Depois de superar um relacionamento abusivo, Manuela Xavier usa as redes para ajudar outras mulheres

A psicanalista aborda assuntos que vão do feminismo a psicanálise, os quais surgem como ferramentas para empoderar mulheres e livrá-las da objetificação e submissão

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Por Ana Luiza Antunes
Atualização:

Em um mundo saturado por padrões e narrativas pré-determinadas ao comportamento feminino, Manuela se coloca tal qual um furacão, forte e desobediente aos ditos do patriarcado. “Com a internet eu fui me infiltrando, no sentido da água que vai batendo pelas brechas”, diz. “Eu costumo dizer que o trabalho que faço é construído em coletivo, há um espaço de muitas trocas com pessoas que estão em momentos diferentes da vida.”

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Manuela reviveu sua história em um relacionamento abusivo para escrever seu último livro, destinado a alertar outras mulheres quanto aos sinais. “Se não falamos de relacionamento abusivo vamos continuar empobrecendo as mulheres. A quantas violências institucionais e sociais somos submetidas. Acho que é importante rompermos o silêncio.”

“Sou feliz fazendo o trabalho que faço na internet, porque é como se eu pudesse tirar as vendas dos olhos das mulheres”, descreve a psicanalista Manuela Xavier que, no seu perfil do Instagram, se dedica a despertar a potência feminina que existe em cada uma de nós. Foi por intermédio de seus conteúdos sobre feminismo e psicanálise que Manuela já atingiu mais de 400 mil seguidores na rede social, transmitindo autoconhecimento ao democratizar a informação e trazer uma visão crítica sobre a realidade das mulheres.

Engajada e politizada, Manuela se apropria de seus espaços e abre caminhos para outras mulheres que, assim como ela, possuem a força do próprio desejo para alcançar lugares tidos como limitados. “Ao longo do caminho fui me sentindo mais convocada a alcançar mais pessoas, porque entendi que existia uma narrativa dominante, que quer colocar a gente nesse lugar de submissão, de objetificação e de um lugar menor”, destaca.

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Com o público majoritariamente feminino, a interrogação que se apresenta à maioria das mulheres nas conversas com Manuela diz respeito aos relacionamentos. E é partir dessas angústias transmitidas por seu público que a psicanalista traz reflexões importantes sobre as origens de suas inseguranças e seus medos, sensações que acompanham as mulheres ao longo da vida.

“A grande queixa é a insegurança e a baixa autoestima, vinculadas ao medo do abandono, ao medo da rejeição e do fracasso. Há muitos relatos também de ‘síndrome da impostora’, mas eles são apresentados de muitas formas, muito ancorados na questão dos relacionamentos – e isso vai fazendo a mulher se sentir insegura para seguir sozinha o caminho em que acredita.”

Acolhimento

Durante a pandemia, o número de casos de violência doméstica aumentou – muitas mulheres tiveram de conviver num mesmo espaço com seus agressores. Ao identificar essas notificações, e a fim de oferecer apoio gratuito e acessível às vítimas, Manuela criou os projetos Escuta Ética e Nós, Seguras!, coletivos que ofertam atendimento psicológico e jurídico às vítimas de violência doméstica e vulnerabilidade social. Em 2021, foram mais de mil mulheres atendidas. Os coletivos também atuam em regime de plantão em datas comemorativas e feriados.

”Isso veio de uma urgência mesmo. Pensei que nós precisávamos de algum lugar de acolhimento, de prática”, afirma. “A mulher pode ter acesso a um lugar em que poderá contactar uma advogada e também ter acesso a uma psicóloga que vai atendê-la e poder trabalhar esses traumas e essas dores. Todas essas vias servem para liberar cada mulher de um lugar em que esteja capturada. Então, meu trabalho na internet é muito pensado em quem são as pessoas que precisam.”

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As mulheres pensam que é um problema delas, como a dependência emocional. Não, você não tem. Dependência emocional é algo implantado nas mulheres

Manuela Xavier, psicanalista

Autoconhecimento

Por meio das leituras dirigidas de livros como Mulheres Que Correm com os Lobos e Complexo de Cinderela, a psicanalista traduz conceitos importantes que as mulheres podem levar para a vida prática e, dessa forma, modificar a forma como enxergam as próprias questões. “As mulheres pensam que é um problema delas, como a dependência emocional. Não, você não tem. Dependência emocional é algo implantado nas mulheres. Se fosse de todos, por que os homens não têm? Algum babado tem aí.”

Dessa maneira, a partir do entretenimento, Manuela ressalta a importância de trazer conteúdos leves e divertidos sobre temas complexos. “Fui adaptando meu conteúdo de modo que ele pudesse ser claro, porque comecei a ter esse incômodo também na universidade. Na psicanálise há conceitos muito complexos. Como você diz isso para uma pessoa que não estuda esse assunto?”

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