Dores no peito não são normais e nunca devem ser menosprezadas. No entanto, a causa delas nem sempre está no coração. Quando é proveniente do órgão, essa dor é chamada de angina, um sintoma que ocorre quando o músculo cardíaco não recebe sangue rico em oxigênio suficiente, conforme a Associação Americana do Coração (AHA), o que pode levar a um infarto, uma parada cardíaca e até uma morte súbita.
Médicos ouvidos pelo Estadão destacam que, quando uma dor no tórax aparecer, o recomendado é não se isolar, informar pessoas que estejam próximas, acionar o Samu no número 192, ou buscar atendimento em uma emergência. E fazer isso o mais rápido possível.
“Se for um bloqueio de uma artéria (ou seja, um infarto), o tempo é a diferença entre a gente conseguir abri-la e não deixar que haja o sofrimento ou morte do músculo do coração. Tempo é músculo, tempo é vida”, afirma Sérgio Timerman, diretor do Centro de Parada Cardíaca e Ciência da Ressuscitação do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da USP (FMUSP). Ele palestrou na quinta, 25, sobre este tema no 2° Congresso de Medicina Geral da Associação Médica Brasileira (AMB).
“Dor torácica é uma situação muito comum e que, se não soubermos diagnosticar, pode ter um final muito infeliz”, continua ele. A classificação da dor no peito, em geral, leva em consideração o histórico do paciente, outros sintomas que ele apresenta e também características dessa dor.
Quando o coração não está bem
Os médicos destacam três características importantes das anginas:
- Região: é uma dor que ocorre do centro para o lado esquerdo do peito.
- Irradiação: é uma dor que irradia para braços e ombros (em geral, o esquerdo), mas também para pescoços e costas.
- Forma: é uma dor opressiva, como se alguém estivesse comprimindo seu peito. Alguns pacientes falam que o “peito está pesado” ou que tem a sensação de estar sendo “rasgado por dentro”.
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Os especialistas destacam que o histórico do paciente ajuda a classificar essa dor no peito como angina. Se você tem uma ou mais das condições a seguir, a chance de ser angina é mais alta:
- Histórico de problemas cardíacos na família
- Idade avançada
- Pressão alta
- Diabetes
- Níveis de colesterol alto
- Estar acima do peso (sobrepeso ou obesidade)
- Ser fumante
- Consumir álcool de forma abusiva
O aparecimento de outros sintomas associados a essa dor no peito também podem ser importantes para entendê-las. São eles:
- Sudorese (suar excessivamente)
- A pele do paciente fica fria e, por vezes, pegajosa
- Fadiga
Nesses casos, enquanto o paciente estiver consciente, conversando com você, muito provavelmente ele pode estar tendo um ataque cardíaco (o infarto), ou seja, um coágulo interrompe parcial ou completamente o fluxo sanguíneo.
Se essa pessoa perde a consciência, em geral desmaia, destaca Timerman, geralmente trata-se de uma parada cardíaca. Nesse momento, é ideal iniciar um processo de ressuscitação cardiopulmonar ou RCP, que o Estadão já te ensinou a fazer. Se o paciente não receber atendimento em tempo pode evoluir ao óbito. Será considerada, muito provavelmente, uma morte súbita, definida como um falecimento inesperado.
É válido salientar que embora o infarto seja a principal causa de parada cardíaca, não é a única. Outras causas que também podem causar dor no peito são:
- Dissecção aórtica: quando há uma ruptura de uma artéria principal. Segundo especialistas, a dor aqui costuma ser lancinante (dor aguda, que se manifesta com “pontadas” ou “fisgadas”)
- Embolia pulmonar: que é quando uma ou mais artérias pulmonares ficam bloqueadas por um coágulo.
Além do coração
“No tórax não tem só o coração. Temos o pulmão, a parte muscular, osso, o esôfago, o diafragma, além de toda a parte de nervos e a parte vascular que irriga esses órgãos. Então o conceito de dor torácica é abrangente”, destaca Elton Simionato Scuro, diretor do Centro de Treinamento da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) e cardiologista do Hospital do Coração (HCor) e do Hospital da Polícia Militar.
A causa dessa dor no peito, então, também pode ser:
- Pulmonar: como no caso de uma embolia (que já citamos anteriormente), pneumonia, uma inflamação na capa do pulmão, uma perfuração espontânea. Segundo o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), nesses casos, a dor no peito pode piorar ao inspirar.
- Gastrointestinal: ou seja, pode ser sinal de um refluxo (definido como retorno involuntário e repetitivo do conteúdo do estômago para o esôfago), azia ou indigestão. O NHS destaca que aqui a pista pode ser a dor aparecer, por exemplo, após comer.
- Muscular: nesses casos, de acordo com o NHS, pode aparecer após se lesionar durante um exercício, por exemplo.
- Colecistite: é uma inflamação aguda da vesícula, que fica muito próxima da parte superior do abdômen.
- Inflamação na costela ou na cartilagem da costela.
- Psiquiátrica: ataques de pânico ou ansiedade podem dar a impressão de dor no peito semelhante à de um infarto. “Hoje, temos um grande problema com isso, afinal, a vida de todo mundo está muito atarefada. Estamos sempre buscando mais com menos tempo”, comenta Scuro.
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É normal sentir dor no peito ao se exercitar?
A resposta dos especialistas é não. “O exercício físico foi feito para ajudar o nosso coração. Dor no peito durante o exercício não é normal”, frisa Timerman.
Conforme mostrou o Estadão, a cardiomiopatia hipertrófica é a causa mais importante de morte súbita em atletas e muito prevalente no Brasil. A doença se caracteriza por um aumento da espessura do músculo cardíaco (a hipertrofia) ao longo do tempo. Isso provoca sintomas de insuficiência cardíaca: dor no peito, arritmias e, em alguns casos, obstruções no fluxo sanguíneo. A morte súbita ocorre por um ritmo cardíaco anormal, principalmente em um momento de grande esforço, como durante a atividade física.
Scuro comenta que dores musculares enquanto se exercita são esperadas. Ela pode aparecer na região das costelas ou no músculo do peitoral. “Mas ter uma dor em aperto, que piora durante o exercício (esforço) e melhora no repouso não é normal”, afirma.
A dica central dos médicos é jamais negligenciar essa dor no peito. “É igual a barulho no motor de carro. Em algum momento a viagem vai ter que parar ou você vai no mecânico antes disso acontecer”, explica Scuro.
Para todos os casos, os especialistas recomendam, principalmente para quem já passou dos 40 anos, passar em consulta de rotina com um cardiologista, que poderá indicar exames que podem avaliar a situação do coração.
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