Febre maculosa: qual é o risco de o surto se espalhar por São Paulo?

Especialistas dizem que a ocorrência de três mortes e uma quarta suspeita acende alerta, mas chance de doença se alastrar por várias cidades é menor diante do fato de não haver transmissão pessoa para pessoa

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Foto do author Fabiana Cambricoli
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O Estado de São Paulo confirmou três mortes e investiga um quarto óbito por febre maculosa. As vítimas foram um casal de 42 e de 36 anos e uma jovem de 28 anos, que participaram de uma festa em Campinas. O quarto caso suspeito é de uma adolescente de 16 anos. A doença é transmitida pelo carrapato-estrela, mas não há contágio de pessoa para pessoa. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, diante do perfil de transmissão da doença, é pequeno o risco de a bactéria se espalhar por mais cidades. É necessário, porém, ter cuidado ao ir a áreas de risco e ficar atento aos sintomas.

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Parra Marcelo Simão, chefe do serviço de moléstias infecciosas do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), “é preciso que um monte de gente visite áreas que tenham muitos carrapatos e ocorram picadas” para uma escalada da doença. Hoje, segundo ele, as regiões consideradas endêmicas no Brasil são: interior do Rio e entorno de Campinas e Belo Horizonte.

Simão, ex-presidente Sociedade Brasileira de Infectologia, considera fundamental que a população nessas áreas receba alertas sobre os perigos associados ao carrapato-estrela. “Se for picado, é preciso buscar um médico”, ressalta.

Prefeituras, como a de São José dos Campos, instalam placas em locais onde é constatada a presença de capivaras, alertando para o risco da febre maculosa Foto: PMSJC /divulgação

Segundo o infectologista Rodrigo Angerami, já se considera que Campinas vive um surto da febre, uma vez que foram confirmados 3 casos no mesmo local. Mas, considerando o tipo de vetor e o fato de não haver transmissão de pessoa para pessoa, ele não vê risco de disseminação em caráter epidêmico.

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“Novas áreas de transmissão, em geral, surgem a partir de fatores que envolvem o deslocamento de hospedeiros com carrapatos infectados”, diz ele, coordenador do Núcleo de Vigilância Epidemiológica do Hospital das Clínicas da Unicamp. Além das capivaras, carrapatos podem ‘viajar’ em bois e cavalos.

Conforme a Secretaria do Estado da Saúde, as pessoas que moram ou se deslocam para áreas de transmissão precisam estar atentas ao menor sinal de febre e procurar um serviço médico informando que estiveram nessas regiões para fazer tratamento precoce e evitar o agravamento da doença. As áreas onde sabidamente há carrapatos devem ser evitadas. A maior ocorrência de casos de febre maculosa se dá entre junho e setembro.

O que explica alta taxa de letalidade da febre maculosa?

Segundo Angerami, a elevada taxa de letalidade da febre maculosa (em São Paulo, é de cerca de 75%) pode ser explicada, em grande parte, por um conjunto de fatores. Entre eles, está que a dificuldade de reconhecer a febre maculosa como hipótese por causa do quadro clínico similar a outras doenças mais prevalentes, como dengue e leptospirose. Também influenciam a suspeita tardia da doença e o uso de antimicrobianos não preconizados.

A doença é transmitida pelo carrapato-estrela, que se hospeda em bois, cavalos, cães e, principalmente, na capivara Foto: Helvio Romero/Estadão

“A doença é endêmica e não conseguiremos eliminar o carrapato vetor em várias áreas, como as de mata. É papel dos órgãos de vigilância municipal e estadual adotar ações educativas para as pessoas que residem, trabalham ou frequentam áreas onde possa haver presença do vetor, do risco de parasitismo”, afirma Angerami.

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Sabendo do risco, em caso de sintomas como febre, dor de cabeça e no corpo, manchas avermelhadas na pele, a pessoa deve procurar a unidade de saúde e informar ao médico que frequentou área onde pode ter sido picada. Outro eixo importante de atuação, segundo ele, é sensibilizar profissionais de saúde. “Se alguém vem da região amazônica com febre, sempre se considera a hipótese de malária, mas não se tem o mesmo cuidado de fazer isso com pessoas que frequentaram áreas endêmicas de febre maculosa.”

Ao Estadão, a coordenadora de controle de doenças da secretaria, Regiane de Paula, disse que o governo não pode impedir que as pessoas frequentem esses locais, mas adverte que, para quem decidir ir, “todo cuidado é pouco”.

“As pessoas têm de saber que (esses locais de eventos) estão em áreas de risco e avaliar os riscos e benefícios. É uma decisão de cada um. Estamos ampliando a comunicação de risco na região. Já há placas no local, mas a prefeitura de Campinas vai instalar mais 2 mil placas alertando. Para quem decidir ir, tem que usar roupas compridas. Todo cuidado é pouco”, disse a epidemiologista.

Apesar da preocupação, Regiane diz que não houve aumento de casos e óbitos em comparação com anos anteriores nem há sinais de que a temporada atual será mais grave do que as anteriores. Até agora, foram registrados 12 casos da febre com seis óbitos, incluindo os três confirmados na última semana. Em 2022, foram 53 infectados, dos quais 37 morreram. Em 2021, foram 76 casos e 42 óbitos.

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“A gente não pode causar pânico, mas o alerta serve para que a gente possa monitorar e avisar as pessoas que frequentaram ou pretendem frequentar essas áreas”, afirma Regiane.

O infectologista Carlos Magno Fortaleza, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), vê a região de Campinas como bem preparada para fazer frente à febre maculosa. Isso porque a cidade tem áreas bem sinalizadas, especialmente no Parque Taquaral e nas áreas da Unicamp. “O problema é que o carrapato transmite em todas as suas formas, desde a larva, invisível a olho nu, passando pelas ninfas, que é o micuim, muito pequenino, até o carrapato adulto”, diz.

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