PUBLICIDADE

Em meio à crise em hospitais federais, governo demite secretário de Atenção Especializada à Saúde

Exoneração de Helvécio Miranda Magalhães foi publicada nesta terça, após reportagem mostrar que ele teria indicado dona de empresa de construção para reuniões em hospital

PUBLICIDADE

Foto do author Fabiana Cambricoli
Atualização:

Em meio à crise nos hospitais federais do Rio, com denúncias de irregularidades e negligência nas unidades, o governo federal demitiu nesta terça-feira, 19, Helvécio Miranda Magalhães Júnior do cargo de secretário da Atenção Especializada à Saúde da pasta.

PUBLICIDADE

A sua exoneração, assinada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi publicada no Diário Oficial da União junto com a já anunciada saída de Alexandre Oliveira Telles do cargo de Diretor do Departamento de Gestão Hospitalar no Estado do Rio de Janeiro, setor subordinado à secretaria até então comandada por Helvécio.

As exonerações ocorrem após uma série de denúncias veiculadas em reportagem do Fantástico, da TV Globo, no domingo, 17, sobre a situação de abandono das seis unidades federais no Rio. O problema se arrasta há anos e inclui medicamentos vencidos, equipamentos novos danificados, leitos fechados e problemas de infraestrutura que colocam em risco as unidades. A reportagem mostrou que, em meio ao cenário de caos e precariedade, pacientes aguardam até dez anos por cirurgias.

Embora o problema na rede de hospitais federais do Rio não seja novo e se arraste por várias gestões do Ministério da Saúde, Helvécio acabou caindo por ter seu nome envolvido na indicação de uma representante de uma empresa de construção civil para reuniões e eventual prestação de serviço nos hospitais.

Helvécio Miranda Magalhães foi exonerado do cargo de secretário de Atenção Especializada à Saúde Foto: Ministério da Saúde/Divulgação

Segundo a reportagem do Fantástico, a mulher não tinha nenhum cargo público, mas se apresentou como enviada pelo secretário para conduzir estudos sobre a estrutura das unidades. Ela já havia sido funcionária da Secretaria de Planejamento e Gestão de Minas Gerais quando Helvécio atuava como titular da pasta mineira. A situação foi denunciada por funcionários ao Ministério Público Federal (MPF).

Helvécio é um quadro antigo do PT. Já foi secretário do Ministério da Saúde durante o governo Dilma Rousseff, de 2011 a 2014, sob gestão do então ministro Alexandre Padilha e de Arthur Chioro. Antes disso, ocupou cargos em mandatos de Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais quando o político foi prefeito de Belo Horizonte e governador do Estado.

Cobrança em reunião ministerial

A crise nos hospitais federais do Rio foi um dos temas pelo qual a ministra da Saúde, Nísia Trindade, foi cobrada na segunda-feira durante reunião ministerial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com relatos feitos à Coluna do Estadão, Lula reforçou sua confiança em Nísia mas disse que ela deveria “trocar quem tiver de trocar” para resolver o problema na capital fluminense.

Publicidade

Ainda de acordo com a coluna, a decisão de Nísia de centralizar os processos de compras das unidades federais do Rio deflagrou uma forte insatisfação no PT, que fez as indicações para os hospitais. Além disso, o Centrão vem, desde o ano passado, pressionando o governo federal pelo cargo da ministra, que comanda o terceiro maior orçamento da Esplanada (R$ 231 bilhões) e vem sendo alvo de insatisfação de parlamentares, que alegam dificuldades no acesso a emendas parlamentares.

O Estadão procurou o Ministério da Saúde para saber quem ocupará o cargo de Helvécio e se será aberta alguma sindicância interna sobre suspeitas de indicação e apadrinhamento política nas unidades federais, mas ainda não recebeu resposta.

Na segunda, quando anunciou a exoneração de Telles do cargo de Diretor do Departamento de Gestão Hospitalar no Estado do Rio de Janeiro, a pasta afirmou, em nota, que a mudança ocorria “diante da necessidade de transformação na gestão do DGH”. “Na última sexta-feira, foi criado um comitê gestor a fim de orientar e praticar atos de gestão relativos aos hospitais federais”, afirmou a pasta.

O ministério disse ainda que “reforça seu compromisso em estabelecer as ações necessárias e empenhar todos os esforços para a reconstrução e fortalecimento dos hospitais federais, para que toda a população do Rio de Janeiro tenha acesso à saúde pública de qualidade”. A pasta informou que, no lugar de Telles, assume Maria Aparecida Braga, atual superintendente do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, que acumulará as duas funções.

PUBLICIDADE

A reportagem não conseguiu contato com Helvécio. Em nota à TV Globo, ele afirmou que enviou a representante da empresa de construção civil porque ela estava no processo de contratação como consultora.

Helvécio é o segundo secretário do Ministério da Saúde exonerado em menos de um mês. No dia 22 de fevereiro, a pasta demitiu Nésio Fernandes do cargo de secretário de Atenção Primária à Saúde. Fontes do governo afirmaram que ele vinha sofrendo pressão de parlamentares quanto à distribuição de verbas da secretaria, mas servidores do ministério disseram que Fernandes estava gerando insatisfação interna por conduzir ações sem alinhamento prévio com a ministra e demais secretários.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.