A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu nesta segunda-feira, 14, um dos sócios do PCS Saleme, laboratório responsável pela emissão de laudos que resultaram no transplante de órgãos infectados com HIV em seis pacientes. Além dele, um técnico da empresa também foi detido.
A ação integra a primeira fase da operação “Verum”, realizada pela Delegacia do Consumidor da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Foram cumpridos todos os 11 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça. Duas pessoas estão foragidas, e a polícia segue investigando a cadeia operacional relacionada à elaboração dos laudos.
Em coletiva de imprensa, a instituição de segurança afirmou que houve uma quebra do controle de qualidade dos reagentes — produtos químicos que reagem com o sangue contaminado e indicam a presença do vírus —, priorizando a redução de custos em detrimento da proteção dos pacientes.
“Como protocolo, os reagentes deveriam ser analisados sistematicamente todos os dias, mas passaram a ser fiscalizados apenas uma vez por semana. Quando houve diminuição de custo, houve aumento do risco”, disse o delegado André Neves.
Ele acrescentou que houve uma determinação para que essa quebra do protocolo fosse realizada, fato que está sendo apurado. “Todos que estão de alguma forma envolvidos nisso (espaçamento do controle de qualidade) serão criminalmente responsabilizados”, declarou o delegado.
Em nota enviada ao Estadão, a Polícia Civil destacou que a contratação do laboratório PCS Saleme pelo Governo do Estado também está sendo investigada. As novas fases da investigação, contudo, estarão sob sigilo.
A sede do laboratório, localizada em Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio, é um dos focos das investigações para identificar os responsáveis pela emissão dos laudos. A polícia também suspeita que existam outros casos de irregularidades relacionados à empresa.
Até o momento, não foram divulgados detalhes sobre os outros locais de busca e apreensão, nem sobre os mandados de prisão relacionados às duas pessoas foragidas.
“Conseguimos elementos para representar pelas cautelares junto à Justiça em tempo recorde, para que os culpados sejam punidos com a maior celeridade”, afirmou o secretário de Estado da Polícia Civil, Felipe Curi.
Em nota enviada à Agência Brasil na sexta-feira, 11, o laboratório disse que informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à fundação. Nesses procedimentos, segundo o posicionamento, foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O laboratório afirmou ainda que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso, um episódio “sem precedentes na história da empresa”. “O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso”, disse.
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