SÃO PAULO - Ao menos dez cidades de São Paulo decidiram suspender a aplicação da terceira dose contra a covid-19 em idosos, que teve início no Estado na última segunda-feira, 6. Como principal justificativa, os municípios citam o impasse entre o governo estadual e o Ministério da Saúde sobre qual vacina deve ser utilizada como dose adicional.
Em nota técnica publicada com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e o Conselho Nacional das Secretarias de Saúde (Conass), o Ministério da Saúde prevê que pessoas acima de 70 anos devem ser vacinadas preferencialmente com Pfizer ou, de forma alternativa, com AstraZeneca ou Janssen.
Apesar da orientação, o governo de São Paulo antecipou a aplicação para esta semana e, ao menos até o início do calendário nacional da terceira dose, previsto para o próximo dia 15, está aplicando Coronavac como dose de reforço na maioria dos idosos. A medida, no entanto, tem gerado críticas de especialistas, que apontam estudos científicos que demonstram uma eficácia menor desta vacina na população mais idosa, embora siga recomendada para o restante das faixas etárias.
Em nota, a prefeitura de Taboão da Serra informou que, em conjunto com outras sete cidades que compõem o colegiado de municípios — Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Embu Guaçu, Cotia e Vargem Grande Paulista —, decidiu suspender temporariamente a aplicação a aplicação da terceira dose. Ainda que não tenha firmado uma nova data, a pasta informou que ainda está definindo se a aplicação da dose de reforço contra a covid-19 ficará suspensa até o dia 15 de setembro, data em que está prevista a entrega de mais doses do imunizante da Pfizer por parte do Ministério da Saúde.
Caso os imunizantes, segundo a prefeitura, não sejam entregues até o dia 15, a Secretaria Municipal de Saúde de Taboão da Serra disse que seguirá a orientação do governo estadual e fará a aplicação das doses de reforço com o imunizante que estiver disponível no posto, independentemente da marca.
“A decisão de não realizar neste momento a aplicação da terceira dose ou dose de reforço foi tomada após impasse entre o Ministério da Saúde e o governo do Estado de São Paulo sobre qual imunizante pode ser utilizado”, acrescentou a pasta.
Medida semelhante foi tomada pelos municípios de Araras, que anunciou que atrasaria a vacinação com a terceira dose, prevista para começar na cidade no dia 7 de setembro, e Jandira, que informou que "aguarda as doses de imunizantes preconizadas pelo Ministério da Saúde". As prefeituras frisaram que o calendário de vacinação para outros grupos segue acontecendo da forma prevista.
Questionada sobre o posicionamento das cidades, a Secretaria da Saúde de São Paulo informou, em nota, que "a orientação do PEI (Plano Estadual de Imunização) é clara e indica a adoção de todos os imunizantes em uso na rede pública de saúde para a aplicação da dose adicional, visto que todos são seguros e eficazes". A medida, segundo a pasta, foi avaliada e aprovada pelo Comitê Científico do Estado.
Política
O Palácio dos Bandeirantes tem atuado para blindar a vacina que é considerada a peça de resistência de João Doria, que está em campanha nas prévias do PSDB para ser candidato a presidente da República. O governador e seu aliados consideram uma retaliação política o veto à vacina e contam com a retaguarda "técnica" de Gabbardo e Dimas Covas para rebater as dúvidas da comunidade científica.
"É fundamental que a discussão em torno da terceira dose contra a Covid-19 seja estritamente técnica no Brasil, não havendo campo para distinções políticas.”, disse Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de São Paulo e presidente do PSDB-SP. Mais cedo, o próprio Doria disse em coletiva que o motivo é "político", e Dimas Covas seguiu na mesma toada. / COLABOROU PEDRO VENCESLAU