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Estudo associa uso de substância do Ozempic a maior risco de doença ocular que pode levar à cegueira

Condição afeta o nervo óptico, mas é rara, e estudo tem limitações; Novo Nordisk afirma que dados não são suficientes para comprovar uma relação de causa e consequência

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Por Bárbara Giovani

Um novo estudo identificou uma relação entre o uso de semaglutida, ativo dos medicamentos Ozempic e Wegovy, e um risco aumentado de desenvolver neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), uma doença ocular rara que atinge o nervo óptico e pode levar à cegueira. No entanto, como este foi um estudo observacional, mais pesquisas são necessárias para confirmar a relação de causalidade.

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A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores do Mass Eye and Ear, hospital-escola da Universidade Harvard com foco na saúde ocular, do ouvido, nariz, garganta, cabeça e pescoço. Os resultados foram publicados na revista científica JAMA Ophthalmology, renomada publicação da especialidade de oftalmologia.

A Novo Nordisk, farmacêutica fabricante do Ozempic e do Wegovy, foi procurada pelo Estadão para comentar o estudo, mas não se pronunciou até a publicação desta reportagem. Em entrevista à emissora americana CNBC, um representante da empresa afirmou que o estudo de Harvard tem “limitações significativas”, como o pequeno número de pacientes da amostra (leia mais abaixo), e que a NOIA-NA “não é uma reação adversa ao medicamento”, segunda a bula do medicamento aprovada pelas agências reguladoras. Disse ainda que “a segurança do paciente é uma prioridade máxima” para a empresa e que todos os relatos sobre eventos adversos são “levados muito a sério”.

Semaglutida é usada no tratamento de diabetes e obesidade Foto: Natalia/Adobe Stock

Entenda a pesquisa

Para o estudo, pesquisadores analisaram registros de pacientes do hospital Mass Eye and Ear e acompanharam durante 36 meses 710 pessoas com diabetes tipo 2 e 979 indivíduos que receberam diagnóstico de sobrepeso ou obesidade. Em ambos os grupos, uma parte dos pacientes eram tratados com semaglutida e outra parte utilizava outros medicamentos para o controle da diabetes e a perda de peso.

Por fim, os pesquisadores analisaram a taxa de diagnóstico de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica entre os participantes. Entre aqueles que usavam a semaglutida, seja para tratar diabetes ou obesidade, a incidência de NOIA-NA era maior.

No grupo de diabéticos, a taxa de casos da doença ocular foi de 8,9% entre os pacientes que usavam semaglutida contra 1,8% entre aqueles que usavam outros medicamentos, um risco quatro vezes maior. Já no grupo com diagnóstico de obesidade ou sobrepeso, a incidência de NOIA-NA entre aqueles que utilizavam semaglutida foi de 6,7% ante 0,8% no grupo que fazia outro tipo de tratamento, um risco sete vezes maior.

Limitações do estudo

Os próprios pesquisadores apontam que o estudo tem limitações, como por exemplo o fato de o hospital-escola de Harvard receber um número anormalmente alto de pessoas com doenças oculares raras. Ainda assim, eles consideram que a quantidade de casos de NOIA-NA analisados no período da pesquisa é relativamente pequena, o que pode alterar as estatísticas. Dessa forma, reforçam que o estudo não prova causalidade entre o uso da semaglutida e o risco de ter a doença ocular.

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“Nossas descobertas devem ser vistas como significativas, mas provisórias, pois estudos futuros são necessários para examinar essas questões em uma população muito maior e mais diversa”, disse Joseph Rizzo, líder do estudo, em comunicado.

A Novo Nordisk também ressaltou as limitações da pesquisa, em especial o “pequeno número de pessoas” com diabetes tipo 2 ou obesidade que eram tratadas com semaglutida na amostra analisada. Por isso, conclui que “os dados publicados no estudo não são suficientes para estabelecer uma associação causal entre o uso de agonistas do receptor GLP-1 e NOIA-NA”.

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