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Estresse e fibromialgia: entenda como a mente interfere na doença, que causa dores pelo corpo

Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que inclui a condição no rol de deficiências

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Foto do author Victória  Ribeiro

A Câmara dos Deputados aprovou nesta semana o projeto de lei que institui a Política Nacional de Direitos da Pessoa com Fibromialgia, incluindo a doença no rol de deficiências. A proposta segue agora para análise do Senado.

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Entre outros pontos, o projeto estipula o atendimento multidisciplinar e o estímulo à pesquisa científica sobre a condição, que, apesar de ter sido descrita pela primeira vez por volta de 1904, ainda é cercada por dúvidas.

As causas da fibromialgia, por exemplo, seguem sendo motivo de investigação, com estudos recentes apontando que a relação entre mente e corpo, muitas vezes subestimada, pode ter uma forte influência no desenvolvimento e piora da condição, especialmente por meio do estresse.

De acordo com o reumatologista José Eduardo Martinez, para entender a relação entre estresse e fibromialgia é importante compreender que o estresse – reação natural do organismo que ocorre quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça – provoca uma série de alterações no corpo, resultando em esgotamento seguido de recuperação. No entanto, em pessoas com fibromialgia, o processo nem sempre funciona dessa forma.

“Para esses pacientes, a recuperação é limitada, e os exames revelam sinais de estresse contínuo, com alterações no sistema nervoso autônomo, hormônios e outros indicadores”, destaca o médico, que é membro da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles, da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

O diagnóstico da fibromialgia, doença que provoca dores pelo corpo, ainda é um desafio nos consultórios. Foto: Graphicroyalty/Adobe Stock

O principal ponto nisso é que os mecanismos biológicos que regulam o estresse, que pode se expressar por meio de sintomas como desânimo, insônia, angústia e problemas de concentração, também afetam a percepção da dor. Assim, pacientes com fibromialgia, que frequentemente têm um histórico de exposição prolongada a esse tipo de estado físico e psicológico, podem experienciar dores mais constantes.

“As situações cotidianas podem, facilmente, ativar os mecanismos de estresse, o que contribui para o desenvolvimento e agravamento da fibromialgia. Isso estabelece uma conexão clara entre estresse e a condição”, afirma o especialista.

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Abordar o tema, na visão de Martinez, é importante, já que estamos cada vez mais expostos a níveis crescentes de estresse. No entanto, é importante destacar que nem todas as situações estressantes resultam no desenvolvimento da fibromialgia, que frequentemente está ligada a uma predisposição genética.

“Todos nós enfrentamos fatores estressores. Hoje, lidamos com uma sobrecarga de informações que gera um estresse adicional que não existia antes. Contudo, isso não significa que qualquer pessoa pode desenvolver fibromialgia, mas sim que aqueles com predisposição podem estar mais suscetíveis a gatilhos que desencadeiam a condição”.

A relação entre mente e corpo, porém, vai além do estresse. Segundo o médico, a fibromialgia, que se manifesta por meio de dores persistentes mesmo na ausência de esforço físico e impacta significativamente as atividades cotidianas, também está fortemente ligada ao desenvolvimento de ansiedade e depressão. “Uma coisa acaba puxando a outra. Os episódios de dores são exaustivos, então é comum que as pessoas desenvolvam quadros ainda piores”, diz.

Diagnóstico

Embora a condição seja caracterizada por dor generalizada, o diagnóstico nem sempre é fácil porque muitas doenças têm a dor crônica como sintoma. Ao mesmo tempo, não existe nenhum exame específico para detectar a fibromialgia.

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O caminho até o diagnóstico geralmente é exaustivo e baseado em descartar outras possíveis doenças, incluindo hipo e hipertireoidismo, diabetes, doenças inflamatórias musculares e neurológicas, o que frequentemente requer exames de sangue, ultrassom, ressonância e tomografia.

Além disso, para o diagnóstico correto, deve-se analisar a história do paciente e a presença de fatores complementares, como distúrbios do sono, dores de cabeça e constipação.

Conforme relatam pessoas diagnosticadas com a condição, as dores geralmente duram vários dias, com episódios que variam de intensidade e localização. Justamente por essas variações, o relato pode ser subestimado, seja por pessoas próximas ou até mesmo por especialistas.

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Tratamento

Martinez afirma que, além dos tratamentos medicamentosos, que devem ser prescritos a partir de uma avaliação médica, de preferência multiprofissional, os exercícios físicos podem ser grandes aliados.

O médico conta que, devido à dor, muitos pacientes tendem a evitar atividade física por receio de que os sintomas piorem. Mas, se no curto prazo os exercícios podem causar algum desconforto, no longo prazo eles são benéficos tanto para a fibromialgia quanto para a gestão do estresse.

“Nesse caso, estamos falando de exercícios de intensidade baixa, leve, porém frequentes. É um processo que as pessoas devem ir moldando às suas capacidades”, orienta.

Ele ressalta ainda a importância da psicoterapia para pacientes com um componente emocional mais significativo, como ansiedade e depressão. Entre as linhas possíveis, a terapia cognitiva-comportamental é uma das abordagens mais estudadas no caso da fibromialgia, diz o médico.

Por fim, os hobbies também são importantes para aqueles que convivem com a condição. “Todos nós precisamos de momentos de escape para os problemas do dia a dia. Ter um hobby com certeza é válido, independentemente de ter fibromialgia ou não.”

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