Estudo traça o perfil de quem pratica atividade física em São Paulo; veja

Problemas de saúde, falta de tempo e ausência de local adequado são os principais empecilhos para quem continua sedentário

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Por Layla Shasta

Uma pesquisa da Fundação Seade traça o perfil de quem pratica atividade física em São Paulo e revela um salto nesse hábito nos últimos anos. Atualmente, 57% da população do Estado realiza exercícios, um avanço em comparação com 2019, quando o índice era de 39%.

Entre os que praticam atividade física, 81% indicaram se exercitar duas ou três vezes por semana Foto: Werther Santana / Estadão

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Intitulado Percepção da população do Estado de São Paulo sobre a prática de atividades físicas, o estudo aponta um crescimento na frequência das atividades: 81% dos participantes que fazem exercícios afirmaram se exercitar duas ou três vezes por semana, ante 66% em 2019.

O levantamento, realizado por meio de entrevistas com 3.007 pessoas, também indica que a prática de exercícios no interior (58%) é mais comum do que na região metropolitana (56%). Essa diferença pode estar relacionada a fatores que vão desde o espaço físico à segurança pública, segundo o médico Gustavo Starling, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).

“Há uma maior oferta de espaços abertos e áreas verdes no interior, o que facilita atividades como caminhadas, corridas e ciclismo. Além disso, na capital, é comum que as pessoas sintam receio de usar vias públicas ou locais ao ar livre para exercícios”, reflete.

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Já no recorte por gênero, 64% dos homens contaram fazer exercícios, contra 54% das mulheres. A diferença, observada em levantamentos anteriores e em outros estudos, pode refletir fatores socioculturais associados ao comportamento de gênero, segundo a Seade. Uma pesquisa realizada em 2023 em 40 países, incluindo o Brasil, apontou que a sobrecarga e a insegurança afastam as mulheres da atividade física.

Avanços no acesso e na frequência

Entre os mais assíduos na prática de exercícios, destacam-se indivíduos entre 30 e 44 anos — 65% do público nessa faixa etária se movimenta regularmente — com maior escolaridade e renda familiar.

Apesar disso, a Seade observa uma tendência de elevação da frequência entre aqueles com ensino fundamental e renda de até um salário mínimo.

Karina Hatano, médica do esporte do Espaço Einstein, do Hospital Israelita Albert Einstein, considera que um ponto importante a se observar nesse sentido é o avanço de modalidades mais acessíveis.

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“Hoje, práticas como a caminhada e as corridas, que tiveram um grande ‘boom’, além de treinos online e planilhas virtuais de exercícios tornaram o exercício mais inclusivo para o dia a dia do brasileiro”, diz.

A realização de exercícios duas vezes por semana, mencionada por grande parte dos entrevistados, e o aumento da prática em relação a anos anteriores são pontos muito positivos, de acordo com os especialistas. Isso porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de ao menos 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada para uma vida saudável.

Segundo Starling, mesmo quando a frequência não é diária, os resultados são perceptíveis. “Essa regularidade é suficiente para melhorar o condicionamento físico, fortalecer a musculatura, reduzir o estresse e prevenir problemas como diabetes, obesidade e hipertensão”, afirma.

Karina reforça que a frequência de duas vezes por semana é um grande passo para a qualidade de vida, desde que a rotina seja regular e as atividades, variadas. “É importante evitar longos períodos de inatividade para combater o sedentarismo. Além disso, nessa rotina de exercícios, é importante diversificar tanto com atividades de força quanto aeróbicas e momentos de descanso.”

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Sedentarismo e instalações ainda preocupam

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De 2019 a 2024, o sedentarismo caiu 18 pontos percentuais, mas ainda há barreiras. Quatro em cada dez paulistas ainda não aderiram a nenhuma rotina de exercícios. Esse grupo é composto, em sua maioria, por mulheres, pessoas acima de 60 anos e aqueles com menor escolaridade e renda.

Problemas de saúde (35%), falta de tempo (29%), ausência de local adequado (15%) e desinteresse (11%) são os principais obstáculos descritos pelos participantes da pesquisa. Entre os idosos, a saúde debilitada é o maior empecilho, enquanto a falta de tempo predomina entre os que têm entre 30 e 44 anos, provavelmente devido à rotina profissional intensa, segundo o relatório.

Para Starling, superar esses obstáculos requer esforços coletivos. Por um lado, as empresas podem incentivar hábitos saudáveis com programas de bem-estar e horários flexíveis, enquanto governos estaduais e municipais devem investir na criação de espaços públicos seguros e acessíveis, tanto em áreas urbanas quanto rurais.

Já de forma individualizada, pequenas mudanças no dia a dia, como incluir exercícios curtos em casa, podem ser um bom ponto de partida, lembra o médico.

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Karina ressalta que, para superar barreiras relacionadas à saúde, é essencial investir em acompanhamento médico e orientação profissional. Quanto à falta de tempo, ela sugere a adoção de uma rotina com práticas diárias que ofereçam benefícios em apenas 20 minutos, além de alternativas como caminhar ou pedalar até o trabalho.

Outro ponto a melhorar é a oferta de instalações esportivas, percebida como insuficiente por 69% dos entrevistados. Além disso, 92% dos participantes apoiam que o Estado financie a formação de atletas, com alta concordância em todas as regiões, faixas etárias, níveis de escolaridade e renda.

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