Ioga tem poder de remédio contra dor nas costas, diz estudo; saiba os motivos

Em pesquisa, voluntários que fizeram um treinamento online por 12 semanas relataram menos desconfortos e melhora do sono

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Por Caitlin Andrews (The Washington Post)
Atualização:

A prática regular de ioga pode reduzir a dor lombar, melhorar o sono e diminuir a dependência de medicamentos para dor, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Cleveland Clinic.

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O ensaio clínico randomizado estudou 140 funcionários da Cleveland Clinic que haviam relatado dor moderada por pelo menos três meses. Os participantes de um programa de ioga virtual de 12 semanas relataram sentir menos dor e dormir melhor em comparação com os funcionários que não tiveram acesso ao programa.

O estudo mostra que a ioga pode ser eficaz quando faz parte dos cuidados habituais do paciente, da mesma forma que medicamentos ou encaminhamentos para fisioterapia, afirma Robert Saper, presidente do departamento de bem-estar e medicina preventiva da Cleveland Clinic e autor sênior do estudo.

Mas, diferentemente dessas intervenções, a abordagem holística do bem-estar, comum nas práticas de ioga, pode abordar como a dor afeta a pessoa de modo geral.

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Ioga, mesmo que online, é aliada contra a dor na coluna, mostra estudo.  Foto: Arsenii/Adobe Stock

“Um medicamento anti-inflamatório pode tratar do componente físico, mas talvez a ioga possa afetar a parte emocional, a parte social e até mesmo a área relacionada ao significado e ao propósito”, disse ele.

Sat Bir Singh Khalsa, professor associado de medicina da Harvard Medical School que não participou da pesquisa, diz que o estudo é “encorajador”, em parte porque as aulas virtuais não têm um instrutor presencial para garantir que as pessoas estejam fazendo as posturas corretamente. As aulas remotas também eliminam algumas das barreiras à ioga, como encontrar uma escola ou pagar pelas aulas.

“O fato de que você pode ter benefícios com uma aula virtual tem enormes implicações para o público em geral”, avalia Khalsa.

Os fatos

  • A idade média dos participantes era de 48 anos. Oitenta por cento eram do sexo feminino e 73,5% tinham formação universitária. Os participantes foram divididos em dois grupos: o “ioga agora” e o “ioga depois”, ao qual se ofereceu o programa após a conclusão do estudo, mas sem monitoramento.
  • O grupo “ioga agora” fez uma aula de 60 minutos transmitida ao vivo toda semana e foi incentivado a praticar pelo menos 30 minutos por dia. Eles receberam um tapete e um pacote suplementar explicando as posturas. E também tiveram acesso a vídeos para incentivar a prática da ioga por conta própria.
  • O estudo se concentrou especificamente no hatha ioga, um estilo que enfatiza mais as técnicas estáticas de retenção e respiração, em comparação com as práticas mais rápidas do vinyasa. O estudo introduziu posturas como a da esfinge, a da ponte e a abertura dos ombros.
  • Cerca de 36,6% dos participantes fizeram as aulas pelo menos 50% do tempo. A média de dias de prática fora da aula foi de três a seis, e o tempo médio de cada prática nesses dias foi de 28,1 minutos.
  • Antes do começo do estudo, os participantes classificaram sua dor lombar, em média, como pelo menos 4 em uma escala de 11 pontos. Depois de 12 semanas, o grupo que praticou ioga relatou uma redução média de 1,5 ponto na intensidade da dor e, após 24 semanas, uma redução média de 2,3 pontos.
  • Também se solicitou que os participantes classificassem a qualidade do sono em uma escala de 0 a 4 – a classificação média era de regular a ruim. O grupo “ioga agora” relatou, em média, uma melhora de 0,4% após as 12 semanas em comparação com o grupo “ioga depois”.
  • O uso de medicamentos para dor também foi monitorado durante o estudo. O grupo “ioga agora” relatou 34% menos uso de medicação para dor ao final das 12 semanas de ioga em comparação com os participantes do grupo “ioga depois”.

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O estudo foi publicado na JAMA Network Open.

Por que a ioga funciona para a dor nas costas

A dor lombar é extremamente prevalente: afetou mais de 619 milhões de pessoas no mundo todo em 2020 e foi a principal causa de anos vividos com incapacidade, de acordo com um estudo de 2021 na Lancet Rheumatology. Entre suas causas estão falta de atividade física, lesões ou estresse no local de trabalho.

O tratamento da dor lombar com ioga ou fisioterapia é recomendado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos e pelo Colégio Americano de Médicos como métodos não invasivos, antes das intervenções mais farmacológicas, como a cirurgia.

A ioga é uma boa opção para a dor nas costas por causa de seu foco em posturas estáticas e suas variações para quem pode precisar de uma cadeira ou outro auxílio de mobilidade para realizar os movimentos, explica Saper.

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“Queríamos criar uma sequência de posturas de ioga viáveis para qualquer pessoa que nunca tivesse feito ioga antes, ou que tivesse várias doenças crônicas, ou que estivesse acima do peso”, acrescenta.

O movimento é fundamental para o controle da dor porque ajuda a treinar o cérebro para que ele entenda quais movimentos são seguros e, além disso, evita a atrofia muscular, informa Marissa Lizotte, fisioterapeuta sênior do Mass General Brigham.

O objetivo específico da ioga – mover-se lentamente de uma posição a outra, além do foco no equilíbrio e na estabilidade – faz dela uma prática adequada para ajudar na recuperação de lesões, esclarece Marissa. As posturas também podem acionar o sistema nervoso parassimpático, incentivando as pessoas a relaxar.

“Quanto mais nosso corpo estiver em uma resposta parassimpática, menor será a dor. E, se o corpo estiver nesse estado regularmente, fortalecerá o cérebro nas áreas que modulam a dor”, disse ela.

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Por que os médicos nem sempre recomendam a ioga para o alívio da dor

Os médicos raramente prescrevem a ioga como tratamento, ressalta Saper. Os planos de saúde quase nunca cobrem aulas de ioga, então os médicos hesitam em recomendá-la.

Além disso, às vezes as pessoas não conhecem seus possíveis benefícios. Ou os médicos não têm tempo para conversar com seus pacientes sobre tratamentos alternativos.

“O problema é que é mais fácil prescrever um remédio ou encaminhar o paciente a um especialista que pode fazer procedimentos mais farmacológicos. Leva menos tempo fazer alguma coisa assim do que conversar com o paciente sobre ioga”, interpreta.

Limites do estudo

Uma limitação foi que eram os próprios participantes que relatavam sua frequência na ioga e seus sentimentos durante o estudo. Outra limitação foi a “baixa taxa de comparecimento às aulas”, disseram os autores do estudo.

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As agendas lotadas podem explicar por que o grupo “ioga agora” teve uma média de apenas 36% de frequência, diz Khalsa. Mas, segundo ele, ter vídeos para as pessoas praticarem no tempo livre mostra que os resultados são possíveis mesmo que não se pratique com a frequência prescrita.

“Você pode ter uma intervenção perfeita que funcione perfeitamente se as pessoas a fizerem 100%, mas é preciso trabalhar com a realidade, e as pessoas simplesmente não cumprem as metas”, afirma. “Faz parte da natureza humana nos ensaios clínicos”.

Uso da ioga para o controle da dor

A Cleveland Clinic não oferece o curso de hatha usado no estudo, mas tem um curso introdutório de ioga disponível online gratuitamente.

Para quem quer explorar a ioga com aulas virtuais, há vários instrutores disponíveis no YouTube. Sua academia ou centro recreativo talvez ofereçam aulas presenciais.

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Marissa incentiva as pessoas a encarar qualquer atividade com cuidado. Manter a segurança durante os exercícios pode resultar em menos dor, lembra.

“Em geral, a regra que sigo é aumentar lentamente o nível de atividade e progredir no exercício a partir de onde você está, para evitar lesões, e, em seguida, aumentar lentamente até o nível de condicionamento físico desejado, de acordo com sua tolerância ao esforço”, ensina. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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