SÃO PAULO – As mortes por covid-19 caíram no Estado de São Paulo pela 1ª vez em 2022, divulgou nesta quarta-feira, 23, o governo paulista. A média móvel de óbitos diários, que ainda segue superior à apresentada em janeiro, foi de 272 (entre os dias 6 a 12 de fevereiro) para 242 na última semana (de 13 a 19 de fevereiro). A queda registrada foi de 11,1%.
Recentemente, o Estado voltou a ter menos de 50% de ocupação das enfermarias voltadas ao tratamento da covid-19, segundo dados divulgados pelo governo. A porcentagem caiu de 58% para 47%, enquanto a ocupação de UTIs caiu de 68% para 58% nos últimos sete dias. A queda ocorre após um pico causado pela variante Ômicron em dezembro e janeiro.
"O avanço da vacinação foi o grande responsável por evitar que a variante Ômicron causasse uma mortalidade em grande escala em São Paulo", disse o governador João Doria (PSDB), destacando também que as quedas nas internações acontecem há três semanas consecutivas. "É importante, porém, alertar que, quem ainda não tomou a sua dose de reforço, faça isso", acrescentou.
Atualmente, 91,85% da população de São Paulo, ou 37,8 milhões de habitantes, receberam ao menos a 1ª dose da vacina contra covid. Ao mesmo tempo, 81,73% do total, o equivalente a 41,3 milhões de indivíduos, estão com o esquema inicial completo (ou seja, receberam duas doses ou dose única). Menos da metade dessas pessoas, 19,9 milhões, receberam a 3ª aplicação.
No caso da vacinação infantil, 2,8 milhões de crianças de 5 a 11 anos foram vacinadas com a 1ª dose, ou cerca de 65,3% desse público. Há uma semana, o índice estava em 50%, o que fez o governo iniciar no último sábado, 19, a "Semana E", criada para fazer busca ativa de crianças em escolas e, com isso, tentar aumentar a cobertura vacinal. A ação se estende até a próxima sexta-feira, 25.
Como mostrou o Estadão, a desinformação e o estoque baixo têm travado a imunização de crianças no Brasil. O governo de São Paulo procura, em meio a isso, aumentar a cobertura vacinal desse público e, além disso, o engajamento dos adolescentes que estão nas escolas e que não completaram o esquema vacinal.
"Nossa compreensão é de (o Estado) estar na fase, felizmente, descendente de transmissão da Ômicron, seguindo muito o padrão que tem sido observado em todo o mundo", apontou Paulo Menezes, coordenador do comitê científico.
Ele reforçou a importância de seguir com a adoção de medidas voltadas para conter a contaminação pelo coronavírus, como o uso de máscaras, e também destinadas a avançar a imunização. "Nós conseguimos construir grandes defesas (contra a pandemia), a principal delas é a vacinação, que tem sido tão bem sucedida aqui no Estado de São Paulo, mas nós temos que continuar sempre tendo que enfrentar esse desafio", disse Menezes.
Ainda com a tendência de queda apresentada pelos indicadores de São Paulo, a média móvel de mortes diárias por covid segue em patamar superior aos que foram observados em janeiro. Enquanto o índice de óbitos ficou em 272 na última semana, no primeiro mês do ano, quando havia alta de casos por conta da variante Ômicron, ele oscilou entre 22 e 198.
Diretor da Fiocruz SP e professor de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Rodrigo Stabeli aponta que a queda nas mortes já era esperada. “É natural que, duas semanas após a queda no número de casos e internações, a gente comece a ter também a queda no número de óbitos”, explica.
Isso está sendo observado de forma clara em São Paulo, justifica Stabeli, sobretudo porque o Estado foi um dos primeiros a ter aumento na incidência da variante Ômicron e, por consequência, de internações e óbitos. Por outro lado, ele aponta que em Estados como Rondônia, por exemplo, a queda nas mortes pode levar um pouco mais de tempo a ser observada, uma vez que as infecções também ocorreram depois.
O professor reforça que é difícil fazer previsões em relação aos próximos meses e ao andamento da pandemia, mas destaca alguns pontos que julga importantes. “Até agora, a gente não vê indícios de aumento no número de casos. Então, a gente pode esperar que os óbitos continuem caindo”, aponta Stabeli.
“Agora, nós não podemos dizer sobre a previsão de incidência. A gente tem visto um aumento – sutil, mas um aumento – na Europa, por causa da cepa BA.2 (sublinhagem da Ômicron), e isso pode ser que aconteça no Brasil também”, acrescenta o professor, destacando que a Fiocruz SP está monitorando o cenário. “Temos aí o carnaval, que é algo que acaba acontecendo uma aglomeração natural, e aí a gente tem que esperar para ver qual é o comportamento do vírus com essa festa que vem por aí.”
Quarta dose da vacina contra covid em idosos
Na última semana, o governo de São Paulo confirmou que prevê iniciar no dia 4 de abril a aplicação da 4ª dose da vacina contra a covid-19 em idosos sem comorbidades no Estado. Segundo o médico João Gabbardo, coordenador-executivo do comitê científico que assessora a gestão paulista, objetivo é começar com a imunização do público com mais de 90 anos e ir reduzindo, de forma sucessiva, as faixas etárias que receberão as vacinas, até chegar ao grupo de 60 anos.
O Ministério da Saúde recomenda a administração desse novo reforço apenas em pessoas com comorbidades com 12 anos ou mais. Ainda assim, o Mato Grosso do Sul já começou a vacinar idosos acima de 60 anos e profissionais de saúde com a 4ª dose da vacina. Ao menos outros quatro governos admitem estudar a medida: além de São Paulo, os Estados do Espírito Santo, do Acre e do Ceará. No interior paulista, Botucatu já tem aplicado a 4ª dose no grupo mais velho. Não há consenso científico sobre a necessidade de adotar a medida.
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