Ativo e saudável, Michel Monteiro, 17 anos, mede 1,75 metro e pesa 65 quilos. É ator e dançarino – em suas apresentações, imita o cantor americano Michael Jackson (1958-2009) com performances surpreendentes. Mas nem sempre foi assim. O jovem viveu a infância colado na obesidade, sofrendo preconceitos. Dobrou de peso no período da pandemia, entrou em depressão e desistiu da dança.
Durante a infância, tentou diferentes abordagens clínicas para perder peso e passou por dietas restritivas e tratamentos farmacológicos modernos (chegou a usar a semaglutida, uma das medicações mais eficazes no tratamento da obesidade, mas não teve sucesso). Continuou ganhando peso e aos 13 anos alcançou 92 quilos e um IMC (Índice de Massa Corporal) de 42,57. Michel estava com obesidade grave e era preciso intervir para evitar que seus problemas de saúde se agravassem. A cirurgia bariátrica passou a ser uma opção de tratamento, mas ainda havia uma certa resistência dos médicos.
Quatro profissionais de saúde negaram o procedimento ao garoto. Situação que mudou com o cirurgião bariátrico Marcos Leão Vilas Boas, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), professor convidado da pós-graduação em cirurgia bariátrica e metabólica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos principais nomes da cirurgia bariátrica na infância e adolescência.
“Ainda existe muito preconceito em torno da cirurgia para adolescentes. Muitas pessoas ainda entendem que esses jovens não deveriam ser operados e deveriam tentar um ‘algo mais’, que nós sabemos que não vai funcionar. Esse adolescente perde um momento importante do seu desenvolvimento biopsicossocial com uma doença extremamente limitante. Eu tive um paciente que não conseguia andar de bicicleta”, disse o especialista.
Como só tinha 13 anos, Michel estava fora dos critérios para a cobertura do procedimento pelos planos de saúde em adolescentes no Brasil. Pelas regras em vigor, apenas jovens a partir dos 16 anos podem ser submetidos à cirurgia bariátrica, seja no SUS ou na rede suplementar de saúde. Diante da gravidade do caso, a família do adolescente decidiu pagar o procedimento por conta própria. Até porque, via SUS, a falta de capacidade operacional do sistema dificulta o acesso da população ao procedimento. Em 2023, enquanto 8.951 cirurgias ocorreram no sistema único, 69.041 intervenções foram feitas por meio de convênios médicos.
“Minha família tinha um pouco de medo, mas fomos muito bem orientados e fui para a mesa cirúrgica muito certo da decisão. Perdi 40 quilos em dois anos. Voltei a me enxergar como pessoa e retomei a dança, minha paixão”, afirma Michel. O jovem, hoje, está no 2º ano do ensino médio e se tornou um ativista contra a gordofobia, palestrando em escolas e eventos sobre a sua experiência com a cirurgia bariátrica.
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