Dois estudos divulgados nas últimas semanas jogam um pouco mais de luz nessa importante investigação. Afinal de contas, por que a geração mais informada e conectada que se tem notícia é justamente a que parece lidar pior com o risco?
Vários fatores são apontados por especialistas como possíveis responsáveis, entre eles a precocidade. Isso vale para a idade com que o jovem entra em contato com álcool e substâncias ilícitas, exposição às novas tecnologias e até início da vida sexual.
Muito novo e inexperiente, o jovem teria de tomar decisões importantes sobre sua vida sem ter maturidade para avaliar e entender todos os impactos e desdobramentos. Além disso, com uma perspectiva focada sempre no curto prazo, o adolescente investiria pouca energia em se privar de emoções e prazeres imediatos para calcular riscos futuros.
Sabe-se também que, quanto mais novo, maiores as dificuldades do jovem em lidar com as pressões de seu grupo. Inseguro, com questões importantes de timidez e autoestima e, ao mesmo, com necessidade de ser aceito e de se identificar com uma “turma”, muitas vezes ele pode adotar atitudes e comportamentos que o colocam em perigo.
Resultados. O primeiro trabalho, realizado em um projeto maior da Universidade Caltech, da Califórnia, que busca entender como as influências sociais podem moldar o funcionamento do cérebro, estudou um grupo de indivíduos que poderiam optar por comportamentos mais arriscados ou mais seguros, apostando dinheiro ou não em uma espécie de jogo de azar. O trabalho foi publicado no periódico científico PNAS.
Os indivíduos eram levados a se arriscar ou não em três baterias de testes. Na primeira, tinham de decidir por conta própria. Na segunda, após ter acompanhado a decisão de outras pessoas. E, finalmente, em uma terceira etapa, tinham de prever o comportamento futuro de seus pares.
Os resultados mostram que, após acompanhar o processo de decisão dos outros, os participantes eram “influenciados” pelo que viam e tendiam a adotar a mesma postura do grupo. Os neurocientistas fizeram testes de ressonância magnética funcional nos participantes e conseguiram localizar naqueles que se arriscavam mais uma maior atividade cerebral em uma área conhecida como núcleo caudado. Segundo eles, a investigação sugere que assumir riscos poderia ser um processo “contagioso” e que ele poderia surgir simplesmente ao observar o comportamento dos outros.
Em outro trabalho, pesquisadores das universidades americanas de Bowling Green e do Estado de Michigan investigaram dados de mais de 11 mil alunos dos ensinos fundamental e médio. Eles concluíram que jovens que fazem parte de gangues tendem a sofrer mais de depressão e a ter maior tendência ao suicídio.
As gangues são buscadas pelos jovens mais pobres nos Estados Unidos, assim como por aqui, como uma possibilidade de ganhar dinheiro, respeito ou admiração de seus pares. Fazer parte de uma delas, principalmente para jovens solitários e de famílias pouco estruturadas, pode gerar uma espécie de acolhimento que, muitas vezes, eles não encontram em suas escolas ou casas.
Segundo os especialistas que publicaram na revista Criminal Justice and Behavior, entrar nas gangues, porém, pode ser pior para os jovens, já que eventuais dificuldades emocionais parecem ficar potencializadas e a relação mais próxima com a violência poderia influenciar a relação com os riscos, aumentando em 67% os pensamentos suicidas e em 104% as tentativas de tirar a própria vida.
Os trabalhos apontam que no universo jovem trabalhar com as influências do grupo pode ser tão importante quanto investir na abordagem das vulnerabilidades individuais.
JAIRO BOUER É PSIQUIATRA
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