Estudo testa uso de canabidiol no tratamento de dependentes de crack

Trabalho vai comparar o método convencional, feito de uma associação de medicamentos, com o óleo formulado a partir da planta

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BRASÍLIA - Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Brasília (UnB) vai avaliar se o canabidiol, uma das substâncias presentes na maconha, é eficaz no tratamento de dependentes de crack. Liderado pela professora Andrea Gallassi, o trabalho vai comparar o método convencional, feito a partir de uma associação de medicamentos, com o óleo formulado a partir da planta. 

Operação na Cracolândia, no centro de São Paulo Foto: 13/04/2018 - Werther Santana/Estadão

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Andrea conta que as opções terapêuticas hoje são limitadas para usuários de crack. Não há uma droga específica para controlar as crises de abstinência. A alternativa encontrada é associar alguns medicamentos.

A ideia de testar o canabidiol surgiu a partir da constatação dos efeitos terapêuticos da substância, apontados em alguns estudos. Gallassi observa que o canabidiol, usado geralmente na forma de óleo, vem sendo bastante pesquisado. Inúmeros trabalhos mostram que ele tem efeitos positivos para reduzir a compulsão, melhorar a insônia ea ansiedade –todos problemas identificados entre usuários de crack.

A ideia é que a terapia auxilie o paciente a interromper ou reduzir de forma importante o uso do crack. Hoje, trabalhos indicam que a substância é eficaz para controlar convulsões em pessoas que não respondem a tratamentos convencionais. Isso já vem sendo usado no País, sobretudo entre crianças. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já concedeu, desde 2015, 7.198 autorizações de importação da substância para pacientes que obtiveramindicação do tratamento.

Importação

Galassi também obteve autorização para importar o óleo que será usado no estudo. A pesquisa será feita com 80 pacientes. Metade usará o canabidiol e metade, receberá o tratamento convencional. Nem pesquisador nem paciente saberá qual o tratamento será ofertado. A informação será dada apenas no fim da pesquisa, já para a análise dos resultados.

Além da medicação, todos receberão um acompanhamento multidisciplinar. A pesquisa terá duração de dois meses. Ao longo do acompanhamento, os pacientes farão testes para identificar a presença de traços de algumas drogas no organismo. O recurso será usado para verificar se os relatos do paciente coincidem com os exames.

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Esta é a segunda pesquisa no mundo realizada para avaliar o impacto do uso do canabidiol entre dependentes de crack. A professora acha que o trabalho pode ter resultados promissores.  João (nome fictício) é um dos voluntários da pesquisa da UnB. Ele já era acompanhado por um Centro de Atenção Psicossocial de Ceilândia, que faz uma parceria com a pesquisadora.

“Há um tempo estou tentando deixar o crack. Mas o vício sempre fala mais alto. Paro, volto. Mas agora estou confiante”, contou. Assim como os outros integrantes do grupo, ele vai semanalmente ao centro receber o medicamento. Fazuma avaliação da equipe, tira dúvidas. “Não sei que remédio estou usando. Mas o que sei é que parece que estou mais forte.” 

Gallasi conta que a seleção de voluntários para a pesquisa continua até outubro. São aceitas pessoas que tenham entre 18 e 65 anos e façam uso do crack há pelo menos um ano.

Proposta da Anvisa foi submetida à consulta pública

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) levou à consulta pública a proposta para liberação do cultivo e da produção de maconha no País para fins medicinais e científicos. A nova regra prevê o plantio restrito a lugares fechados por empresas credenciadas. Associações e familiares de pacientes que, hoje, conseguiram autorizações na Justiça para a produção do extrato de canabidiol, ficam proibidos de manipular a planta.

Atualmente, a Anvisa já permite o registro de medicamentos feitos com substâncias como canabidiol e tetrahidrocannabinol (THC), mas só um produto importado conseguiu a regulamentação até o momento. A maioria dos pacientes que recebe prescrição médica de tratamentos com derivados da cannabis pede à Anvisa autorização para importar o produto.

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