PUBLICIDADE

Insônia pode ser sinal que antecede quadro de depressão, indica estudo

Pesquisa mostra que os dois problemas têm origens genéticas muito semelhantes e que a ocorrência de um pode ser considerada fator de risco para o desenvolvimento do outro

PUBLICIDADE

Por Layla Shasta

É comum que pessoas com depressão enfrentem dificuldades para dormir. Por isso, tradicionalmente, a insônia é considerada um sintoma secundário da condição, ou seja, uma consequência do quadro depressivo. No entanto, um novo estudo do Instituto do Sono, da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (AFIP), observou que a ligação entre os dois problemas vai além: eles têm origens genéticas muito semelhantes. Segundo a pesquisa, essa base em comum nos genes faz com que pessoas com predisposição genética para desenvolver depressão também apresentem maior risco de ter insônia – e vice-versa.

Isso significa, inclusive, que mais do que um sintoma posterior, a dificuldade crônica para dormir pode ser um sinal que antecede um quadro depressivo.

Insônia pode significar um risco aumentado para depressão Foto: stokkete/Adobe Stock

PUBLICIDADE

A conclusão foi alcançada após os pesquisadores analisarem os genes e os sintomas de mais de mil pessoas, com idades entre 20 e 80 anos. Para isso, eles observaram o DNA dos voluntários, além de relatos descritos em questionários com escalas para sintomas de depressão, qualidade do sono e insônia. A partir daí, foi aplicado aos dados um modelo estatístico, chamado “escore poligênico”, que permite prever o risco para doenças complexas ao considerar milhares de variantes genéticas.

O processo possibilitou estabelecer a relação entre as doenças, que muitas vezes se manifestam devido a fatores genéticos. As amostras, provenientes do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo, revelaram que as condições compartilham a mesma base nos genes e, por isso, quanto maior o risco genético para queixas de sono, maior também a probabilidade de desenvolvimento de sintomas depressivos.

Via de mão dupla

A biomédica Mariana Moysés, pesquisadora do AFIP e uma das responsáveis pelo estudo, afirma que a pesquisa mostra que, embora os problemas de sono tenham sido historicamente negligenciados nos tratamentos neuropsiquiátricos, eles devem ser vistos como importantes tanto como sintoma quanto como fator de risco.

“Em muitos casos, elas [depressão e insônia] andam juntas. É difícil dizer o quanto uma é secundária da outra. Além disso, a falta de sono é também um sintoma preditivo de uma depressão que pode acontecer no futuro”, explica.

Segundo a cientista, uma qualidade de sono ruim pode levar a adoecimentos mentais, porque as nossas experiências emocionais ao longo do dia são processadas dentro do cérebro durante a noite de sono. “Se nós temos um sono fragmentado, com insônia ou muitos despertares ao longo da noite, esse processamento fica prejudicado. A longo prazo, isso pode significar um risco aumentado para doenças neuropsiquiátricas”, adverte.

Publicidade

Além disso, ela explica que quando um paciente já está com a sua saúde mental afetada, como quando apresenta sintomas de depressão, é importante assegurar que ele durma bem, pois é possível que, tratando a insônia, haja uma melhora no processamento das emoções e, consequentemente, a redução dos sintomas depressivos. “Não adianta só ter o foco em um dos lados e não no outro. É uma via de mão dupla”, afirma.

Mariana explica que estudos anteriores sobre a qualidade do sono já indicavam que a insônia é mais do que uma consequência dos problemas na saúde mental. Os pesquisadores da AFIP sabiam que essas condições frequentemente ocorrem simultaneamente, mas a novidade deste estudo é a revelação de que isso pode ocorrer porque os fatores genéticos que aumentam o risco de depressão estão relacionados aos que aumentam o risco de insônia. Esta descoberta reforça a necessidade de um cuidado abrangente para os pacientes.

De acordo com a pesquisadora, coletar essas informações é um importante passo para a saúde pública, onde espera-se que, em um futuro próximo, testes genéticos possam ser usados para identificar e prevenir essas condições em pessoas com risco aumentado, atuando de forma preventiva em vez de apenas reativa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.