Os transtornos do neurodesenvolvimento são alterações neurológicas que causam impactos funcionais diversos, como os relacionados à comunicação, linguagem e memória. Dentro desse conceito estão o transtorno do espectro autista (TEA), o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), os transtornos específicos de aprendizagem (TEAp), como a dislexia, além de outros.
Trata-se de um tema complexo, já que cada transtorno tem características próprias e pode levar a diferentes graus de comprometimento. Apesar disso, por muitas vezes terem desdobramentos parecidos, como dificuldades no desempenho escolar, e por poderem coexistir, estes costumam ser confundidos, o que pode levar a diagnósticos errados.
Esse cenário, de acordo com a fonoaudióloga Juliana Amorina, presidente do Instituto ABCD, organização social focada em dislexia, pode trazer prejuízos graves para os pacientes e suas famílias. Além das consequências emocionais, o diagnóstico errado atrasa o emprego das terapias adequadas e, consequentemente, diminui a sua taxa de sucesso.
Nesse sentido, é importante destacar que não se fala em cura para os transtornos do neurodesenvolvimento, pois eles não são considerados doenças. Recomenda-se, portanto, terapias de estimulação do desenvolvimento, que podem reduzir os impactos na vida social, acadêmica e emocional. Como estas são diversas e variam de acordo com o transtorno em questão, é fundamental obter o diagnóstico adequado o quanto antes.
Transtornos específicos de aprendizagem (TEAp)
Segundo Juliana, como grande parte dos transtornos do neurodesenvolvimento que impactam o desempenho escolar, o diagnóstico desse grupo específico é, muitas vezes, confundido com o de outros distúrbios.
De acordo com a especialista, esta é uma categoria específica dentro dos transtornos do neurodesenvolvimento que engloba distúrbios ligados a dificuldades específicas em áreas de aprendizagem, como na leitura (dislexia), na matemática (discalculia) ou na escrita (disortografia).
Diferente dos outros transtornos, os pacientes desse grupo não costumam apresentar dificuldades em aspectos funcionais fora da sala de aula. “Trata-se de uma criança que vai bem em outras áreas de desenvolvimento e em relação à qual normalmente não há expectativas quanto ao desenvolvimento de dificuldades específicas”, descreve.
No TDAH e no TEA, por exemplo, as dificuldades também se manifestam em outros ambientes, como em casa ou durante a prática de algum esporte. “Por isso, nesses casos, é possível que o diagnóstico ocorra antes mesmo do ingresso da criança na escola”, exemplifica.
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TDAH e TEA
Em relação ao TDAH e o TEA, a especialista destaca que, apesar de ambos possivelmente afetarem o desempenho escolar e se manifestarem também fora da escola, cada um deles tem particularidades.
Enquanto no TDAH as principais características são desatenção, impulsividade e hiperatividade, o TEA se manifesta por dificuldade de comunicação, linguagem e tendência ao desenvolvimento de interesses específicos.
Vale destacar que o TDAH e o TEA podem estar presentes na mesma criança. Mas, como nem sempre isso acontece, é importante buscar o diagnóstico caso a caso.
Como evitar um diagnóstico equivocado?
Para isso, de acordo com Juliana, o ideal é ter o apoio de uma equipe com profissionais multidisciplinares, que possam fazer avaliações complementares. Isso pode incluir pediatras, psicólogos, psiquiatras, fonoaudiólogos e neurologistas, por exemplo.
De maneira geral, segundo a especialista, o primeiro passo é buscar um pediatra. Nesta etapa, a especialista orienta os responsáveis a levarem, se possível, um relatório da escola descrevendo as dificuldades que vêm sendo observadas na criança, para dar mais detalhes sobre o caso ao médico.
“Em seguida, possivelmente o médico vai fazer um encaminhamento para um profissional que trabalhe especificamente com a área de maior dificuldade”, pontua.
Ela orienta ainda os cuidadores a ficarem atentos a fake news divulgadas sobre o assunto. “Não existe teste rápido para diagnosticar nenhum transtorno do neurodesenvolvimento”, diz.
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