Na última segunda-feira, 5, a Takeda, farmacêutica japonesa fabricante da Qdenga, vacina contra a dengue, comunicou que vai priorizar a distribuição de doses para o Sistema Público de Saúde (SUS) por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI). A motivação seria “apoiar o Ministério da Saúde no seu propósito de promover o acesso da vacina contra a dengue de forma integral e gratuita para a população brasileira”. Em nota, a farmacêutica informa que não vai firmar novos contratos com governos estaduais e municipais.
O imunizante japonês, que demonstrou eficácia de 80,2% na prevenção da dengue, foi aprovado pela Anvisa em março de 2023 e está disponível em farmácias e clínicas particulares no Brasil desde julho. A bula recomenda a aplicação para pacientes de 4 a 60 anos, mas, devido ao número limitado de doses, inicialmente o sistema público vai contemplar apenas crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Em contrapartida, a rede particular tem atendido toda a faixa etária indicada na bula, além dos pacientes acima de 60 anos, com pedido médico.
Acontece que, diante da alta de dengue, a busca pela vacina em farmácias e clínicas disparou – e muitos estabelecimentos já registram falta do imunizante. Segundo a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC), houve um crescimento de 110,75% no número de doses aplicadas pelo sistema particular de dezembro de 2023 (2.341) para janeiro de 2024 (4.923).
Para quem conseguiu se vacinar no sistema privado, a Takeda informa que fornecerá as doses suficientes para completar o esquema vacinal – que é de duas doses, com intervalo de três meses entre elas.
Em nota, a ABCVAC diz compreender a motivação da Takeda em priorizar o SUS, mas pontua que a rede particular exerce uma função importante de complementar a atuação do setor público.
“Observamos que a vacinação no setor privado desempenha um papel relevante, atendendo à faixa de 4 a 60 anos que, se não considerada, poderá gerar impactos no sistema de saúde como um todo. Por isso, esperamos que, em breve, sejam encontradas soluções eficazes que atendam à crescente demanda também para o setor privado”, complementa Fabiana Funk, presidente do Conselho da ABCVAC.
Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta, 07, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que a vacinação é importante, mas que, nesse momento, não é a melhor estratégia de prevenção contra a dengue.
“Na situação de emergência, a vacina não deve ser vista como instrumento mágico, porque precisa de duas doses, em um intervalo de três meses, além do que já foi amplamente divulgado de que, nesse momento, a oferta pelo laboratório é restrita, o que não dá condição de vacinação mais ampla”, afirmou.
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O que acontece se a pessoa não tomar a segunda dose?
De acordo com a Takeda, foi demonstrada eficácia de 81% na redução da dengue sintomática após 30 dias da primeira dose, a partir da análise de um pequeno subgrupo do estudo principal sobre o imunizante. Por isso, de acordo com a farmacêutica, a aplicação apenas da primeira dose pode ser justificada para “indivíduos que vivem em áreas não endêmicas ou que vão visitar países endêmicos e não têm tempo para receber a segunda dose antes da viagem”.
Porém, a eficácia em médio e longo prazo só foi demonstrada em pacientes que tomaram as duas doses. “Para obter 80,2% de eficácia na redução de dengue sintomática após 12 meses e de 90,4% nas hospitalizações pela doença após 18 meses, é necessário completar o esquema vacinal”, comenta, em nota.
A infectologista Eliana Bicudo, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), reforça essa informação. Segundo ela, por mais que haja um aumento de anticorpos após a aplicação da primeira dose, não há estudos que comprovem a eficácia completa nesse sentido.
A especialista lembra ainda que se o ondivíduo pegar dengue entre a aplicação da primeira e da segunda dose, aí deverá contar seis meses após a infecção para completar o esquema vacinal.
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