Estudo confirma transmissão sustentada da gripe aviária entre mamíferos; entenda o risco

Descoberta chama a atenção para possibilidade de adaptação do vírus para transmissão de humano para o humano, o que levaria a uma pandemia, segundo especialista

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Por Layla Shasta

Um novo estudo, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, confirma a possibilidade de transmissão da gripe aviária entre mamíferos a partir de evidências de que a doença foi passada de uma vaca para outra. Atualmente, há mais de 170 rebanhos infectados no país norte-americano.

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A novidade é que, até então, não se tinha certeza se gados infectados haviam contraído a doença simplesmente a partir do contato com aves ou seus dejetos, o mais comum, ou uns dos outros, segundo explica a infectologista Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A pesquisa, então, confirmou o que já se suspeitava: agora, o vírus H5N1 já pode ser transmitido de forma sustentada, de animal para animal, entre o gado leiteiro.

Estados Unidos já possui 48 Estados com surto de gripe aviária em aves e 13 com surto em vacas Foto: Parilov/Adobe Stock

Vale explicar que uma transmissão sustentada significa que a origem de uma doença não pode mais ser rastreada, pois o seu agente patogênico já circula entre a população local.

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Esse dado preocupa, pois mostra a capacidade de transmissão e adaptação do H5N1. Além disso, segundo Nancy, o gado é um tipo de animal mais parecido biologicamente com os humanos do que as aves.

Essa combinação de fatores acende o alerta para a possibilidade de a transmissão sustentada também acontecer entre os humanos em algum momento.

“A transmissão para mamíferos já havia sido confirmada. A transmissão do gado para o homem também. Agora, confirmou-se a transmissão sustentada entre os mamíferos. Mas, de humano para humano, ainda não há casos registrados. Na hora em que isso acontecer, um ser humano pega da vaca, passa para outro ser humano, que passa para outro ser humano, e aí nós teremos uma pandemia”, diz Nancy.

Ela explica que sempre que há um novo vírus em circulação entre humanos, acontece uma pandemia, o que não necessariamente significa que será um evento de alta gravidade. “Quando você tem um vírus novo, você tem uma pandemia. Em 2009, tivemos uma com vírus de origem suína. Era de suínos, passou para humanos e o humano passou a transmitir entre si. Então, a gente teve uma pandemia de gripe suína. Não foi tão grave como a de coronavírus, mas foi uma pandemia”, exemplifica.

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Outras espécies e presença do vírus no leite

Além da transmissão de vaca para vaca, sequências completas do genoma viral recuperadas de gatos domésticos e um guaxinim de fazendas afetadas indicaram transmissão interespécies.

“Isso apresenta um risco de adaptação desse vírus em mamíferos que têm uma proximidade maior com a espécie humana”, reflete Nancy.

O estudo também encontrou o vírus e seu material genético no leite das vacas estudadas e descobriu que ele se concentra especialmente nas células das glândulas mamárias do gado.

Perguntada sobre a possibilidade de contaminação por meio da ingestão de leite, a infectologista afirma: “é possível. Todo e qualquer leite tem que ser pasteurizado ou fervido para a pessoa poder ingerir”, conclui.

Mas isso não é uma certeza ainda. Segundo a especialista, em experiências de laboratório, ratos foram infectados ao ingerir leite de vacas contaminadas com vírus, o que destaca a possibilidade de infecção por meio do contato com ele. Apesar disso, ainda devemos considerar que, sempre que se faz um experimento em animais, não necessariamente os resultados podem ser reproduzidos em humanos.

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