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Estresse crônico aumenta o risco de Alzheimer, aponta estudo; saiba como se proteger

Depressão também foi considerada fator de risco importante para a doença que afeta a memória; entenda a associação entre os quadros

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Por Rebeca Freitas

Um estudo divulgado no periódico Alzheimer’s Research & Therapy revela que pessoas com estresse crônico e depressão têm maior risco de desenvolver quadros como comprometimento cognitivo leve (CCL) ou até mesmo Alzheimer. Segundo a pesquisa, pacientes afetados por um dos transtornos mentais têm mais que o dobro de probabilidade de receber o diagnóstico de Alzheimer em comparação com aqueles livres desses distúrbios. Para os que sofrem de ambas as condições, o risco de enfrentar a doença que abala a memória seria até quatro vezes maior.

Publicada no fim de 2023, a análise foi realizada com cerca de 1,3 milhão de homens e mulheres entre 18 e 65 anos, em Estocolmo, Suécia. Os pesquisadores levantaram registros de estresse crônico e depressão nessa população entre 2012 e 2013. Em seguida, coletaram dados de diagnóstico de Alzheimer, CCL ou outras formas de demência entre esse grupo no período de 2014 a 2022.

Segundo estudo, estresse e depressão aumentam o risco de Alzheimer. Foto: Vitalii Vodolazskyi/Adobe Stock

Qual a relação entre estresse crônico, depressão e Alzheimer?

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De acordo com o neurologista Paulo Bertolucci, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tanto o estresse crônico como a depressão são situações capazes de aumentar os níveis de cortisol no organismo. O excesso da substância, conhecida como hormônio do estresse, contribui para uma maior atividade inflamatória no corpo inteiro, inclusive no cérebro. A inflamação na área, por sua vez, favorece a chamada degeneração neuronal, ou seja, a perda de neurônios. “Especialmente no hipocampo, área do cérebro crucial para a memória”, descreve o médico, responsável pelo Núcleo de Ensino e Pesquisa em Envelhecimento Cerebral (NUDEC).

Mas o psiquiatra Alexandre Valverde salienta que a presença de cortisol no corpo não deve ser encarada como um marcador específico para depressão nem para Alzheimer, já que esse hormônio pode aumentar em várias outras circunstâncias.

Já a possível relação entre depressão e Alzheimer não é tão bem compreendida pela ciência, mas também pode ter a ver com uma produção exacerbada de cortisol. Outras hipóteses envolvem uma redução no contato social e um menor engajamento em relação a hábitos saudáveis.

Valverde pondera que é importante, no entanto, distinguir a depressão como fator de risco e como sintoma inicial. “Uma das hipóteses levantadas pelo próprio estudo é que, em alguns casos, a depressão pode ser uma manifestação inicial do Alzheimer, aparecendo cerca de 20 anos antes do desenvolvimento pleno da doença”, sinaliza o psiquiatra.

Quando o estresse preocupa

O estresse é comum no dia a dia de muitas pessoas e pode ser disparado por inúmeros motivos. Quando há uma situação tensa no trabalho, por exemplo, é normal que ocorra a ativação de mecanismos fisiológicos e comportamentais. Mas é preciso entender quando o quadro deixa de ser pontual.

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De acordo com o psiquiatra Orestes Forlenza, professor da Universidade de São Paulo (USP), o problema é considerado crônico quando os sintomas são exacerbados e contínuos ou acontecem na ausência de estímulos reais de ameaça. Vale lembrar que o quadro pode evoluir para outros transtornos, como ansiedade e até burnout.

Segundo Valverde, várias táticas podem contribuir para mitigar riscos de desenvolvimento de estresse crônico, incluindo alternativas não medicamentosas, como cuidados com sono, manutenção de uma alimentação saudável, prática regular de atividade física e redução da exposição a fatores estressores.

“Além disso, políticas públicas que melhorem o ambiente de trabalho e as relações sociais podem ajudar a manter a saúde da população. Quando as leis e condições de trabalho são precarizadas, isso gera um ambiente (propício) de estresse crônico entre trabalhadores”, acrescenta o especialista.

Como é o diagnóstico de Alzheimer?

O diagnóstico de Alzheimer ainda é complexo, pois não depende de um único fator. O passo inicial sempre depende da reclamação do paciente ou de quem convive com ele sobre sintomas, como falhas na memória. A partir daí, o médico vai aplicar testes neuropsicológicos para avaliar se há declínio cognitivo em comparação com indivíduos de mesma idade e escolaridade.

“É necessário uma avaliação clínica detalhada, com apoio de exames de imagem, como uma ressonância”, enfatiza Bertolucci. O médico também pode solicitar exames de biomarcadores – elementos presentes no organismo capazes de sugerir a ocorrência de uma doença.

O diagnóstico precoce é fundamental para dar início ao tratamento. Embora ele não seja capaz de reverter a demência, pode retardar o seu avanço e minimizar os sintomas cognitivos e comportamentais.

Prevenção

É importante ressaltar que existe prevenção para o Alzheimer. Entre as medidas destacadas pelos médicos estão prática regular de exercícios físicos, atividade intelectual e socialização.

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Recentemente, uma comissão de especialistas reunidos pela revista científica The Lancet analisou as melhores e mais atualizadas evidências científicas sobre o assunto e atualizou uma lista com fatores de risco modificáveis para a demência, chegando a 14 itens. A publicação aponta que 45% dos casos da doença no mundo poderiam ser evitados com a mudança desses hábitos ou condições de saúde. Em reportagem publicada pelo Estadão, descrevemos cada fator de risco.

“Assim como outros fatores, como perda auditiva, diabetes, hipertensão, apneia do sono ou consumo de ultraprocessados, a depressão e o estresse crônico são apenas parte de um espectro mais amplo de ameaças”, avalia Bertolucci.

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