O câncer é um dos maiores problemas de saúde pública da humanidade. Em média, 48,8% das pessoas diagnosticadas com câncer morrem em decorrência da doença, em grande parte porque o diagnóstico não foi realizado nos estágios iniciais ou o tratamento esteve longe de utilizar todas as alternativas que a ciência disponibiliza atualmente. A proporção de mortes vai de 26,4% dos casos diagnosticados na América do Norte a 64,4% na África, resultado de diferenças gigantescas nas condições de acesso aos recursos da medicina. O Brasil está no meio-termo, com 44,5% de mortes.
O abismo entre pobres e ricos tende a ampliar-se ainda mais diante do aumento dos custos decorrente da evolução tecnológica e dos avanços científicos. “O crescimento exponencial do conhecimento tem provocado uma grande preocupação, em todo o mundo, com a sustentabilidade na área da saúde”, lembra Roberto de Almeida Gil, diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca). “Temos que encontrar formas de levar os avanços da medicina à população como um todo, desafio especialmente significativo quando se trata do câncer.”
Não apenas o desfecho, mas também o surgimento da doença, envolve grandes diferenças entre os países e os continentes. Na África, há um caso diagnosticado anualmente para cada 1.186,9 habitantes, ante um caso a cada 139,7 casos na América do Norte. Por mais que as razões possivelmente envolvam as dificuldades de diagnóstico nas regiões mais pobres, há a influência de fatores como a longevidade (quanto maior a expectativa de vida de uma população, mais provável a ocorrência de câncer) e os hábitos de vida prejudiciais relacionados ao maior poder aquisitivo (sabe-se que, quanto maior o índice de sobrepeso de uma população, maior é a incidência de câncer). Essa mesma lógica se repete no Brasil, onde as Regiões Sudeste e Sul, mais desenvolvidas, registram proporção de casos acima da participação de cada uma delas no total da população brasileira.
Envelhecimento acelerado
O mais recente comparativo global dos países divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) leva em conta dados de 2022, quando o Brasil registrou um novo caso de câncer para cada 343,4 habitantes. A projeção para 2024, no entanto, já é de um novo caso para 288 brasileiros, resultado da aceleração esperada na incidência da doença no País, por causa principalmente do rápido avanço da idade média da população. “Teremos em 40 anos um envelhecimento que a Europa demorou 400 anos para viver”, compara o presidente do Inca.
A projeção do instituto é de 704 mil casos de câncer no Brasil este ano, com a perspectiva de romper a casa do milhão em 2030. Em 1995, quando o Inca começou a organizar e publicar estimativas de câncer alinhadas à metodologia utilizada pela Agência Internacional para a Pesquisa de Câncer, da Organização Mundial da Saúde (OMS), a incidência da doença no País ficou no patamar dos 280 mil casos.
O Brasil apresenta algumas diferenças significativas em relação ao mundo. Enquanto o câncer de pele é o mais comum por aqui, aparece apenas na quinta posição no ranking global, com 6,2% dos novos casos – à frente dele estão o câncer de mama feminina (11,7%), o de pulmão (11,4%), cólon e reto (10%) e próstata (7,3%). Outra diferença significativa do Brasil em relação ao restante do mundo é que o câncer de pulmão, o mais incidente entre os homens no planeta, está apenas na 4ª posição por aqui. Já entre as mulheres, o câncer de mama é o mais frequente tanto no Brasil quanto globalmente.
Segunda principal causa de mortes no mundo, o câncer ceifa 9,7 milhões de vidas por ano. Os 20 milhões de novos casos registrados no ano passado significam que um a cada 394,7 habitantes do planeta desenvolveu a doença no período. Com base nas estimativas globais, projeta-se que uma a cada cinco pessoas terá algum tipo de câncer antes de completar 75 anos de idade.
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