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Estudo identifica os sintomas mais comuns da covid longa em crianças e adolescentes

Lista inclui aspectos como dor no corpo, fadiga após caminhar, fobias e tontura

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Por Beatriz Bulhões

Um grupo composto por dezenas de pesquisadores mapeou os principais sintomas de covid longa em crianças e adolescentes, apontando novos sinais da condição nesse público.

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O estudo, publicado na revista científica Jama, traz sintomas como dor no corpo, fobias e tontura, não listados na definição apresentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2023, e reforça aspectos como fadiga, olfato alterado e ansiedade.

“O índice da pesquisa provavelmente mudará e se expandirá à medida que aprendermos mais, e não é destinado a ser usado como uma ferramenta clínica hoje”, disse Rachel Gross, professora da NYU Langone e coautora do estudo em comunicado da Universidade de Columbia.

“Esse trabalho descreve a primeira abordagem baseada em dados para revelar padrões de sintomas entre crianças em idade escolar e adolescentes, que são distintos dos observados em adultos”, acrescentou o bioestatístico Tanayott Thaweethai, também autor do estudo.

De acordo com a OMS, a covid longa em crianças e adolescentes ocorre para aqueles com histórico de infecção pela doença (confirmada ou provável) que apresentam sintomas com duração de pelo menos dois meses e que ocorreram inicialmente dentro de três meses após a fase aguda.

Ainda segundo o órgão global, “os sintomas podem ser novos, após a recuperação inicial de um episódio agudo de covid-19, ou persistir desde a doença inicial”. Eles também podem variar ou voltar com o tempo.

Segundo Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, a condição, também chamada de covid prolongada ou crônica, afeta cerca de 10% a 15% das crianças e adolescentes após a infecção pelo Sars-Cov-2, vírus causador da covid-19.

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Fadiga, dor de cabeça e problemas de memória estão entre os sintomas de covid longa observados entre as crianças em estudo. Foto: patpitchaya/Adobe Stock

Sintomas

Os cientistas analisaram os dados de 898 crianças de 6 a 11 anos (751 com histórico de infecção por SARS-CoV-2) e 4.469 adolescentes de 12 a 17 anos (3.109 com histórico de infecção). No total, foram 89 sintomas pesquisados, divididos em nove áreas: sintomas gerais, olho/ouvido/nariz/garganta, coração/pulmões, estômago, cabelo/unhas/pele, músculos/ossos, cérebro/nervos, sentimentais/comportamentais e menstruação.

Os pesquisadores verificaram que 14 sintomas foram reportados nas duas faixas etárias, incluindo dificuldade para dormir; cansaço após caminhar; tontura; dor no estômago; náusea ou vômitos; dor muscular ou nas articulações; dor nas costas ou no pescoço; problemas de memória e foco; medo de multidões ou lugares fechados; e recusa em ir para a escola.

Em seguida, usando análises estatísticas, eles identificaram quais sintomas poderiam ser combinados para formar um índice capaz de ser usado em outras pesquisas para determinar pacientes com covid longa. Esses índices incluíram dez sintomas para as crianças e oito para os adolescentes:

Crianças

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  • problemas com memória ou foco;
  • dor nas costas ou no pescoço;
  • dor de estômago;
  • dor de cabeça;
  • fobias;
  • recusa em ir à escola;
  • coceira ou erupção na pele;
  • problemas no sono;
  • náusea ou vômito;
  • tontura.

Adolescentes

  • alteração ou perda de olfato e/ou paladar;
  • dor corporal, muscular ou nas articulações;
  • fadiga/sonolência diurna ou baixa energia;
  • fadiga depois de caminhar;
  • dor nas costas ou no pescoço;
  • problemas com memória ou foco;
  • dor de cabeça;
  • tontura.

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Segundo o estudo, fadiga, dor e mudanças no paladar e no olfato foram mais proeminentes entre adolescentes, enquanto dificuldade de foco, problemas no sono e estomacais se destacaram entre as crianças.

Para Otsuka, o ponto-chave é que a maior parte dos sintomas prováveis era relacionada com o processo inflamatório nos órgãos afetados. “Esse estudo também traz manifestações ligadas ao comportamento social, de concentração e de memória, que já era algo observado tanto em adultos quanto em crianças, mas não tínhamos provas”, explica.

Daniel Jarovsky, pediatra e infectologista do Grupo Fleury, também vê a pesquisa como uma contribuição para entender melhor a covid longa entre os mais novos, mas faz uma ponderação sobre a metodologia do estudo: os pais responderam questionários online num período médio de um ano e quatro meses (para as crianças) e um ano e meio (para os adolescentes) após os primeiros sintomas de covid-19.

“Se já é difícil para nós, adultos, lembrarmos o que sentimos um ano atrás, imagine para os pais de crianças muitas vezes novinhas demais para expressarem direito o que sentem.”

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