O Hospital Universitário (HU) da USP restringiu o pronto-atendimento adulto desde a semana passada por superlotação. A unidade, na zona oeste de São Paulo, também suspendeu as cirurgias eletivas (não urgentes) por tempo indeterminado até que o fluxo de atendimentos seja normalizado. Segundo a direção do hospital, aumentou a quantidade de pacientes encaminhados pelo poder público ao centro médico de referência ligado à universidade.
A unidade de saúde, importante polo de atendimento na região, foi projetada para receber até 11 pacientes de forma simultânea em seu pronto-socorro. Nas últimas semanas, contudo, o volume tem sido muito superior, o que tem feito a unidade a atender fora das condições consideradas ideais.
“Não é um fechamento efetivo. Hoje (segunda-feira, 24) mesmo chegaram dois novos pacientes. O que fizemos é um fechamento temporário para dar vazão aos internados”, afirma José Pinhata Otoch, cirurgião e superintendente do HU.
“Temos 11 leitos no pronto-socorro - que nunca foram suficientes - e mais 11 macas, que não é o adequado. Na semana passada, tivemos de colocar pacientes em cadeiras. Pensando na segurança em saúde, isso é um absurdo.” Conforme Pinhata, na semana passada o número de atendidos de uma vez chegou a 46.
A situação se agravou a partir do momento em que a Central de Regulação de Urgência e Emergência (CRUE), que é administrada pelo município, transformou a unidade em referência de urgência e emergência para toda a região oeste.
“O grande problema é que o sistema de urgência está atendendo a uma demanda muito maior do que pode receber. Somos, infelizmente, o único hospital de cuidados intermediários da zona oeste, uma região que tem 1,5 milhão de pessoas”, afirma o superintendente.
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Segundo ele, o aumento de atendimentos no pronto-atendimento é reflexo ainda da crise sanitária do novo coronavírus e da alta de casos de acidentes de motocicletas. “Estamos colhendo frutos ainda da pandemia de covid-19. São pessoas que tinham doenças pré-existentes, não tiveram atendimento adequado no período e suas doenças pré-existentes estão repercutindo agora”, acrescenta o médico.
Além do fechamento parcial do pronto-atendimento, as cirurgias eletivas também estão suspensas. “Sou cirurgião por formação, e suspender uma eletiva é a última coisa que queremos. Mas se trata de uma situação complexa”, diz.
Ele lembra que as cirurgias dependem da liberação de leitos, o que nem sempre ocorre na velocidade que deveria. “Temos casos de pacientes que estão há mais de uma semana aguardando transferência para hospitais de alta complexidade.” Vale ressaltar que os setores de pronto-atendimento obstétrico e pediátrico permanecem aberto.
A Secretaria Municipal da Saúde, por meio da Secretaria Executiva de Atenção Hospitalar, informou que os atendimentos para ortopedia por meio do SUS são realizados em hospitais da rede pública ou em clínicas parceiras. O Hospital Universitário faz parte da grade de referência para casos de urgência e emergência na cidade.
A pasta ressalta que, na zona oeste, a cidade conta com o Hospital Mario Degni, Sorocabano, Hospital das Clínicas e o Hospital Universitário, sendo os dois últimos referência para o atendimento de ortopedia.
Maternidade sem restrição
O pronto-atendimento obstétrico e a maternidade, afirma o hospital, funcionam sem restrição. “Os demais pacientes adultos e pediátricos que chegam espontaneamente ao Pronto Socorro do HU estão sendo avaliados pela triagem médica e de enfermagem e os casos que não são de urgência ou emergência estão sendo orientados e encaminhados para a rede de atenção primária”, informa a unidade, em nota.
Entre 2013 e o ano passado, o HU viu sua quantidade de leitos ativos reduzir de 233 para 145, segundo o Associação de Docentes da USP (Adusp), que cita números do Anuário Estatístico da instituição. O total de internações, por sua vez, caiu para menos da metade. E o total de funcionários foi de 1.853 para 1.393.
Entre 2015 e 2016, o HU reduziu os atendimentos e e o tamanho da equipe após um programa de demissão voluntária (PDV). As medidas foram tomadas por causa de uma grave crise orçamentária da universidade, que teve aumento grande dos gastos com a folha de pagamento.
Comitê de crise foi instalado
Um comitê de crise foi criado pela superintendência do HU na semana passada. Diariamente, o grupo se reúne para acompanhar o fluxo de pacientes na unidade e avaliar medidas a serem tomadas.
A reitoria da USP deverá se reunir com gestores de saúde do Estado e do Município para debater a situação. Procurada pela reportagem, a reitoria ainda não se manifestou.
Em nota, o Departamento Regional de Saúde da Grande São Paulo (DRS I), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, informou ter sido comunicado sobre a criação do comitê de crise pela USP e que aguarda reunião para debater a situação do pronto-socorro.
“O DRS reforça estar à disposição para, em conjunto com a USP e com o Município de São Paulo, restabelecer a normalidade dos serviços prestados no hospital. Além disso, presta apoio à unidade no sentido de regularizar o fluxo de pacientes junto à regulação”, diz o texto.
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