Dados da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo indicam um aumento de 50,4% nos atendimentos ambulatoriais de pacientes com herpes-zóster entre 2022 e 2023. Enquanto 2022 contabilizou 4.400 atendimentos, em 2023 o número saltou para 6.700. Neste ano, só até fevereiro, o Estado já contabilizava mais de 1.400 atendimentos ambulatoriais e 80 internações de pacientes com a doença. A tendência de crescimento é observada desde 2019.
Segundo a pediatra Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a entidade vem observando esse movimento há um tempo e considera que o aumento de casos de zóster pode estar relacionado a dois fatores: exposição ao coronavírus, causador da covid-19 – que tende a gerar uma baixa da imunidade – e o fato de as pessoas estarem mais atentas à doença, resultando em maior busca por serviços de saúde.
O que é o herpes-zóster
O herpes-zóster, ou “cobreiro”, é uma doença causada pela reativação do vírus da catapora, o varicela-zóster (VVZ). Após a contaminação, que normalmente ocorre na infância, ele se “esconde” nos nervos e lá permanece adormecido por toda a vida do indivíduo. Ou melhor: nem sempre. Esse micro-organismo pode ser reativado quando há queda de imunidade, algo que costuma acontecer à medida que envelhecemos. Mas vale lembrar que as defesas do corpo também ficam abaladas quando não dormimos de forma adequada, comemos mal, vivemos estressados e encaramos outras doenças.
É importante ter atenção aos sintomas do zóster porque o quadro pode levar a complicações. A principal delas é a neuralgia pós-herpética, condição que provoca dor intensa e persistente, comprometendo a qualidade de vida. A boa notícia é que há vacina para evitar isso, embora ela não esteja disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
Vírus comum
O varicela-zóster está presente no organismo da maior parte das pessoas – entre todos aqueles que já desenvolveram catapora. “Estudos mostram que mais de 90% da população já teve contato com o vírus e, então, carrega ele no corpo”, explica o infectologista Rodrigo Lins, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O médico alerta, porém, que idosos apresentam maior risco de enfrentar a reativação desse micro-organismo, resultando no herpes-zóster. Isso porque, entre outras mudanças, o passar do tempo também leva ao envelhecimento do sistema imunológico. “O idoso passa a ter um sistema um pouco menos eficiente e, à medida em que ele envelhece, o risco desse vírus acordar e causar essa doença aumenta”, esclarece. O quadro é marcado sobretudo por lesões dermatológicas e dor.
Isso não significa, porém, que pessoas mais jovens não possam desenvolver a doença. Afinal, elas também podem experimentar momentos de baixa na imunidade, como citamos. Estima-se que uma em cada três adultos poderá sofrer com o herpes-zóster em algum momento da vida, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
Foi o caso do repórter da TV Globo Tiago Scheuer que, recentemente, usou as redes sociais para desabafar sobre sua experiência com a doença. “Confesso para vocês que senti muita dor”, disse o jornalista em vídeo publicado nas mídias digitais. “Começou com uma manchinha vermelha na minha barriga, e essa manchinha foi crescendo dia após dia. Depois, ocupou parte da lateral do corpo e das costas. Não entendendo nada, três dias depois eu procurei uma dermatologista”, contou.
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Os primeiros sintomas de herpes-zóster
Os sinais descritos por Scheuer fazem parte do quadro típico da doença, caracterizado por manchas e bolhas na pele, que provocam dor e queimação. Mas há alguns sintomas que podem anteceder o aparecimento das lesões no corpo. Segundo o Ministério da Saúde, são:
- Dores nos nervos
- Formigamento, agulhadas, adormecimento, pressão
- Ardor e coceira locais
- Febre
- Dor de cabeça
- Mal-estar
Um ou dois dias depois desses primeiros sinais, a pele fica avermelhada e surgem bolhas com líquido dentro, chamadas de vesículas. As regiões do corpo mais atingidas pela doença são o tórax, o pescoço e as costas.
Os sintomas tendem a desaparecer com o passar do dias, mas a doença pode deixar sequelas. A principal delas, a neuralgia pós-herpética, costuma causar dores que persistem três meses após o fim dos sintomas, ou até por anos. De acordo com Lins, há pessoas que podem passar a vida inteira com dor.
Formas de prevenção
Atualmente, há uma vacina contra o herpes-zóster em circulação. O imunizante, no entanto, só pode ser encontrado em clínicas e laboratórios privados – ou seja, não é oferecido gratuitamente pelo SUS. A vacina, chamada Shingrix, chegou ao Brasil em junho de 2022, segundo a SBIm, e está indicada a pessoas com imunocomprometimento a partir de 18 anos de idade e adultos com 50 anos ou mais. A Shingrix substituiu a vacina antiga (Zostavax), que só era indicada depois dos 50 anos e apresentava 51% de eficácia na proteção contra o herpes-zóster e 67% na prevenção de neuralgia pós-herpética.
Em estudos, a Shingrix mostrou mais de 90% de eficácia na prevenção do episódio agudo, mesmo entre idosos acima de 70 anos de idade. O esquema vacinal compreende duas doses, que são aplicadas com intervalo de dois meses, e custa em torno de R$ 1730.
“A gente sabe que nenhuma vacina é 100%, mas, mesmo que a pessoa tome e acabe desenvolvendo o zóster, o risco de desenvolver neuralgia pós-herpética é muito menor”, explica o consultor da SBI.
O Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI) do Ministério da Saúde informou ao Estadão que analisa a viabilidade da incorporação da vacina ao SUS. Além de considerações a respeito da legislação, “essas análises levam em conta critérios técnicos, científicos e de logística, além de evidências epidemiológicas e de eficácia e segurança do produto”, explicou o Ministério, em nota. O DPNI afirma que o objetivo é atender às pessoas imunossuprimidas com 50 anos de idade ou mais.
O que o SUS oferece às crianças, através do Programa Nacional de Imunizações (PNI), é a vacina contra a catapora (varicela). A primeira dose é aplicada aos 15 meses, como parte da vacina tetraviral (SCR-V). Segundo Lins, quem toma essa vacina na infância dificilmente vai desenvolver zóster ao longo da vida.
Mas ainda não há conclusões definitivas sobre o impacto protetor da vacina infantil na prevenção do zóster na vida adulta. Até porque esse imunizante contra a catapora é relativamente recente, e a maioria das pessoas imunizadas ainda não atingiu a faixa etária de risco para a doença. A diretora da SBIm diz que grande parte da população com 40 anos ou mais teve catapora na infância, quando ainda não existia a vacinação contra a doença.
Apesar de não ser comum, o vírus varicela-zóster pode ser transmitido por meio do contato direto com as lesões da pele da pessoa infectada. Por isso, é importante cuidar da higienização e separar objetos pessoais que entrarem em contato com as lesões. Cabe destacar que se um indivíduo adulto nunca teve catapora e pegar o vírus dessa maneira, ele desenvolverá primeiro a catapora, e não o herpes-zóster.
Como é o tratamento do herpes-zóster
Ele envolve o uso de medicamentos antivirais para diminuir a chance de disseminação viral e a ocorrência de fortes dores, especialmente em pessoas acima de 40 anos de idade. O tratamento correto ainda é essencial para impedir o surgimento de complicações.
Mas Lins alerta: “O protocolo deve ser iniciado nas primeiras 72 horas a partir dos sintomas. Então, é importante que as pessoas procurem a avaliação de um médico assim que perceberem os primeiros sinais, já que o melhor desempenho do tratamento é no início”, reforça.
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