A adoção de uma rotina de exercícios físicos pode melhorar a função hormonal e promover o bem-estar de pacientes com síndrome do ovário policístico (SOP). A condição afeta mulheres em idade reprodutiva e é caracterizada por ausência de ovulação, irregularidades menstruais, excesso de hormônios masculinos (hiperandrogenismo) e presença de cistos nos ovários.
“A prática de atividade física e a melhora na qualidade da alimentação são fundamentais para regular a menstruação e os hormônios em muitas mulheres. Em alguns casos, apenas essas mudanças já são suficientes. Quando isso não acontece, pode ser necessário o uso de medicação, mas o exercício físico sempre deve ser a primeira abordagem”, diz Ana Paula Beck, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein.
Pesquisas recentes reforçam essa relação. Em um estudo desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, tanto o exercício de resistência quanto o aeróbico melhoraram os índices antropométricos, a disfunção metabólica e o hiperandrogenismo em pacientes com SOP.
Ao todo, 56 mulheres com a síndrome participaram do estudo. Dessas, 30 realizaram exercícios de resistência e 26 praticaram exercícios aeróbicos. Os treinos foram realizados três vezes por semana, em sessões de 50 minutos a 1 hora, por 16 semanas. “Tivemos respostas com a musculação e depois avaliamos a atividade aeróbica, uma corrida na esteira”, diz Cristiana Libardi, docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas e autora principal do estudo.
Os cientistas verificaram ainda que tanto a musculação quanto a atividade aeróbica influenciaram o padrão de metilação do DNA, um mecanismo protetor do genoma que reduz o risco de doenças como câncer. Os resultados apontaram o aumento da metilação após os exercícios, evidenciando mais um benefício da atividade física para quem convive com a SOP.
Os exercícios são importantes também para o cuidado com outra alteração comum entre pacientes com a síndrome: a resistência à insulina. Nessas situações, o corpo não responde bem ao hormônio, responsável por transportar a glicose do sangue para dentro das células. Para tentar contornar o problema e regular os níveis de açúcar, o pâncreas aumenta a produção de insulina.
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A condição foi tema da dissertação de mestrado de Wagner Silva Dantas, atualmente em estágio de pós-doutorado no Pennington Biomedical Research Center (EUA). Ele observou um aumento da captação de glicose em pacientes com SOP depois da realização de exercícios físicos.
Segundo o estudo, esse aumento pode durar de 8 a 12 horas, prolongando os benefícios do treino além do momento da prática, e pode haver um efeito cumulativo caso o treino seja realizado em dias consecutivos, potencializando a sensibilidade à insulina.
Qual treino é melhor?
Para Dantas, o ideal é combinar musculação e exercícios aeróbicos, com treinos de três a cinco vezes por semana. “O treinamento aeróbico por conta da demanda metabólica que ele exige por si só e a musculação (porque) tem uma exigência muito focada, lembrando da resposta cardiovascular, hormonal para atender aquela demanda.”
Segundo o pesquisador, uma única sessão de exercícios estimula mudanças no músculo esquelético tanto em pacientes com SOP quanto em pessoas sem a condição. Mas, com uma menor frequência de atividades na semana, é essencial ajustar o tempo das sessões para potencializar os efeitos positivos do treino, como a manutenção do metabolismo e o fortalecimento muscular.
“Agora, com relação à resistência insulínica, entre três e cinco vezes na semana teria um efeito”, acrescenta Dantas. “(Mas) quero lembrar a existência de um abismo entre o real e o ideal. Eu consigo fazer duas vezes na semana? Então legal, vamos fazer.”
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