RIO - O Rio registrou 31.600 casos de dengue até 29 de março - o dobro dos casos registrados no mesmo período do ano passado. Uma pessoa morreu. Foram notificados 3 mil novos casos suspeitos em uma semana. No ano inteiro de 2015, houve 71.791 registros de dengue e 23 mortes. O boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde não atualiza os números de casos de zika e chikungunya. Até 22 de março, houve 4.289 casos de zika e 235 de chikungunya, dos quais 26 confirmados. Isso ocorre porque os municípios não informaram os novos casos à Secretaria de Estado de Saúde.
Já se considera que o Rio enfrenta surto de chikungunya, apesar de os números serem menores que os de dengue e zika. De acordo com o subsecretário de Vigilância em Saúde, Alexandre Chieppe, o aumento de casos de transmissão autóctone (dentro do próprio território) e acima do esperado já se configura surto. Em 2015, não houve casos de chikungunya confirmados no Rio. “Mas estamos longe de um cenário epidêmico de chikungunya”, ressaltou. Na capital, foram registrados 52 dos 235 casos. Também houve notificações na Baixada Fluminense e na Região Metropolitana.
O cirurgião cardíaco Paulo Samuel Santos Filho, de 72 anos, acompanhou de perto o aumento de casos de chikungunya no Rio. Morador do Jardim Botânico, na zona sul, em fevereiro ele tratou da nora, da mulher e do neto, de 15 anos, que apresentaram sintomas da virose - febre, dores nas articulações, vermelhidão, pés e mãos inchados. No fim daquele mês, Santos Filho adoeceu. E sofre com os sintomas há 40 dias. “Logo no primeiro dia de sintoma, com muita dor articular, o hemograma mostrou várias alterações. As plaquetas estavam em 90 mil, quando o normal é acima de 150 mil. Dois indicadores de processo inflamatório estavam muito acima: a proteína C Reativa estava em 14,4, quando o ideal é até 0,5; e o VHS (velocidade de hemossedimentação) foi a 50, quando não deveria passar de 12”, contou o médico, que ficou internado por 11 dias.
No segundo dia de internação, já não conseguia andar ou segurar talheres. Os pés e as mãos ficaram completamente inchados. “Era impossível andar. Eu sentia dor nos joelhos, quadris, tornozelos e articulações dos pés. Eu me sentia muito fraco. As enzimas hepáticas também ficaram alteradas e eu não podia tomar anti-inflamatórios, que aliviariam esses sintomas”, contou.
Antes da chikungunya, Santos Filho mantinha rotina de exercícios: caminhava 5 quilômetros ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas e fazia musculação. Atualmente, não consegue caminhar na piscina do condomínio em que mora sem sentir muito cansaço. “É uma doença devastadora. Dizem que depois desaparecem todos os sintomas. Não desejo para o pior inimigo”, afirmou o médico.
Com a circulação dos três vírus no Rio, Chieppe ressalta a importância de se eliminar criadouros do mosquito Aedes aegypti e de reforçar as medidas de proteção, como uso de repelentes.
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