Dois terços dos paulistanos discordam do veto do presidente Jair Bolsonaro à compra de uma vacina chinesa contra a covid-19, mostra pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo. Realizado com 1.204 pessoas entre os dias 28 e 30 de outubro, o levantamento quis saber se os entrevistados concordavam ou discordavam de Bolsonaro na decisão de não comprar o imunizante desenvolvido na China mesmo que ele seja aprovado pelas autoridades competentes da área da saúde. A maioria absoluta dos participantes da pesquisa (54%) disse discordar totalmente da postura do presidente. Outros 13% afirmaram "discordar em parte".
Entre os apoiadores da decisão, 19% relataram concordar totalmente com Bolsonaro e 8% disseram concordar em parte. Dois por cento afirmaram não concordar nem discordar e outros 3% não souberam opinar ou não responderam. A margem de erro da pesquisa é de três pontos porcentuais, para mais ou para menos.
No último dia 21, Bolsonaro afirmou, em entrevista à Rádio Jovem Pan, que não comprará a vacina desenvolvida na China mesmo se ela receber registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O presidente referia-se à Coronavac, imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã e que está na última etapa de testes clínicos no Brasil. Naquele mesmo dia, ele havia desautorizado o ministro Eduardo Pazuello e vetado a compra de 46 milhões de doses do produto pelo Ministério da Saúde.
Os mais jovens são os mais críticos a essa postura de Bolsonaro. Entre os entrevistados de 16 a 24 anos, 78% disseram discordar do presidente totalmente ou em parte. A faixa etária de 35 a 44 anos é a única em que a maioria absoluta não discorda totalmente do presidente: são 49% nessa situação. Mas na soma das respostas dos que discordaram em algum grau nesse grupo, o porcentual ainda é alto: 68%.
Na análise por sexo, as mulheres demonstram postura um pouco mais crítica: 69% de discordância das participantes do sexo feminino, ante 65% dos entrevistados homens. Pouca diferença também nas respostas segundo raça/cor dos entrevistados. De acordo com a pesquisa, o índice de pretos e pardos que discordam do posicionamento do presidente (69%) é levemente superior ao observado entre brancos (65%).
No recorte por renda familiar, são os mais pobres os que mais discordam da postura do presidente. No grupo que ganha até um salário mínimo, 59% disseram discordar totalmente de Bolsonaro e outros 12% afirmaram discordar em parte, totalizando 71% de desaprovação. Os entrevistados no grupo de renda entre 2 e 5 salários mínimos têm o menor índice de discordância: 66%.
Os participantes com ensino superior são os que mais reprovaram a conduta do presidente: 59% de discordância total nesse grupo, ante 49% entre os entrevistados com ensino médio.
A maior diferença foi observada quando os dados foram analisados conforme a religião do entrevistado. Enquanto entre os católicos, o índice de discordância é de 72%, entre os evangélicos, a taxa ficou em 57%.
Especialista. Para Natalia Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e presidente do Instituto Questão de Ciência, o resultado demonstra que, independentemente de preferências políticas, a população confia nas vacinas e acredita nos órgãos regulatórios. "A maioria das pessoas sabe que quem é responsável por determinar se uma vacina é segura ou não é a autoridade de saúde. Elas entendem que a vacina contra a covid, desde que tenha eficácia e segurança, é a melhor ferramenta para voltarmos à normalidade. Além disso, a população brasileira, por todo o histórico do Programa Nacional de Imunizações, tem confiança nas campanhas de vacinação."
Governo. A posição de Bolsonaro cria discordância dentro do próprio governo. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, em entrevista à revista Veja, que a polêmica em torno da Coronavac é "briga política" com o governador João Doria e disse que "é lógico" que o governo federal vai comprar o imunizante.
"Já colocamos os recursos no Butantã para produzir essa vacina. O governo não vai fugir disso aí", afirmou o vice-presidente à revista.
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