo, e muitas de nojo”, desabafa Tauani.

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Diagnosticada ainda no nascimento com epidermólise bolhosa, ela sempre teve de conviver com olhares estranhos buscando respostas no seu corpo. “Eu tenho muitas lesões abertas que geram bolhas e tenho de proteger esses lugares com curativos antiaderentes, pois a cola do band-aid romperia a minha pele”, diz.

A condição, que não tem cura e não é transmissível, é conhecida como doença da borboleta, uma vez que a fragilidade da pele do paciente se assemelha com a da asa do inseto.

Normalmente, as feridas aparecem com repetição em lugares de apoio, como ombros por carregar mochilas e bolsas, cotovelo, braços e joelhos. Outros lugares, somente quando ocorre um atrito. 

Porém, no caso de Tauani, que tem um dos tipos mais severos de epidermólise bolhosa, a distrófica recessiva, os atritos no mesmo local podem resultar na perda das unhas e na distrofia dos pés e das mãos. “Eu nasci com os dedinhos separados, mas, ao longo da infância, com os machucados nas mãos e entre os dedos, a cicatrização os juntou”, conta ela, que aos 5 anos já estava com a mão toda fechada.

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INDEPENDÊNCIA

O processo de aprender a se virar sozinha foi solitário e difícil, mas aos poucos ela aprendeu a escrever com as duas mãos, a dirigir e a segurar objetos. Foi justamente essa desenvoltura que a fez receber atenção no TikTok. “Eu comecei despretensiosamente, publicando vídeos das maquiagens que eu fazia em mim mesma e foi um sucesso.”

Hoje, são centenas de vídeos publicados na plataforma, com Tauani sendo apenas quem ela é: uma jovem que faz dancinhas, makes e outras tendências da internet. E, entre um vídeo e outro, ela aproveita para falar sobre a doença e sua convivência com ela. 

@tauanivieiraa tô muito feliz com o resultado dessa maquiagem, aaaaaa #makeup #fyp #foryou ♬ Break My Heart - Dua Lipa

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“Tem um intuito educativo, mas eu não quero falar 24 horas sobre isso. Quero mostrar a minha vida como uma pessoa qualquer e não ter a obrigação de falar sobre isso o tempo todo, mas sim na hora em que me sinto à vontade.” O motivo vem da exaustão de anos e anos sendo vista unicamente como uma pessoa com deficiência – algo que foi ainda mais marcante na adolescência. “Foi ali que começou o bullying na escola, onde eu comecei a ver as minhas amigas sendo desejadas e namorando e eu sendo sempre só a amiga.”

TRANSFORMAÇÃO

A terapia e o apoio da família a ajudaram no processo de autoconhecimento, mas tudo mudou radicalmente em 2016, quando começou a cursar psicologia na Universidade Federal do Paraná

Por 21 anos eu me escondi para poupar os outros e me poupar da reação deles, que às vezes era de curiosidade, outras de medo e muitas de nojo

Tauani Vieira, Psicóloga

“Deparei-me com pessoas completamente diferentes, que me olhavam como a pessoa Tauani, que tinha um monte de características, gostos e histórias.” A partir de então, Tauani passou a ter contato com outros tipos de deficiência e se descobriu naquele novo mundo. 

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“Eu senti uma paz muito grande de entender que o problema não estava em mim, algo do qual me culpei a vida inteira, mas sim em como a sociedade nos trata”, afirma. “Entendi que não poderia me conformar e os outros teriam de se acostumar comigo sendo diferente.”

As feridas, que também têm relação com o estado emocional de Tauani, ficaram controladas. Mas para além disso, as feridas internas – muito mais do que os curativos externos – foram estancadas. 

“Acho que eu nunca me imaginaria nesse lugar de estar bem comigo mesma e com o meu corpo, de estar me permitindo viver relações, amizades e outra coisas intensas. Eu sinto muito orgulho de mim. Eu olho e penso: ‘Que mulher’.” 

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