Fornecedora de oxigênio diz ter atingido limite de entrega para hospitais no Amazonas

Empresa pede para que governo avise de forma antecipada se houver necessidade de aumentar remessas; rede de saúde entrou em colapso por falta de insumo há duas semanas

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Por Liege Albuquerque e Vinícius Lima

MANAUS - O Amazonas corre o risco de novo colapso no fornecimento de oxigênio no Estado, caso a demanda diária, hoje superior a 80 mil metros cúbicos por dia, aumente nos próximos dias. Segundo a única produtora de oxigênio no Estado, a White Martins, nos últimos cinco dias, a empresa atingiu o limite máximo de entrega no Estado, de 80 mil metros cúbicos diários do produto, duas vezes e meia a capacidade de produção de sua planta em Manaus, que é de 30 mil metros cúbicos por dia.

No dia 14, os hospitais de Manaus entraram em colapso por causa da falta de oxigênio e pacientes morreram asfixiados. Diante da crise, o Amazonas recebeu remessas de cilindros enviadas pelo governo federal e também por doações, muitas delas articuladas pelas redes sociais. Segundo a reportagem apurou, o cenário de crise de duas semanas atrás ainda não se repete nas unidades de saúde, mas o aviso da White Martins acende o alerta no Estado. 

Homens carregam um cilindro de oxigênio no Hospital Universitário Getúlio Vargas em Manaus Foto: Raphael Alves/ EFE

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“Em paralelo, é imprescindível que as autoridades de Saúde mantenham o monitoramento constante da sua demanda no Amazonas, sinalizando apropriadamente e de forma antecipada qualquer incremento, real ou potencial, do volume de gases, bem como eventuais expansões das unidades hospitalares que demandem oxigênio, para que seja definido um plano de atendimento emergencial em conjunto com a White Martins e necessariamente terceiros, que serão necessários, dentro do limite da capacidade de cada agente”, diz nota da empresa enviada à reportagem.

O consumo diário de oxigênio no Estado, antes da crise do novo coronavírus, era de 14 mil metros cúbicos. Na semana em que os hospitais colapsaram, atingiu 76,5 mil metros cúbicos.Conforme o Estadão revelou, o governo estadual sabia pelo menos desde 23 de novembro que a quantidade de oxigênio hospitalar disponível seria insuficiente para atender a alta demanda provocada pela pandemia. A informação consta de projeto básico, elaborado pela própria pasta, para a última compra extra do insumo, realizada no fim de 2020. O governo Jair Bolsonaro também ignorou alertas sobre o problema de abastecimento no Amazonas. 

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Entre as iniciativas já adotadas pelo Governo do Amazonas para solucionar a incapacidade de fornecimento pela White Martins está o apoio das Forças Armadas para o transporte de oxigênio não só da White Martins como de outras empresas e doações para Manaus. O Governo do Amazonas também requisitou a produção de outras duas empresas locais que produzem oxigênio e que são de menor porte comparado à multinacional White Martins.

Busca por insumo ainda cria filas em Manaus

Em redes sociais, a demanda por oxigênio continua gerando filas em fornecedores em todos os bairros. “Meu pai não conseguiu atendimento médico no hospital particular, que está com gente esperando em maca. Contratamos médico e estamos gastando mais de R$ 4 mil só com oxigênio a cada 3 dias, numa operação de guerra buscando em todos os fornecedores, sempre em falta”, diz a comerciante Veranir dos Santos. Seu pai está desde a semana passada em uma UTI na sala de casa.

Segundo uma fonte do governo, a expectativa das autoridades é de que a demanda de oxigênio ultrapasse 120 mil metros cúbicos diários em fevereiro. Isso porque, além da covid, é esperada a ocorrência de outras doenças respiratórias no Estado por causa do inverno úmido manauara. A White Martins espera para os próximos dias tanques com 90 mil metros cúbicos de oxigênio, vindo de São Paulo por estrada e balsas. 

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Desde a segunda-feira, 25, uma das empresas do Distrito Industrial que fez uma das maiores doações de oxigênio na semana passada, a Honda, deu férias coletivas até 3 de fevereiro a cerca de 7 mil funcionários em Manaus. A fábrica produz motocicletas, quadriciclos e motores estacionários. Segundo nota da empresa, a medida foi tomada por causa do “ avanço da Covid-19 no Estado e pela indisponibilidade de insumos para a produção, afetada pela pandemia.”

Entre abril e maio do ano passado, quando o Amazonas teve o primeiro pico da pandemia, cerca de 30 mil trabalhadores do Polo Industrial de Manaus tiraram férias coletivas antecipadas. A assessoria da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) deve realizar levantamento nos próximos dias sobre quantas indústrias tiveram a mesma iniciativa neste mês.

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