Com a chegada do frio, aumentam as queixas de nariz congestionado, tosse, coriza... Diante desses sintomas, muita gente se questiona se enfrenta um resfriado, uma gripe ou a covid-19.
De fato, algumas repercussões das três doenças são bem parecidas. Mas cada quadro tem suas características próprias – do agente causador à forma de tratamento.
De olho nisso, o Estadão reuniu especialistas para esclarecer as diferenças entre as três situações e o que deve ser feito em cada caso.
Causas
Assim como a covid-19, que é provocada pelo coronavírus, os agentes por trás da gripe e do resfriado também são vírus. No caso do resfriado, é o grupo dos rinovírus. Já a gripe é motivada pelo vírus influenza, sendo que os mais comuns são os tipos A e B, responsáveis pelas epidemias sazonais em épocas mais frias.
O aumento na incidência de doenças respiratórias nessa época do ano se deve à tendência de as pessoas passarem mais tempo aglomeradas dentro de lugares fechados, segundo o infectologista Heber Azevedo, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Dessa maneira, há um aumento na concentração dos vírus nesses ambientes.
Contudo, a doença que mais obedece a essa sazonalidade é a gripe. O resfriado, embora seja mais comum nesse período, é bastante prevalente em outras épocas. A covid-19 também tem apresentado uma incidência mais constante em termos de fases do ano.
Além dessas doenças, é preciso ter atenção para a circulação de outros patógenos nessa época do ano, como o vírus sincicial respiratório (VSR), que pode causar bronquiolite e pneumonia principalmente em recém-nascidos e crianças menores de 5 anos.
Sintomas
Segundo Azevedo, até os médicos têm dificuldade em definir de qual infecção se trata com base apenas em sintomas clínicos. Afinal, em um primeiro momento, resfriado, gripe e covid podem causar coriza ou congestão nasal, dor de garganta leve e, muitas vezes, irritação nos olhos.
Mas, se for um resfriado, a partir do terceiro ou quarto dia a tendência é ocorrer um alívio dos sintomas. Já a gripe costuma piorar entre o segundo e o terceiro dia a partir da infecção. A covid, por sua vez, incomoda mais do quinto para o sexto dia.
“Tanto a covid quanto a gripe costumam ter mais manifestações sistêmicas. Ou seja, além desses sinais no trato respiratório, há um quadro de mal-estar, desânimo, dores musculares e febre”, descreve o também infectologista Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Azevedo ainda aponta cansaço, redução do apetite e tosse acompanhada de falta de ar como possíveis indícios de quadros mais complexos.
Cabe destacar que, no caso da covid-19, muita coisa mudou desde as primeiras campanhas de vacinação. Atualmente, os impactos da doença costumam ser leves e, muitas vezes, o paciente sequer apresenta sintomas. Mesmo assim, é preciso tomar cuidado, pois ainda há quadros que evoluem para situações mais graves e até morte.
O que fazer em caso de suspeita
“Se você tem qualquer sintoma respiratório, use máscara”, recomenda o infectologista da BP. A troca do acessório é indicada a cada duas horas. Mas o médico diz entender que a rotina das pessoas muitas vezes dificulta esse hábito e, por isso, orienta a substituição, no mínimo, diariamente – ou sempre que a máscara estiver suja. Ela garante a proteção das pessoas em volta, sobretudo quando ainda não se sabe qual o tipo de vírus em questão.
Na presença de qualquer sintoma mais intenso, que não seja típico de um simples resfriado, a recomendação é procurar imediatamente um médico ou ir até um posto de saúde para realizar um teste. Há diversos tipos disponíveis, tanto para gripe quanto para covid, e os resultados não demoram a sair.
Stanislau aponta que uma boa opção disponível nas farmácias é o teste combinado, que vale para influenza A e B e covid. Assim como os testes rápidos de posto de saúde, o resultado sai em cerca de quinze minutos. Além disso, há opções nas farmácias exclusivas para a covid.
Em laboratórios e hospitais, há exames mais sofisticados (e com custos mais elevados), que podem identificar mais de 20 agentes de doenças respiratórias. Um médico pode indicar qual o método de investigação mais adequado para cada caso.
Segundo Azevedo, pacientes com alergias respiratórias precisam ter atenção redobrada aos sintomas. Isso porque, muitas vezes, acreditam se tratar de uma crise alérgica, mas estão encarando, na verdade, as repercussões iniciais de uma doença mais grave.
Tratamento
Segundo os especialistas ouvidos, o resfriado é uma doença branda. Na prática, o estado geral do paciente costuma ser preservado, e não há risco de evolução para casos mais graves. Sendo assim, a indicação é utilizar medicações apenas para aliviar possíveis sintomas desconfortáveis.
Já no caso de síndrome gripal, o protocolo em vigor pelo Ministério da Saúde orienta recorrer a um medicamento chamado oseltamivir, mais conhecido pelo nome comercial Tamiflu – ele também é indicado para tratar a síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Esse antiviral é distribuído exclusivamente na rede pública sob prescrição médica, e deve ser administrado nas primeiras 48 horas de sintomas, com base em alguns critérios específicos.
“Ele é um remédio que a gente recomenda para pessoas idosas, com doenças crônicas, com comorbidades, com doenças pulmonares crônicas ou para pacientes hospitalizados por gripe”, esclarece Stanislau. O médico ressalta que, muitas vezes, a gripe não é considerada uma doença grave, mas ela pode evoluir para infecções mais complicadas, como pneumonia, e levar à morte.
Para a covid-19, também há medicação disponível e com distribuição gratuita. É uma associação dos antivirais nirmatrelvir e ritonavir (NMV/r). Ela é recomendada para pacientes com diagnóstico confirmado para covid com quadro leve ou moderado, independente da condição vacinal e obedecendo a critérios específicos elaborados pelo Ministério da Saúde.
Para todas as doenças citadas, Azevedo reforça que não devem ser administrados antibióticos, pois eles não servem para o tratamento de doenças causadas por vírus.
Prevenção
“A melhor opção que temos é a vacina”, defende Azevedo. De acordo com ele, cada vacina tomada nas campanhas anuais contra a gripe, por exemplo, representa um apoio extra para o organismo, contribuindo para uma melhor resposta imunológica. Ao focarmos na covid, o especialista afirma que um esquema vacinal com pelo menos três doses já reduz significativamente os riscos de internação.
Stanislau reforça: “Não dá para dizer que, tomando a vacina, você não vai ter nada, porque mesmo pessoas vacinadas podem se contaminar. Mas a gente pode dizer que quem toma a vacina tem infecções mais brandas. O objetivo é diminuir formas graves, internações e mortalidade”.
A importância da higienização correta das mãos com sabão ou álcool em gel é enfatizada por Azevedo: “Todos os aprendizados que a gente teve com a covid também valem para gripe e resfriado”, resume.
Além disso, Stanislau recomenda que pessoas com doenças crônicas e idosos se vacinem contra a bactéria pneumococo, que pode acompanhar doenças virais e provocar pneumonia, sinusite e meningite.
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