Novos dados revelam um aumento do número de suicídios no Estado de São Paulo de 4,6 para 5,6 por 100 mil habitantes no intervalo de 2007/2008 para 2013/2014. Os números fazem parte de pesquisa divulgada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), na última semana.
Os homens são 80% das pessoas que cometeram suicídio. A maioria das vítimas paulistas estava na faixa etária mais produtiva. Na Região Sul, que tem as taxas mais elevadas do País, com Rio Grande do Sul e Santa Catarina na faixa superior a 10 casos por 100 mil habitantes, a população mais atingida é mais idosa. Em parte, o aumento dos casos pode ter relação com análise mais cuidadosa dos atestados de óbito com mortes indeterminadas. As informações foram divulgadas pelo Estado. O estudo ainda mostra que o suicídio é mais comum nos meses mais quentes do ano, no domingo e na segunda feira e, também, no período da manhã.
O fato de os homens serem vítimas mais comuns não é uma novidade. Em boa parte do mundo, a situação é a mesma. As taxas mais altas são explicadas por uma combinação de fatores, entre eles: maior resistência dos homens em reconhecer dificuldades emocionais e buscar ajuda em fases de crise, menor interação deles em grupos sociais, maior consumo de álcool e drogas, maior pressão por desempenho profissional e ganhos mais elevados, maior competitividade e impulsividade e, ainda, menor tolerância às dificuldades econômicas e ao desemprego.
A taxa de suicídio no Brasil está na ordem de 5,8 casos por 100 mil habitantes, inferior aos índices de países como Rússia, Coreia do Sul e Japão, que ficam com números superiores a 20 por 100 mil habitantes. Relatório de 2014 do Escritório Nacional de Estatística do Reino Unido, por exemplo, apontava o suicídio como a primeira causa de morte de homens de 20 a 50 anos naquele país e a segunda principal causa entre os garotos britânicos.
Outro grupo que parece cada vez mais vulnerável é o das garotas. Estudo recente mostra que o número de crianças com ideias suicidas dobrou nos últimos cinco anos no Reino Unido, com as meninas apresentando um risco seis vezes maior do que os meninos.
O maior problema está no grupo entre 12 e 15 anos. Nessa faixa etária, as redes sociais, o abuso em casa e as pressões escolares são gatilhos. Os dados são baseados em quase 20 mil chamadas de jovens com ideias de suicídio recebidas entre 2015 e 2016 pela ONG inglesa Childline e, foram divulgados pelo jornal Daily Mail na última semana.
Para prevenir o suicídio é fundamental quebrar tabus em relação à saúde mental, fazendo pessoas e familiares reconhecerem problemas emocionais graves e quadros psiquiátricos como depressão, esquizofrenia e abuso de substâncias como ameaças concretas à vida. Essa questão é ainda mais sensível na população masculina, onde cobranças sociais e a margem para lidar com eventuais crises são tão estreitas. O desafio é vencer o silêncio que cerca a vida emocional de boa parte de nós. É importante estar alerta e oferecer suporte para quem precisa!
Transgênero e suicídio. Há muito se sabe que conflitos com a orientação sexual e com a identidade de gênero podem levar a dificuldades emocionais que aumentam o risco de suicídio. Novo estudo do Hospital da Criança em Cincinnati (EUA) mostra que 30% dos jovens transgêneros relatam ter tentado o suicídio pelo menos uma vez na vida e 42% têm história de automutilação.
O trabalho, publicado no periódico Suicide and Life-Threatening Behavior, ainda mostra que o risco é maior nos jovens transgêneros de 12 a 22 anos que têm alto nível de insatisfação com o peso. Além disso, os números mostram que 63% deles sofreram bullying, 23% foram suspensos ou expulsos da escola, 19% tiveram brigas e 17% repetiram de ano. Isso revela o quanto essa população está exposta a fatores que podem afetar a autoestima e aumentar a vulnerabilidade a questões emocionais, ou seja, um grupo em que o suporte familiar e psicológico pode fazer toda a diferença.
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