O ator Tony Ramos, de 75 anos, passou na quinta-feira, 16, por uma drenagem de hematoma subdural. O Hospital Samaritano de Botafogo, no Rio, onde ele foi atendido, informou nesta quinta, 17, que o paciente respira sem auxílio de aparelhos, está lúcido e o estado de saúde é estável.
Um hematoma subdural ocorre quando sangue se acumula entre o crânio - mais especificamente dura-máter que é uma membrana que envolve todo o cérebro - e a superfície do cérebro (o espaço subdural), de acordo com o National Health Service (NHS), a organização dos serviços públicos de saúde no Reino Unido.
Mas por que o sangue se acumula ali? Um ou mais vasos sanguíneos deste espaço sofrem algum dano, o sangue escapa, e forma-se um coágulo sanguíneo (hematoma) que pressiona o cérebro.
Geralmente, o que ocasiona esse dano é um ferimento na cabeça (traumatismo cranioencefálico), que pode vir de uma causa mais violenta, como um acidente de carro ou uma queda de uma grande altura, ou até de pequenas pancadas.
Segundo o NHS, os sintomas podem incluir:
- uma dor de cabeça progressiva (ou seja, que piora ao longo do tempo)
- confusão mental
- mudanças de personalidade (como ser anormalmente agressivo ou ter rápidas mudanças de humor, de acordo com o NHS)
- sonolência
- problemas de fala
- problemas na visão
- perda de movimento de um lado do corpo
- dificuldade para caminhar e se manter em pé
- perda de consciência
Eles podem aparecer rapidamente depois do traumatismo, no que é chamado de hematoma subdural agudo. De acordo com as “Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Traumatismo Cranioencefálico” do Ministério da Saúde, de 2015, eles constituem até 60% dos hematomas pós-traumáticos. Segundo Guilherme Ribas, neurocirurgião do Hospital Israelita Albert Einstein, ele é acompanhado, em geral, por lesões cerebrais, como inchaço, por exemplo.
Os sintomas também podem surgir após alguns dias ou semanas, o hematoma subdural crônico. “Ocorre, em geral, pelo menos duas, três ou quatro semanas após um traumatismo”, aponta Ribas.
Segundo as diretrizes do Ministério, a condição é mais comum em idosos (31% entre 60 e 70 anos). “Principalmente em pessoas que tomam medicações que afinam o sangue, como se diz popularmente, que são os anticoagulantes e os antiagregantes, como aspirina, por exemplo”, completa Ribas.
“À medida que a população vem envelhecendo, mais frequentes são e mais frequentes serão esses hematomas subdurais crônicos. Estima-se que, mundialmente, isso venha em breve a ser a entidade mais prevalente na prática neurocirúrgica”, comenta.
Mais em Saúde
Diagnóstico
Segundo Ribas, a confirmação do diagnóstico é feita por exames de neuroimagem. “Ou tomografia computadorizada, ou, melhor ainda, uma ressonância magnética do crânio.”
Tratamento
Na maioria dos casos, é necessária cirurgia. Segundo o NHS, quando o hematoma é muito pequeno, é possível monitorar para ver se ocorre cicatrização, dispensando o procedimento.
“O hematoma subdural agudo sempre precisa ser drenado, em geral através de uma craniotomia”, fala Ribas. Uma abertura grande é feita no crânio para expor a região onde estão os coágulos. “Não são facilmente aspiráveis, precisam ser removidos.”
“No caso do hematoma subdural crônico, como é de desenvolvimento mais lento, o sangue acaba sendo degradado e ficando liquefeito, se misturando com o líquor (líquido que circula ao redor das estruturas cerebrais)”, explica. Então o cirurgião consegue performar um procedimento mais simples chamado de trepanação, no qual é aberto um orifício no crênio para drenar esse hematoma. “Ainda resta resíduo, mas ele vai ser progressivamente absorvido.”
Risco
O NHS classifica o hematoma subdural agudo como uma doença grave, pois apresenta “alto risco de morte, principalmente em idosos e naqueles cujo cérebro foi gravemente danificado”.
“O prognóstico depende da gravidade do trauma, de quanto o cérebro tiver machucado em função e outras lesões traumáticas”, aponta Ribas.
Segundo o NHS, a recuperação pode levar “muito tempo”, e deficiências físicas e problemas cognitivos, como problemas de memória e fala, são sequelas possíveis.
A perspectiva é melhor para hematomas subdurais crônicos. A maioria das pessoas se recuperam totalmente, segundo o NHS.
“Como tudo na medicina em geral, em neurologia particularmente, o que é muito importante é o diagnóstico precoce, já quando as pessoas começarem a apresentar qualquer esboço inicial de um quadro neurológico”, resume Ribas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.