Envelhecimento da população vai disparar casos de câncer de próstata; como proteger os brasileiros?

Levantamento global aponta que, até 2040, casos devem dobrar e número de mortes aumentará 85%; especialistas avaliam como evitar o cenário

Por Gabriel Damasceno, especial para o Estadão

A incidência global do câncer de próstata deve dobrar até 2040. Os números devem saltar de 1,4 milhão, registrados em 2020, para 2,9 milhões, de acordo com uma pesquisa publicada na revista The Lancet. O número de mortes, além disso, deve ter um aumento de 85%. Os registros devem chegar a cerca de 700 mil óbitos. “O aumento dos casos ocorre porque a população está envelhecendo”, explica Nick James, um dos autores da análise, em entrevista ao Estadão. “Nos próximos anos, haverá mais homens com mais de 60 ou 70 anos”, acrescenta ele, que é professor do Instituto de Pesquisa sobre Câncer (ICR), da Inglaterra.

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“Diferente do câncer de pulmão, cujo número de casos pode cair ao desencorajarmos o ato de fumar, o aumento nos registros de câncer de próstata é reflexo de um bom sistema de saúde para os jovens”, adiciona.

Por conta da situação, o professor entende que o sistema público de saúde deve passar por mudanças para acompanhar o envelhecimento populacional. “O Brasil tem um sistema que é bastante focado na vacinação de crianças e na saúde materna, que são muito importantes. Mas, com uma população mais velha, vocês terão que se planejar para mudar a estrutura do sistema para que ele atenda essas outras questões”, analisa.

Quando identificado em estágio inicial, câncer de próstata tem alta chance de cura. Foto: Peakstock/Adobe Stock

Foco no diagnóstico precoce

Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), 71.730 novos casos da doença devem ser registrados no País até o fim de 2024. O número representa 196 casos por dia. “Mais importante que os mais de 70 mil novos casos, é a estimativa de 16 mil mortes até o fim do ano. A cada 34 minutos, morre um homem por câncer de próstata no Brasil”, ressalta o médico Franz Campos, chefe do setor de Urologia do Inca.

Diante dos dados, Campos destaca a importância do diagnóstico precoce. O ideal, de acordo com ele, é que a população comece a realizar os exames a partir dos 50 anos. “Quanto mais cedo você descobrir, melhor a chance de você curar. No estágio inicial, é possível curar praticamente 90% dos casos”.

Em 2023, o Brasil registrou 17.093 óbitos por conta da doença, de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. O número corresponde a 47 mortes por dia.

Para tentar frear o avanço dos casos, o Inca tem a ideia de criar seis Centros Regionais de Diagnósticos do Câncer de Próstata espalhados pelo Brasil. No momento, o serviço existe apenas no Rio de Janeiro. “A centralização do diagnóstico é uma das armas mais potentes que a gente pode ter para começar a rastrear e identificar melhor os pacientes. Se você tem um centro que faz um diagnóstico correto, com uma equipe treinada, você sai na frente”, pontua Campos.

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Onde dá para melhorar

James também entende que novas tecnologias, como a própria inteligência artificial, podem ajudar no diagnóstico precoce. Os sistemas poderiam auxiliar em situações de déficit de profissionais de saúde, por exemplo, em especial nos países de baixa renda. “Você ainda precisa ter médicos presentes no processo para checar as coisas, mas daria para processar os casos com uma velocidade muito maior”.

Na pesquisa, ele e seus colegas ainda chamam a atenção para a importância de mais estudos sobre a ocorrência da doença em diferentes etnias. Grande parte das pesquisas atuais, segundo o autor, são baseadas na população da Europa, mas a incidência do câncer de próstata na população de origem africana é quase o dobro da europeia, conforme a pesquisa.

Em países como o Brasil, com uma grande diversidade étnica, a questão se torna fundamental. Segundo James, já se sabe que o câncer de próstata se comporta de forma diferente em homens negros e brancos – e isso pode ter impacto no tratamento, por exemplo.

Não espere sintomas

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, segundo o Ministério da Saúde. “O grande problema da doença é que, em uma fase inicial, ela não dá praticamente sintoma nenhum”, alerta Luiz Otavio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

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Os sintomas costumam aparecer apenas nas fases mais avançadas, quando o câncer começa a se espalhar. Ao ir para os ossos, por exemplo, dores começam a aparecer. “Então, a gente tem que ter cuidado porque os sintomas, em geral, estão relacionados a tumores mais avançados”, destaca Torres.

Em fases mais avançadas, podem surgir:

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Tratamento

O tratamento depende do estágio em que a doença é descoberta, da saúde geral do paciente e de outros fatores individuais.

Nos estágios iniciais, quando o câncer não se espalhou para outras partes do corpo, as opções incluem a prostatectomia radical — a remoção cirúrgica da próstata — ou a radioterapia. Entre janeiro de 2019 e agosto de 2024, foram realizadas 18.315 prostatectomias em oncologia e 28.756 prostatovesiculectomias — cirurgias para retirar a próstata, tecidos circundantes e vesículas seminais. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) do Ministério da Saúde.

Outra possibilidade é apostar na vigilância ativa, baseada no monitoramento do câncer de perto, com exames regulares. Essa opção de tratamento costuma ser indicada quando o tumor está em estágios muito iniciais ou é de baixo risco.

Para casos mais evoluídos, existe a possibilidade de recorrer a tratamentos hormonais, que buscam reduzir os níveis de testosterona, hormônio que alimenta o crescimento do câncer de próstata. A quimioterapia também pode ser indicada, especialmente se o câncer se espalhou para outras partes do corpo.

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