Entidades pedem inclusão da liraglutida para tratamento da obesidade no SUS

Associações também solicitam à Conitec que reconsidere a incorporação da sibutramina

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Por Gabriel Damasceno
Atualização:

Dois medicamentos para o tratamento da obesidade foram submetidos à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) para serem disponibilizados de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS): a liraglutida e a sibutramina. No Brasil, existem cinco medicamentos aprovados para o combate à doença, mas nenhum deles é oferecido na rede pública.

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Os pedidos de análise foram apresentados pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), com o apoio da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Segundo Maria Edna de Melo, coordenadora da Comissão de Advocacy da Abeso e integrante da SBEM, a inclusão dos medicamentos no SUS amenizaria a inequidade existente no tratamento da obesidade no Brasil. “O SUS oferece consulta com nutricionista, mas às vezes as pessoas nem isso conseguem. Algumas vezes, a pessoa tem indicação de cirurgia, mas não consegue entrar na fila. Quem está fora do SUS e tem dinheiro compra a sibutramina, a liraglutida ou outra medicação”, destaca.

Obesidade é um problema que preocupa cada vez mais no Brasil. Para especialistas, o tratamento no SUS precisa melhorar. Foto: New Africa/Adobe Stock

A escolha dos medicamentos considerou o custo-efetividade e o impacto orçamentário da inclusão na rede pública. De acordo com levantamento da Abeso, a incorporação da sibutramina teria um custo anual de R$ 287,16 por paciente e a da liraglutida, R$ 7.390. A semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy, não foi avaliada em virtude do seu custo elevado.

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Segundo a Abeso, a análise da liraglutida está em andamento. Já a avaliação da sibutramina foi negada — a Conitec justificou que já analisara o medicamento em 2019 — e foi apresentado um pedido de reconsideração reforçando que a nova proposta exclui pacientes com diabetes tipo 2, hipertensão arterial ou doença cardiovascular.

No novo pedido, a sibutramina seria indicada para pacientes com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 kg/m², desde que sem essas enfermidades. A medicação, diz Maria Edna, ajuda a reduzir a fome. Com isso, o paciente come menos e faz melhores escolhas alimentares.

Já a liraglutida seria indicada para o tratamento da obesidade em estágios mais avançados, quando a pessoa possui outras doenças associadas, como diabetes e problemas cardiovasculares. A molécula se assemelha a um hormônio produzido no intestino e vinculado à sensação de saciedade, afirma a endocrinologista. Também tem ação no sistema nervoso central, reduzindo a fome.

Obesidade no Brasil

De acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2021, a prevalência de obesidade na população brasileira é de 22,4%.

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Como mostrou o Estadão, a doença está associada a diversos problemas de saúde, podendo afetar do sistema nervoso central aos órgãos reprodutores. “A obesidade interfere em vários sistemas do nosso corpo”, destaca Maria Edna.

Segundo a endocrinologista, além do impacto nos índices de saúde, a aprovação dos medicamentos poderia reduzir custos no próprio SUS — uma pesquisa conduzida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que o sobrepeso e a obesidade custam ao sistema público ao menos R$ 1,5 bilhão por ano.

“Pacientes com obesidade, principalmente em casos mais graves, vão precisar de mais consultas médicas e terão que faltar mais ao trabalho”, exemplifica. “A doença gera impactos nos custos da saúde, nos custos sociais, além de reduzir a expectativa de vida.”