Intoxicação alimentar é mais comum no verão, mas pode ser evitada; confira

Cuidados básicos na cozinha e cautela em relação à alimentação fora de casa são essenciais para a prevenção do quadro

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Por Layla Shasta

O calor típico do verão torna mais difícil conservar bem os alimentos, mesmo na geladeira, criando o ambiente ideal para a proliferação de vírus e bactérias. Por isso, casos de intoxicação alimentar são comuns nessa estação do ano. Os sintomas incluem cólicas, náuseas e diarreia, e existe um risco adicional de desidratação.

Para a prevenção, o segredo está na atenção redobrada com aquilo que ingerimos. Confira, abaixo, as recomendações de especialistas em nutrição, infectologia e gastroenterologia ouvidos pelo Estadão.

(Não usar depois da publicação, em caso de dúvidas, falar com Foto) Virus and infectious disease concept. Foto: metamorworks/Adobe Stock

O que é intoxicação alimentar?

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O termo médico para o quadro é gastroenterite aguda – uma inflamação nas regiões do estômago e intestino. Ela é o resultado da ingestão de alimentos ou bebidas (principalmente a água) contaminados por micro-organismos ou por toxinas liberadas por eles.

A gastroenterite pode ser viral ou bacteriana. No primeiro caso, geralmente é causada por rotavírus, enquanto no segundo caso costuma envolver a ação das bactérias Salmonella e a E. Coli.

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Segundo o gastroenterologista Paulo Barros, cirurgião do aparelho digestivo do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o mais comum, especialmente nesta época do ano, é que a intoxicação alimentar seja causada pelas toxinas liberadas por bactérias após se proliferarem em alimentos mal armazenados.

Sintomas

Os sintomas incluem cólica, náusea, vômito, fraqueza e febre, além de diarreia. Segundo a infectologista Maria Luísa Moura, gerente médica do Hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or, eles tendem a desaparecer naturalmente em poucos dias.

Apesar disso, a intoxicação alimentar causa perda de líquidos e eletrólitos — minerais que transportam água para dentro das nossas células. Esse quadro, embora geralmente não seja grave para adultos saudáveis, pode evoluir para desidratação.

Essa é uma situação que oferece riscos especialmente a crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas, o que ressalta a importância da prevenção.

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Como evitar uma intoxicação alimentar?

A nutricionista Sandra Chemin, coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, explica que um dos principais problemas que pode favorecer a intoxicação alimentar é a contaminação cruzada. Isso ocorre quando bactérias presentes em alimentos in natura, objetos ou superfícies contaminadas são transferidas para outros alimentos.

Essa contaminação acontece, por exemplo, quando manipulamos carnes cruas e depois usamos as mesmas tábuas, facas e outros utensílios para preparar alimentos que serão consumidos crus (como saladas) sem higienizá-los corretamente.

Outros erros frequentes na cozinha são:

  • Armazenar alimentos de diferentes origens no mesmo recipiente;
  • Colocar materiais contaminados, como sacolas e caixas de supermercado, em cima da pia ou locais onde serão preparados os alimentos;
  • Abrir a geladeira desnecessariamente e manter a porta aberta;
  • Utilizar alimentos fora da validade;
  • Não higienizar a geladeira rotineiramente;
  • Descongelar os alimentos à temperatura ambiente (as maneiras mais seguras de descongelar são na própria geladeira, passando-os do freezer para partes mais baixas, ou no micro-ondas);
  • Higienizar adequadamente apenas aqueles vegetais que serão consumidos crus;
  • Manter cabelos soltos e sem proteção durante a preparação dos alimentos.

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“É muito importante o cuidado e a higiene ao manusear alimentos, com lavagem das mãos, limpeza dos utensílios utilizados, atenção quanto ao tempo que os alimentos ficam expostos à temperatura ambiente e seus prazos de validade”, resume Maria Luísa.

Outra medida essencial é cozinhar bem os alimentos. Como explica Sandra, a maioria das bactérias patogênicas se multiplica em temperaturas de até 45 ºC, enquanto mofos e leveduras geralmente não sobrevivem acima de 37 ºC.

Fora de casa, evite consumir alimentos de origem duvidosa ou preparados em condições precárias de higiene, especialmente frutos do mar. Carregue um frasco de álcool em gel, para higienização das mãos em lugares sem acesso à água ou sabão.

Tratamento

Para o tratamento, “é importante repousar, ingerir muito líquido (soro caseiro, inclusive) e fazer refeições leves”, diz Maria Luísa.

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Barros acrescenta que, por ser uma condição que tende a cessar naturalmente com o passar dos dias, o tratamento da intoxicação está voltado a combater o desconforto dos sintomas, como enjoo e dores.

Tomar bebidas com glicose e eletrólitos, além de caldos e canja, também pode ajudar a prevenir e tratar desidratações leves.

Quanto aos medicamentos, probióticos podem ser usados ajudar a recompor a flora intestinal. Mas as expectativas devem ser realistas. “Não é um remédio para interromper a diarreia, mas, como ajuda a recompor a flora natural do intestino, ajuda a acelerar o processo de recuperação”, explica o gastroenterologista.

Por falar em diarreia, um alerta dos especialistas é que devemos evitar remédios que prometem cessar esse processo, por mais desconfortável que ele seja. Isso porque o corpo está trabalhando para eliminar as toxinas que ingerimos, e “prender” o intestino pode acabar piorando os sintomas, especialmente nos primeiros dias.

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“Nesses quadros, de forma inicial, a gente tem que ter um pouco de paciência. Começamos a pensar em ‘cortar’ a diarreia quando o paciente já apresenta o quadro há 5 ou 7 dias, levando em conta a questão da hidratação”, conta Barros.

No geral, as medidas para a recuperação podem ser feitas em casa, mas, nos casos em que esses sintomas são mais graves – como diarreia que não melhora e febre persistente –, é necessário ir ao pronto-socorro.

De acordo com Maria Luísa, nessas situações “a internação pode ser necessária para controlar a desidratação e administrar o medicamento específico para o patógeno que levou ao quadro”.

Alguns sinais de desidratação são: muita sede, tontura, redução da quantidade de urina e dificuldade para hidratação devido a vômitos persistentes.

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