Gominhas e outras formas de suplementação fazem o cabelo crescer? Veja o que a ciência diz

Produtos são encontrados às dezenas nas farmácias, mas não têm efeitos garantidos, explicam dermatologistas

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Por Fernanda Bassette

Não é preciso pesquisar muito para encontrá-los: basta uma rápida olhada nas redes sociais ou nas prateleiras de farmácias para encontrar uma infinidade de ofertas de suplementos vitamínicos com foco em cabelos. São comprimidos, cápsulas, gomas e até balinhas que prometem acelerar o crescimento dos fios, dar brilho, ajudar a fortalecer as madeixas e ainda evitar a queda. Mas será que isso funciona mesmo?

A verdade é que a suplementação pode até ser benéfica para a saúde dos fios, mas somente quando há comprovada deficiência de algum nutriente no organismo. Isso significa que não existe pílula milagrosa, já que o nosso cabelo funciona como uma planta e tem um ciclo: ele nasce, cresce, repousa e cai. A taxa de crescimento é estável e, na maioria das vezes, os fios crescem em média 1 centímetro por mês. O consumo de suplementos vitamínicos pode melhorar a nutrição local, mas não muda a taxa de crescimento dos fios.

Suplementos são vendidos em diversos formatos e prometem dar força e brilho aos cabelos Foto: Tinatin/Adobe Stock

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“Estamos seguindo uma tendência americana de alto consumo de suplementos que não precisam de prescrição e são vendidos livremente nas farmácias. Temos um arsenal com centenas de composições e fórmulas com diferentes promessas. São produtos de fácil acesso, baixo custo e fácil tolerabilidade, mas nenhum deles vai funcionar se não houver um problema de fato”, alerta a dermatologista Juliana Campos, integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e especialista em cabelos.

Então, antes de sair em busca do melhor suplemento para o cabelo, o ideal é procurar ajuda médica quando sentir que os fios estão com algum problema. Os sinais são fáceis de serem percebidos: quando há falta de algum nutriente, os fios ficam mais porosos, com mais frizz e mais quebradiços. “Esse enfraquecimento muda a textura do cabelo e a própria pessoa percebe que tem algo errado”, diz Ana Carina Junqueira, dermatologista especialista em cabelos.

O diagnóstico, no entanto, deve ser feito pelo médico especialista, que vai pedir alguns exames de sangue para dosagem de nutrientes no organismo – entre eles ferro, zinco e vitamina B12, essenciais para a saúde dos fios. São esses resultados que vão mostrar ao médico se o cabelo está realmente com problemas e se vale apostar em um suplemento, o qual pode ser manipulado de acordo com as necessidades individuais do paciente.

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O eflúvio telógeno, por exemplo, é uma queda abrupta de cabelo que costuma acontecer no pós-parto, depois de infecção por covid-19, após uma cirurgia ou em situações de estresse crônico. Esse problema causa perda de cabelos cerca de três meses após o fator desencadeante, mas costuma cessar espontaneamente. “Muitas pessoas se desesperam, compram um suplemento por conta, e acreditam que a melhora foi por causa do suplemento, quando na verdade ela aconteceria de qualquer forma”, afirma Juliana.

Biotina é a vedete

A grande vedete dos suplementos é a biotina (vitamina B7), encontrada em praticamente todos os produtos voltados a cabelos e unhas. Ela é um nutriente essencial para o organismo e tem uma ação cientificamente comprovada no fortalecimento das unhas. “Cabelos e pele vieram como adicionais, sem uma comprovação científica clara”, pondera Juliana.

O problema, explica a médica, é que a biotina vem sendo usada em uma quantidade muito maior do que a necessária para o organismo e o uso indiscriminado dessa vitamina interfere diretamente na dosagem de exames da tireoide, por exemplo, podendo levar a diagnósticos equivocados. “Muitas mulheres fazem exames de tireoide e o resultado vem alterado. Elas não se dão conta de que estavam tomando um suplemento que pode ser o responsável por essa alteração”, alerta.

Juliana ressalta ainda que a suplementação de biotina deve ser indicada pelo médico ou nutricionista somente quando não for possível obter a quantidade ideal dessa vitamina por meio da alimentação – já que ela pode ser encontrada naturalmente em alimentos como amêndoas, avelãs, nozes, cereais integrais, ovos, banana e até no arroz.

Outro ponto destacado pelas especialistas é que o corpo tem um limite para absorver e tolerar vitaminas. Apesar de o senso comum entender que vitaminas fazem bem, o excesso delas pode fazer mal.

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“As vitaminas A, D e E, por exemplo, se forem ingeridas em excesso podem causar danos sistêmicos e até prejudicar a absorção de outras vitaminas essenciais para o corpo”, diz Ana Carina. Vale ressaltar que esse consumo exagerado raramente acontece pela alimentação natural – daí a importância do acompanhamento médico antes de usar qualquer suplemento.

Dicas para ter o cabelo saudável

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A primeira dica das especialistas para manter os fios saudáveis é seguir uma dieta equilibrada e saudável, rica em proteínas, vitamina B, ferro, vitamina D, ômega-3 e zinco. Uma sugestão é ingerir ao menos 100 gramas de proteína por dia. Aumentar o consumo de legumes e de verduras verde-escuro também ajuda na absorção do ferro. Sementes de girassol e de abóbora são indicadas.

“Nosso cabelo é formado basicamente por proteínas e minerais. Muito melhor do que tomar suplementos é buscar um equilíbrio nutricional, com uma dieta saudável. Os suplementos só vão funcionar se a pessoa tiver deficiência daquele nutriente que está repondo”, frisa a tricologista Ana Carina.

Além da dieta, o estilo de vida interfere na saúde dos fios e a recomendação é melhorar o gerenciamento e controle do estresse – o cortisol (hormônio do estresse) altera o ciclo capilar e pode acelerar a queda dos cabelos. Manter o sono adequado é outro cuidado importante, porque o ciclo capilar acompanha o ciclo do sono e dormir mal pode piorar a queda. “Um corpo que não dorme fica em estado de alerta e o cérebro entende que aquele corpo precisa de energia. Essa energia vai ser retirada dos cabelos”, explica Juliana.

Outros pontos fundamentais incluem cuidar da parte hormonal, principalmente para mulheres acima de 40 anos, e evitar o uso excessivo de medicamentos, pois existem alguns remédios que interferem no ciclo capilar e podem levar à queda de cabelos. “Os polivitamínicos são a solução mais rápida e acessível para tampar o sol com a peneira. Tem muito efeito placebo, mas é preciso lembrar que, por trás disso, existe uma indústria enorme”, finaliza a médica.

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