Ivermectina não é eficaz para reduzir internações por covid, aponta estudo brasileiro

Ensaio clínico de grande porte envolveu 1.358 pessoas infectadas pelo novo coronavírus de 12 cidades de Minas Gerais; resultados foram publicadas no 'The New England Journal of Medicine'

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Foto do author Raphael Ramos
Por Raphael Ramos e Ítalo Lo Re

SÃO PAULO – A ivermectina não se mostrou eficaz para evitar que pacientes com covid-19 fossem internados, de acordo com o resultado de um grande ensaio clínico publicado nesta quarta-feira, 30. A pesquisa envolveu 1.358 pessoas infectadas pelo novo coronavírus de 12 cidades de Minas Gerais. Os resultados foram publicadas no The New England Journal of Medicine.

Caixas com carregamento de ivermectina Foto: PRF

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Pesquisadores realizaram um estudo duplo-cego, com pacientes que tiveram sintomas de covid-19 por até sete dias entre 23 de março de 2021 e 6 de agosto de 2021, principal pico de mortes da pandemia no Brasil. Metade foi aleatoriamente designada para ser medicada com ivermectina (679 pacientes) e outra metade recebeu placebo (679 pacientes).

"O resultado demonstrou que nós não tivemos nenhuma sinalização de benefício da medicação para tratar a covid", diz em entrevista ao Estadão o pesquisador e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) Gilmar Reis, que liderou o estudo. 

Voluntários que tomaram ivermectina nos primeiros três dias após um teste positivo de coronavírus, inclusive, tiveram resultados piores do que os do grupo placebo. O estudo foi revisado por pares antes de ser publicado no periódico científico.

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A ivermectina normalmente é usada como medicamento antiparasitário e demonstrou ter eficácia clínica no tratamento contra oncocercose (infecção por verme), estrongiloidíase (infecção intestinal) e sarna. No início da pandemia, pesquisadores passaram a testar vários medicamentos contra o covid-19 e surgiu a hipótese de que a ivermectina poderia bloquear o coronavírus, o que não se confirmou.

"Vimos grande ideologização da ivermectina no nosso país, e também nos Estados Unidos. Hoje, no Brasil, isso reduziu muito, mas nos Estados Unidos continua muito intensa", diz o pesquisador. "Então, nós julgamos que tínhamos todos os pressupostos para estudar o medicamento."

A motivação para ir atrás desses resultados, explica Reis, partiu também de uma inquietação por um remédio para combater a doença. "O mundo está numa corrida contra o tempo na tentativa de encontrar terapêuticas para a covid. Nós entendemos que diante da pandemia, a gente precisava dar respostas rápidas, consistentes e robustas", explica. 

"Para isso, desenvolvemos uma rede de colaboração. Fiz o desenho do protocolo de pesquisa e recebemos as aprovações regulatórias", acrescenta Reis. Conduzido em pacientes da rede pública, o estudo contou com o auxílio de prefeitos e secretários de Saúde. Para dar consistência à parte metodológico, teve apoio ainda de pesquisadores de universidades como a McMaster, do Canadá, e a de Stanford, nos Estados Unidos.

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Segundo o pesquisador, a expectativa agora é que os resultados obtidos pelo estudo gerem efeitos no tratamento da covid. "Com certeza, em diversas partes do mundo, vão parar de consumir ivermectina", aponta Reis.

“Agora que as pessoas podem mergulhar nos detalhes e nos dados, esperamos que isso desvie a maioria dos médicos da ivermectina para outras terapias”, disse David Boulware, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Minnesota, ao jornal The New York Times.

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