Frequência com que você faz cocô pode melhorar (ou piorar) sua saúde; saiba qual é a ideal

Quando as fezes ficam muito tempo no intestino, as bactérias fermentam proteínas em vez de digerir a fibra dos alimentos, gerando toxinas

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Por Layla Shasta

Todos sabemos que fazer cocô é uma parte inevitável do nosso dia a dia, mas uma nova pesquisa norte-americana sugere que a frequência das nossas idas ao banheiro pode ser mais importante do que imaginamos. Publicado na revista Cell Reports Medicine nesta terça-feira, 16, o estudo revelou que evacuar uma ou duas vezes por dia é o ideal para a saúde no longo prazo – embora não seja a realidade de muita gente.

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A pesquisa, realizada por cientistas do Instituto de Biologia de Sistemas (ISB) de Seattle, nos Estados Unidos, investigou os hábitos intestinais de mais de 1,4 mil adultos saudáveis. Os participantes consentiram em ter sua saúde, dieta e estilo de vida pesquisados por meio de um questionário extenso, juntamente com coleta de sangue e fezes para geração de dados.

Foi assim que os pesquisadores descobriram que a frequência de evacuação impacta diretamente a microbiota intestinal e está ligada a condições como doença renal crônica ou demência.

Estudo sugere que evacuar uma ou duas vezes por dia é importante para manter a saúde do corpo todo Foto: Lazy_Bear/Adobe Stock

Johannes Johnson-Martinez, autor principal do estudo, explicou, em comunicado do ISB à imprensa, que o motivo por trás disso é que o acúmulo de fezes no intestino por um período prolongado leva ao consumo total da fibra alimentar pelas bactérias.

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A fermentação da fibra, com ajuda dos microorganismos, gera ácidos graxos de cadeia curta que são benéficos para a saúde. No entanto, o consumo total delas, e sua consequente escassez, leva as bactérias a buscarem outras fontes de energia, como proteínas. Por sua vez, a fermentação de proteínas pelas bactérias produz toxinas que podem ser absorvidas pelo sangue e causar problemas de saúde.

Trabalhos anteriores já haviam mostrado que a constipação está associada a uma mudança em todo o ecossistema da fermentação de fibras. Mas agora os cientistas investigaram como essa mudança afeta os estados biológicos de adultos saudáveis antes do desenvolvimento de doenças.

Os resultados indicam que há diferenças significativas na abundância de tipos específicos de bactérias no intestino, nos metabólitos presentes no sangue e nos hábitos de vida entre os grupos estudados. Essas diferenças estão associadas a questões como inflamação, saúde do coração, e função do fígado e dos rins.

Especificamente, subprodutos da fermentação de proteínas, conhecidos por causar danos aos rins, como sulfato de p-cresol e sulfato de indoxil, se mostraram enriquecidos no sangue de pessoas que relataram constipação, enquanto produtos químicos clínicos associados a danos no fígado foram elevados em sujeitos que relataram diarreia.

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Além disso, “a constipação crônica tem sido associada a distúrbios neurodegenerativos e à progressão da doença renal crônica em pacientes com doença ativa”, disse Sean Gibbons, professor associado do ISB e um dos autores do artigo. “No entanto, não está claro se as anomalias do movimento intestinal são ou não causas precoces de doenças crónicas e danos nos órgãos [...] ou são apenas uma coincidência”, afirmou o pesquisador, também em comunicado.

A frequência ideal

Os pesquisadores também mostraram que a composição do microbioma intestinal dos participantes do estudo era um sinal revelador da frequência de evacuações.

Bactérias intestinais fermentadoras de fibra, frequentemente associadas à saúde, pareciam prosperar entre pessoas com uma regularidade de evacuação de uma a duas vezes por dia, definida como uma “zona ideal” de frequência.

No entanto, as bactérias associadas à fermentação de proteínas ou ao trato gastrointestinal superior tendiam a ser enriquecidas naqueles com constipação e diarreia, respectivamente.

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O resultado sugere, ainda, que o acúmulo de toxinas derivadas da microbiota associadas à frequência de evacuação anormal precedem os danos aos órgãos e podem ser causadores de doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento.

O segredo dos que evacuam com facilidade

A chave para entrar na zona ideal também foi representada. Não é de surpreender, mas aqueles que relataram seguir uma dieta rica em fibras, melhor hidratação e exercícios regulares tenderam a alcançar o número ideal de idas ao banheiro.

No estudo, aqueles com maior ingestão semanal de lanches se mostraram mais propensos a estar na categoria de frequência de evacuação baixo-normal, e aqueles com maior ingestão semanal de vegetais e ingestão semanal de frutas eram mais propensos a estar na categoria de alto-normal.

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O segredo se estende para a realidade brasileira e é aconselhado pelos médicos. O gastroenterologista e hepatologista Mario Kondo, do Hospital Sírio-Libanês, confirma. Para ter um bom trânsito intestinal, o caminho é um: “agua, atividade física, fibras e bons hábitos”, reitera.

Gibbons destacou a importância da regularidade ao fazer cocô e dos dados da pesquisa, observando: “no geral, este estudo mostra como a frequência das evacuações pode influenciar todos os sistemas do corpo e como pode ser um importante fator de risco no desenvolvimento de doenças crônicas”, disse.

Kondo explica que, nos últimos anos, a possibilidade de analisar a microbiota, popularmente chamado de “flora intestinal”, tem trazido novos horizontes a respeito das interações entre o intestino e a saúde em geral. Apesar disso, ele explica que o estudo norte-americano é exploratório, isto é, busca descobrir cenários que ainda não foram descobertos, mas ainda está em estágio inicial.

Por isso, o médico afirma que seus achados ainda não podem ser considerados definitivos, especialmente para nós, brasileiros, pois se referem a uma população diferente. No entanto, ele destaca que a pesquisa é relevante, ao passo em que levanta a suspeita sobre a relação entre a frequência das evacuações e os metabólitos sanguíneos.

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Como conclui Gibbons, “estas informações podem informar estratégias para gerir a frequência dos movimentos intestinais, mesmo em populações saudáveis, para otimizar a saúde e o bem-estar.”

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