Quem já teve catapora pode estar suscetível a manifestar o herpes zoster, doença causada pela reativação do vírus varicela zoster, e que provoca erupções cutâneas que podem causar muita dor.4
“No Brasil, mais de 94% da população já teve contato com o vírus varicela zoster²,3, causador da catapora. Ele pode ficar latente por décadas até que em algum momento volta a se reativar e provoca o herpes zoster”, explica Daniel Jarovsky, pediatra e infectologista da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Entre os fatores de risco para o desenvolvimento do herpes zoster está a idade avançada, já que com o passar dos anos, a capacidade do sistema imunológico diminui.4 “Além disso, outras condições associadas à baixa imunidade, como câncer, conviver com o HIV ou uso de medicações imunossupressoras, estão relacionadas ao aparecimento da doença”, diz Jarovsky, que atua também na equipe de Infectologia Pediátrica do Hospital Infantil Sabará.
Diferentemente da catapora, em que toda a pele pode ser acometida, explica o médico, o herpes zoster tende a se delimitar a uma região. “Geralmente, ele se localiza num dermátomo, ou seja, um trajeto de pele de um nervo específico”.
Lesões e muita dor
Foi assim com a fisioterapeuta Sônia Ferraz de Campos Matteo Ferraz, de São Carlos, interior paulista. Hoje aos 61 anos, ela conta que a doença surgiu no verão de 2000. “Comecei a ter muita dor e coceira na área embaixo dos seios. Como fazia muito calor, a princípio achei que era uma assadura. Meu irmão, que é médico, foi quem me alertou que poderia ser herpes zoster e recomendou que eu procurasse um dermatologista. Por ser em um lugar do corpo de muita transpiração, as pequenas bolhas, que apareceram uns quatro ou cinco dias depois, infeccionaram. Senti muita dor já nos primeiros dias. As lesões se estenderam do meio da base dos seios até o meio das costas”.
Diagnosticar e tratar o mais rápido possível
De acordo com Daniel Jarovsky, nas primeiras 48 horas, os sinais do herpes zoster podem ser o ardor na pele, incômodos inespecíficos, eventualmente mal-estar, febre, prostração.1 “Depois começam a surgir as típicas pequenas bolhas, fazendo um percurso na pele que costuma durar de sete a dez dias, variando para mais quando há a presença de condições imunossupressoras. Ao se iniciar o tratamento precocemente, a tendência é acelerar o processo de recuperação e a duração é menor”, complementa o infectologista.
Por isso, é tão importante buscar ajuda o quanto antes diante de manchas, formigamentos, queimação na pele e outros desconfortos que chamem atenção. “O diagnóstico, essencialmente clínico, é feito pelo levantamento da história do paciente, sua faixa etária, condições de saúde, eventuais tratamentos pelos quais está passando”, esclarece Jarovsky. Exames laboratoriais só são solicitados em quadros graves, com lesões disseminadas pelo corpo, ou casos de manifestações atípicas, quando é necessário fazer um diagnóstico diferencial de outras doenças.5
O tratamento, à base de antivirais e analgésicos, deve preferencialmente se iniciar dentro de no máximo 72 horas.1 “Isso porque qualquer medicamento antiviral tem que aproveitar essa janela para ter uma melhor eficácia”, ressalta o especialista. “Há situações em que as lesões se localizam em áreas críticas, muito sensíveis, como a face, com aumento de risco de dano à visão ou mesmo de AVC e doenças cardiovasculares”.
Quando a dor persiste
Entre as complicações desencadeadas pelo herpes zoster, uma das mais temidas é a chamada neuralgia pós-herpética.4 “Trata-se de uma condição neurológica que pode demorar semanas, meses ou até anos após a resolução dos sintomas iniciais da doença, levando a uma queda da qualidade de vida importante, principalmente em idosos”.
Aos 70 anos, Cecilia Carrijo Franco, professora de música para crianças de Uberlândia (MG), ainda hoje sente os reflexos da doença da qual se tratou há mais de seis anos.
“Comecei a ter uma dor nas costas, que foi aumentando, mas não havia nenhum outro sinal na pele. Uns 15 dias depois, eu já não aguentava mais e fui ao médico. Queria fazer um raio-x para ver se tinha algo no pulmão. Curioso é que, embora a dor fosse nas costas, notamos uma pele mais grossa em cima do peito, como um cobreirinho. O médico logo desconfiou do herpes zoster e fui medicada com antiviral, mas a dor intensa não diminuía, parecia que embaixo do braço estava em carne viva. Precisei fazer tratamento específico para dor, mas ela não passou completamente. Até hoje sinto, fiquei com essa sequela. Não que seja constante, mas não foi embora para sempre. A gente acaba se acostumando. Busquei fazer trabalho voluntário como estratégia para me acalmar e conviver com ela”.
Quem não teve catapora pode ter herpes zoster?
Daniel Jarovsky lembra que são bem raros os casos de adultos que não tiveram algum contato com o vírus varicela zoster, que causa tanto a catapora quanto o herpes zoster.4 “De todo modo, a transmissão do vírus varicela zoster ocorre, principalmente, pelo contato com as bolhas que se formam na pele. Se a pessoa toca a lesão com uma parte do corpo com alguma arranhadura ou machucado, ou leva o vírus para a mucosa oral, aumenta o risco do contágio e de ter, primeiro, a catapora”, explica. Inclusive as pessoas que não tiveram a manifestação clássica da catapora, podem ter entrado em contato com o vírus e desenvolver o herpes zoster normalmente em algum momento da vida.1
Uma vez desencadeada a doença, o que se deve evitar para não piorar as lesões?
Uma das complicações do quadro são as infecções bacterianas em cima da erupção do herpes zoster, alerta Jarovsky. Portanto, é preciso zelar pela higiene local, limpando com água e sabão.¹
Estilo de vida é a chave da prevenção?
Manter a imunidade em alta pode ajudar a mitigar o risco de despertar o vírus do herpes zoster.4 Para isso, a estratégia é investir em alimentação saudável, hidratação, exercício físico regular e boas noites de sono.6 “São recomendações que valem para prevenir muitas outras doenças. E elas, aliás, estão atreladas ao planejamento de um envelhecimento mais saudável”, finaliza Jarovsky.
Converse com seu médico para mais informações.
Referências:
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Herpes (Cobreiro). Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/herpes>. Acesso em 30 de outubro de 2023.
2. CLEMENS, S. Et al. Soroepidemiologia da varicela no Brasil – resultados de um estudo prospectivo transversal. Jornal da Pediatria, v. 75, n. 433-441, 1999.
3. SOUZA, V.:PANUTTI, C.;REIS,A. Prevalência de anticorpos para o vírus da varicela-zoster em adultos jovens de diferentes regiões climáticas brasileiras. Disponível em:https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/qZGCS59hfFSzGrDPDxGLpLR/?lang=pt. Acesso em 30 de outubro de 2023.
4. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Prevention of herpes zoster: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR, v. 57, RR-5, p. 1-30, 2008.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Herpes (cobreiro) / Diagnóstico. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/herpes/diagnostico>. Acesso em: 11 out. 2023.
6. HARVARD HEALTH PUBLISHING. How to boost your immune system. Disponível em: How to boost your immune system - Harvard Health. Acesso em: 30 de outubro de 2023.
Material destinado ao público em geral. Por favor, consulte seu médico.
NP-BR-HZU-JRNA-230014- Novembro/2023
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