Visitantes de outras cidades e Estados que estiveram em dois eventos realizados na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, estão sendo alertados para atentar a possíveis sinais de infecção por febre maculosa. Três pessoas que participaram da Feijoada do Rosa, no dia 27 de maio, morreram após contrair a doença transmitida pelo carrapato-estrela. Um quarto óbito é investigado. Agora, surgiu um novo caso suspeito envolvendo uma mulher que esteve em outro evento, o show do cantor Seu Jorge, no dia 3 de junho.
Além da festa denominada Feijoada do Rosa, uma tradição de 22 anos, que reuniu cerca de 3,5 mil pessoas, a prefeitura passou a monitorar um segundo evento, o show do cantor Seu Jorge, realizado no dia 3 de junho, e que reuniu cerca de 10 mil pessoas. Uma mulher de 38 anos que foi a esse show teve sintomas da doença e está internada em um hospital particular de Campinas, onde mora. Segundo a Vigilância em Saúde, ela começou a apresentar sintomas no dia 10 e ainda aguarda o resultado do exame laboratorial.
De acordo com a prefeitura, a rede do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) emitiu alerta para as redes nacional e estadual a fim de informar as pessoas de outras cidades que estiveram nos dois eventos sobre o surgimento dos casos. A Fazenda Santa Margarida suspendeu os próximos eventos e fechou as portas por um período de 30 dias.
“A busca ativa é uma das estratégias que a Vigilância em Saúde pode utilizar”, declarou o infectologista Rodrigo Angerami, em coletiva de imprensa convocada pela prefeitura. “Esses eventos agregam pessoas não só do município de Campinas, mas também do entorno e até de outros Estados”
O infectologista ressaltou que a chance de cura para quem contrai febre maculosa é maior no início dos sintomas, sendo que a doença pode se manifestar em até duas semanas.
“A suspeita e o tratamento têm de ser precoces”, pontuou. Apesar disso, ele admitiu que a identificação dos casos não é simples. “É uma doença em que, na fase inicial, os sintomas são comuns a uma série de doenças, e como a incidência é muito baixa, ela acaba se perdendo para doenças que são mais frequentes”
Diretora do Devisa, Andrea Von Zuben alerta para a alta taxa de letalidade da febre maculosa. “Fora esses casos (de agora), tivemos outros dois no início do ano, e os dois evoluíram a óbito”, declarou Andrea. De acordo com ela, é a terceira vez que o Estado de São Paulo apresenta um surto de febre maculosa. Os anteriores foram na própria cidade de Campinas e em Americana.
Em nota, a Fazenda Santa Margarida informou que está trabalhando em um plano de ação que deverá apresentar aos órgãos competentes ainda esta semana. Disse ainda que, diante dos acontecimentos e visando assegurar o bem estar dos visitantes, colaboradores e da comunidade, permanecerá com as instalações fechadas pelos próximos 30 dias. Ainda nesta quarta-feira, a empresa apresentará à prefeitura uma listagem dos eventos agendados para os próximos seis meses.
Prefeituras fazem ações contra carrapatos
A prefeitura iniciou também o mapeamento da ocorrência de carrapatos em 12 áreas do município de Campinas, entre elas a Lagoa do Taquaral, Lago do Café, Parque das Águas, Parque Botânico e distrito Joaquim Egídio, onde fica a Fazenda Santa Margarida. Agentes municipais iniciaram também a distribuição de folhetos sobre a doença nessas áreas.
Depois das mortes em Campinas, outras cidades reforçaram as ações de prevenção contra a doença. Em Ribeirão Preto, o Parque Olhos D’Água foi fechado devido à infestação de carrapatos, já que um grupo de capivaras habita o local. A situação está sendo monitorada pela Secretaria Municipal da Saúde. As áreas de infestação foram identificadas com placas. A cidade registrou quatro casos suspeitos de febre maculosa, mas todos deram negativo.
Vizinha a Campinas, a cidade de Valinhos determinou o mapeamento para detecção do carrapato nas áreas onde foram registrados casos anteriormente a recolocação das placas de alerta nas áreas verdes consideradas de risco. Agentes de combate de endemias estão visitando as casas próximas para a entrega de folders.
Na tradicional Festa Julina de Valinhos haverá um estande exclusivo sobre febre maculosa. A prefeitura agendou também um ciclo de capacitação dos médicos das redes básicas de saúde e das unidades de atendimento de urgência para diagnóstico precoce da doença. O ciclo vai do próximo dia 21 ao 29 deste mês. A cidade não teve caso este ano.
O município de Limeira teve um óbito por febre maculosa este ano, anterior aos casos de Campinas, por isso já vinha reforçando as ações de controle ao carrapato. Há outros cinco casos em investigação – os pacientes estão em tratamento ou já se recuperaram.
Em locais positivos para o carrapato foram colocadas placas que informam sobre a doença e dão a referência da unidade de saúde que deve ser procurada em caso de infecção. Nos locais com alta densidade de carrapatos, a prefeitura faz a roçagem e aplica carrapaticida. Campanhas educativas estão sendo realizadas em escolas e instituições.
Em Americana, a prefeitura realiza a pesquisa do carrapato estrela em pontos estratégicos, como toda a orla da Represa de Salto Grande, consideradas áreas de risco para transmissão. O município desenvolve um programa de vigilância do carrapato e mantém placas de advertência aos moradores nessas áreas, alertando para a presença do carrapato estrela nesses locais. Atualmente está sendo realizada uma campanha sobre a febre maculosa, por ser o período de maior incidência da doença.
A prefeitura de Indaiatuba, que faz divisa com Campinas, está monitorando as áreas de risco depois de ter registrado um caso positivo de febre maculosa este ano. Outros seis casos suspeitos estão em investigação. Não houve óbito pela doença. Nesta terça-feira, 13, o município divulgou em sua rede social oficial um alerta sobre a doença, pedindo à população para procurar atendimento médico em caso de sintomas suspeitos. As áreas públicas de risco com presença de carrapatos foram sinalizadas com placas.
O turista que for visitar a região do Beira-Rio e Rua do Porto, em Piracicaba, vai encontrar novas placas avisando sobre o risco de febre maculosa. Depois dos casos da doença em Campinas, a prefeitura reforçou a instalação de avisos ao longo do Rio Piracicaba, sobretudo próximo à cachoeira e ao mirante, regiões mais procuradas pelos visitantes. A cidade não registrou casos da doença este ano – no ano passado houve dois casos e um óbito – mas elevou o alerta porque a região que atrai mais turistas é também a preferida das capivaras. “O período de maior incidência da febre maculosa no estado começa em maio e vai até setembro, porém em Piracicaba, os casos podem surgir durante o ano todo”, disse Regina Engel, bióloga do Centro de Zoonoses do município.
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