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Engasgo pode matar? Entenda riscos do caso da influencer Belly Palma e saiba como prestar socorro

Pessoas com doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson, têm mais propensão a sofrer com esses tipos de episódios que podem ser fatais

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Por Caio Possati
Atualização:

Por conta de um engasgo sofrido sexta-feira passada, 26, a influenciadora e ativista Izabelly Palma, conhecida como Belly Palma, sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu na última segunda, 29, depois de constatada a sua morte cerebral. Ela tinha 29 anos e usava as redes sociais para divulgar um trabalho de moda inclusiva voltado para pessoas com deficiência, grupo ao qual a influencer pertencia. Ela usava cadeira de rodas por ter nascido com mielomeningocele, uma doença que leva a uma má formação na medula espinhal.

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Mas por que um engasgo pode levar uma pessoa à morte, e o que é necessário fazer para evitar esse tipo de situação? Saber socorrer quem está engasgando pode ser fundamental para evitar a perda de uma vida.

O engasgo pode, sim, ser fatal, já que tem capacidade de provocar a obstrução completa da via aérea e a perda total da capacidade de respirar. Quando isso acontece, órgãos como o coração e o cérebro deixam de receber oxigênio e, a depender do tempo que ficam sem oxigenação, o paciente pode ter uma parada cardiorrespiratória e a morte cerebral por asfixia, como aconteceu com Belly Palma.

Se ocorrer obstrução total das vias aéreas, os engasgos podem ser fatais Foto: Getty Images/iStockphoto

“O primeiro fenômeno que acontece é a parada respiratória, ou seja, parar de respirar por obstrução das vias aéreas. Isso leva a queda de oxigenação no cérebro e no resto do corpo, inclusive o coração. Com isso, o coração para e provoca uma parada cardíaca”, explica a médica Caroline Reigada, especialista em medicina intensiva.

O engasgo ocorre quando algum alimento ou líquido deglutido sai do esôfago, que pertence ao sistema digestivo, e entra na traqueia, um órgão do sistema respiratório. Para isso não acontecer, existe a epiglote, uma válvula que se fecha quando é realizado ato de engolir e se abre quando há a respiração.

“No esôfago só é permitida a passagem de alimento, enquanto na traquéia só se pode entrar ar. Ambos compartilham a faringe. Então, é necessário ter um jeito para que não haja uma comunicação entre os dois sistemas. E é a epiglote que faz esse bloqueio para impedir que o alimento entre no sistema aéreo”, diz Caroline.

Quando um alimento ou líquido escapa do esôfago e cai na traquéia, o corpo reage com a tosse, uma defesa do organismo para expulsar os corpos estranhos que não deveriam estar naquele espaço. “A tosse é o principal mecanismo de proteção das nossas vias aéreas”, destaca a médica.

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Pacientes com doenças neurológicas têm mais riscos de engasgar

Como o funcionamento da deglutição e da epiglote, como também o ato de tossir, é controlado pelo sistema nervoso (cérebro), os grupos mais propensos a ter engasgos, de acordo com a médica, são justamente aqueles que apresentam doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson, ou neuromusculares, como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA).

Mas a disfagia, que é a dificuldade para engolir, também pode ser uma realidade para os que têm ou tiveram câncer de faringe ou laringe, e os que são vítimas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Esses grupos também podem ter mais chances de ter um episódio de engasgo, menciona Caroline Reigada.

A especialista alerta, contudo, que o engasgo não é fruto apenas de uma condição clínica. “Comer muito depressa ou realizar um determinado movimento do pescoço quando estiver engolindo podem levar a um funcionamento inadequado da epiglote e, com isso, causar o engasgo.”

Ela diz que não é possível, em princípio, estabelecer uma relação entre a mielomeningocele, condição enfrentada por Belly Palma, e o engasgo que vitimou a influencer, embora considere que o fato da ativista ser cadeirante pode ter influenciado na maneira em que foram realizados os primeiros socorros.

A mielomeningocele também é uma doença neurológica. Porém, explica Caroline, é um defeito da coluna que ocorre nas porções finais da medula espinhal, nas regiões lombar e sacral, e que inerva os membros inferiores, ou órgãos como a bexiga. “Então não tem, necessariamente, associação com a parte de deglutição. Poderia ter relação se a mielomeningocele fosse um pouco mais acima”, diz.

Como ajudar alguém que sofre um engasgo?

Ajudar uma pessoa que está engasgando pode ser feito por meio de uma sequência de passos, segundo a médica Caroline Reigada, especialista em medicina intensiva.

1º passo: Pedir ajuda para terceiros

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O primeiro passo é pedir ajuda para pessoas que estiverem por perto. As manobras indicadas para desengasgar precisam ser feitas com força.

2º passo: Pedir para a pessoa tossir

Pedir para tossir é importante para descobrir se a obstrução da via aérea é total ou parcial. Se a pessoa não conseguir, é sinal de que o engasgo é total e que a via está completamente fechada. Logo, o indivíduo não consegue respirar.

“Se está meio obstruído, a pessoa ainda consegue tossir. E, se está tossindo, é sinal de que ela está tentando eliminar o corpo estranho da via aérea”, explica Caroline. Caso contrário, além de não conseguir respirar, a pessoa também não consegue falar, fica com a pele arroxeada e corre o risco de ficar inconsciente.

3º passo: Realizar cinco batidas nas costas

No caso de obstrução completa, a recomendação é realizar uma manobra que consiste em dar cinco batidas com a mão espalmada no centro das costas do engasgado para tentar eliminar o corpo estranho que obstrui a via aérea. Enquanto aplica as batidas, a outra deve ser colocada no peito da pessoa para segurá-la e impedi-la de cair com o impacto dos golpes.

4º passo: Realizar a manobra de Heimlich

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Para executar a manobra de Heimlich, é necessário abraçar a pessoa por trás; posicionar a o punho da mão dominante (a que tem mais força) na altura da boca do estômago do paciente e de forma cerrada (fechada, como se fosse dar um soco). A outra mão deve segurar a dominante. Montada a posição dos braços, a manobra deve ser feita com movimentos fortes e com o sentido para cima, como se fosse levantar o paciente.

A manobra de Heimlich não é recomendável para bebês com menos de um ano de idade e gestantes. Para bebês, é necessário apoiá-lo de costas para cima e com a barriga sobre o antebraço de quem está socorrendo. Posicionado o pequeno, o próximo passo é dar tapas nas costas para eliminar o que está obstruindo.

5º passo: ligar para a emergência

Se a manobra de Heimlich não funcionar, é necessário acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Enquanto o Samu não chega, é importante continuar fazendo o Heimlich”, alerta a médica. Porém, se a pessoa parar de respirar, é necessário fazer a reanimação cardiopulmonar, com cinco compressões torácicas para cada duas respirações boca-boca até a chegada do atendimento.

E se eu engasgar e estiver sozinho?

Nessas situações, é possível praticar a manobra do auto Heimlich utilizando algum objeto firme, como a parte de cima do assento de uma cadeira, para fazer o papel das mãos. Depois de posicionar o objeto na altura da boca do estômago, forçá-lo de forma a empurrar o tronco do corpo para cima.

Confira algumas dicas que podem ajudar a evitar o engasgo:

  • Se alimentar com calma e prestar atenção na deglutição
  • Não falar quando está comendo
  • Mastigar bem para deixar os pedaços de alimentos em tamanhos pequenos
  • Preservar a saúde bucal e dentária para conseguir mastigar de forma adequada
  • Para bebês, não deita-los logo depois da amamentação. Mantê-los em posição vertical e fazê-los arrotar
  • Para crianças pequenas e idosos com dificuldade para mastigar, oferecer os alimentos cortados em tamanhos pequenos
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