Escola leva sorvete para aliviar os efeitos da quimioterapia em pacientes com câncer

Parceria entre um professor aposentado e um chef oferece sobremesa para atendidos pelo SUS

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Por Ana Luiza Antunes

ESPECIAL PARA O ESTADÃO – Ao trazer bem-estar, o sorvete provoca diferentes estímulos, dentre eles a liberação da serotonina, hormônio da felicidade. Na sala de tratamento no Instituto do Câncer Doutor Arnaldo, associação sem fins lucrativos de São Paulo, tais benefícios ultrapassam os efeitos físicos. Isso porque, semanalmente, de 500 a mil pacientes em tratamento contra o câncer, todos atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS), recebem a sobremesa como auxílio na recuperação da quimioterapia.

“(Há essa) sensação de alegria ao receber um sorvete quando estamos atravessando um problema de saúde”, disse Rosinei Juliani Bueno, de 54 anos, uma das pacientes que fizeram parte do grupo que ganhava os picolés. “Nós recebíamos todos juntos e ficávamos ansiosos, perguntando que horas receberíamos o sorvete. Nos sentimos muito felizes em ser mimados, sem contar que refresca muito.”

Picolés de limão são distribuídos no Instituto do Câncer Doutor Arnaldo, unidade dentro do complexo da Santa Casa Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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A ideia de oferecer picolés aos pacientes partiu do professor de Biologia aposentado Pedro Costa Neto, que se inspirou no caso de uma irmã que teve câncer no ovário. A iniciativa deu certo graças à parceria com o amigo e chef Francisco Sant’Ana, proprietário da Escola Sorvete. “Toda vez que terminava a quimioterapia, ela (irmã de Costa Neto) se sentia muito mal e a única coisa que ela conseguia ingerir era picolé de limão”, recordou.

“Propusemos para o Francisco: ele faria o picolé a preço de custo, nós pagaríamos esse valor e ele desenvolveria um picolé de limão para o pessoal”, disse o professor. “Nós fazemos uma média de mil a 1.500 picolés toda semana. O Pedro coordena, compra os ingredientes e a mão de obra nós que fazemos aqui”, afirmou o chef.

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Pacientes saboreiam sorvete de limão durante tratamento; sabor alivia gosto amargo da medicação e dores bucais Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“O sorvete é único, saboroso e tem uma receita com ingredientes naturais, desenvolvida para o paciente oncológico em tratamento”, disse o presidente voluntário do instituto, Davi Costa.

“Pegamos uma população que não tem condições de comprar um sorvete. Para você ter ideia, quando eles passam muito mal, chupam gelo”, disse o professor. “Pensamos em ajudar na recuperação e damos um prazer, um mimo”, ressaltou Sant’Ana.

Segundo o chef, os picolés são feitos sem adição de açúcar. “Desenvolvi uma fórmula específica para eles, que contém fibra e quase nada de açúcar. Não usamos corantes ou adoçantes.”

Durante a quimioterapia, um dos efeitos colaterais são o ressecamento da mucosa oral e feridas na boca. O sorvete alivia o desconforto e a acidez da fruta ajuda em casos de enjoos. “Achei ótima ideia oferecerem esse sorvete maravilhoso de limão. Me ajudou nos sintomas de mucosite e no alívio do gosto amargo”, disse Rosinei. Ela começou o tratamento contra um câncer de ovário, bexiga e intestino em dezembro do ano passado. Há uma semana, bateu o sino e comemorou mais uma vitória conquistada.

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