O Brasil tem desde domingo, 17, duas vacinas aprovadas para o uso emergencial contra o coronavírus. Mas nem o Instituto Butantã e o laboratório chinês Sinovac nem a Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica AstraZeneca têm uma base de dados robusta no que diz respeito à eficácia e aos riscos do imunizante em grávidas. Os estudos devem começar em breve, e é por isso que especialistas têm cautela na hora de responder se gestantes devem ou não tomar a vacina. Para essa pergunta, a resposta dos especialistas agora é: vai depender do caso.
Caso a gestante pertença a algum grupo de risco - seja ela obesa, hipertensa ou diabética -, deve ser informada de que se trata de uma vacina nova, ainda não testada para o caso dela. Mas, mesmo assim, ser infectada pela covid-19 representa um risco maior que o de ser vacinada.
“A decisão deve ser compartilhada com o médico que a acompanha, o pré-natalista e o obstetra”, disse Cecilia Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “A gente ainda não tem a capacidade de avaliar os riscos para as lactantes e as gestantes, especialmente. A gente não sabe as consequências em termos de aborto, parto prematuro, ruptura prematura da bolsa. Por isso que tem de ser avaliado pelo obstetra.”
A cautela dos especialistas está longe de ser uma desconfiança em relação às vacinas aprovadas no País. O cuidado se deve ao fato de se tratar de um imunizante sobre uma doença ainda relativamente desconhecida da ciência. A posição adotada pela Febrasgo está em linha com o que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês) adotou nos Estados Unidos. “A plausibilidade de uma vacina dessa causar algum malefício é mínima. A chance da covid é real. É esse balanço que precisa ser discutido com a gestante”, disse Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
A Coronavac é feita com uma plataforma já conhecida da ciência brasileira: o vírus inativado, morto. Já a vacina de Oxford é composta por uma partícula viral que não se multiplica e é inserida no adenovírus de chimpanzés. Essas duas plataformas são seguras, na opinião do infectologista pediátrico Marcelo Otsuka, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
“Não é uma questão de ser contraindicada, mas sim de não haver indicação. A vacina não foi estudada em crianças ou gestantes, mas isso pode mudar a partir do momento em que forem estudadas nesses grupos. Não há investigações em grupos de risco específicos como pacientes oncológicos, mas, a princípio, não há risco para essas pessoas”, disse Otsuka. “O que é provável de acontecer é que, quando você estudar pacientes imunodeprimidos (com baixa imunidade), talvez a vacina seja menos eficaz. Mas, contraindicação por causa das características da vacina, não há até este momento."
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