Jovem com doença que causa ‘a pior dor do mundo’ passa por novo tratamento

Em procedimento no último sábado, 27, médicos da Santa Casa de Alfenas implantaram eletrodos que podem controlar a dor causada pela neuralgia do trigêmeo; entenda

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Por Bárbara Giovani
Atualização:

A estudante universitária Carolina Arruda, de 27 anos, foi submetida a uma nova cirurgia no sábado, 27, para implante de eletrodos neuroestimulantes na tentativa de modular a dor intensa que sofre por causa de uma neuralgia do trigêmeo, um distúrbio que provoca uma dor aguda nos nervos da região do rosto. De tão intensa, é chamada por alguns médicos de “a pior dor do mundo”. “É como se você segurasse um ferro quente de passar roupa no rosto”, explicou a jovem em uma publicação nas suas redes sociais. O caso de Carolina ganhou repercussão na internet neste mês após ela abrir uma vaquinha online com o objetivo de se submeter à eutanásia na Suíça, país onde o procedimento é permitido.

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A jovem já havia passado por quatro cirurgias e se submetido a vários tratamentos medicamentosos, sem sucesso. Agora, também está passando por uma terapia com uso de canabidiol, o que ajudou a reduzir a frequência e a intensidade de suas crises. Foi neste momento que médicos da Santa Casa de Alfenas, em Minas, ofereceram novas opções para tratar seu caso.

“Era um caso extremamente marcante. A mensagem que a única solução para a dor era morrer é uma mensagem que não pode florescer. Aí a gente ofereceu o tratamento para ela”, explica Carlos Marcelo de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas e responsável pelo caso. Como a jovem já havia passado por outras cirurgias, a equipe que atende Carolina optou por priorizar o implante de neuroestimuladores em seu plano de tratamento.

Ao Estadão, por escrito, Carolina afirma que está esperançosa com a nova possibilidade de tratamento. “Apesar de todas as dificuldades que já enfrentei, acredito que os neuroestimuladores possam trazer uma melhora significativa na minha qualidade de vida. Continuo lutando e buscando alternativas para controlar a dor e ter uma vida mais plena”, diz.

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A jovem Carolina Arruda com os médicos Tiago Freitas (de branco) e Carlos Marcelo de Barros, da Santa Casa de Alfenas Foto: Reprodução/Instagram@caarrudar

Implante de neuroestimuladores

O procedimento de implante de neuroestimuladores não é um procedimento feito com muita frequência. Geralmente, é uma medida utilizada para tratar dores neuropáticas, como as decorrentes de cirurgias na coluna ou da síndrome de dor regional complexa.

O método controla a dor porque imita a onda elétrica de baixa intensidade das fibras nervosas que conduzem o incômodo pelo corpo, comunicando-se com o sistema nervoso no mesmo “idioma”. Assim, modula o estímulo, ou seja, tenta substituir estímulo doloroso por um não doloroso. “O estímulo elétrico é enviado pelo gerador e trazemos estruturas nervosas hiperexcitadas (na dor crônica) para o estado normal”, explica Barros.

Os cirurgiões inserem no paciente alguns eletrodos, o gerador que produz a corrente elétrica e os fios que conectam os dispositivos. Tudo fica sob a pele e o gerador possui uma bateria que dura entre cinco e sete anos.

Os eletrodos são posicionados sobre o local em que se deseja modular a dor. No caso de Carolina, foram implantados dois neuroestimuladores na coluna cervical e um no gânglio de Gasser, ou trigeminal. “O implante na coluna cervical consegue atingir V1, V2 e V3, ou seja, os ramos mandibulares e maxilares. Só que do lado esquerdo, ela também tem dor no ramo oftalmo. Aí a gente optou por colocar um neuroestimulador também do gânglio de Gasser, que junta os três nervos”, explica o responsável pelo caso.

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A cirurgia de Carolina durou cerca de seis horas. Participaram do procedimento o neurocirurgião Tiago Freitas, o neurofisiologista Victor Marques, o cirurgião bucomaxilo Cristiano Assunção e o anestesiologista Fabrício Gomes.

Depois de implantados os eletrodos, o médico especialista consegue ajustar os parâmetros do estímulo elétrico por um dispositivo externo que funciona via bluetooth. “A mudança de parâmetros depende da anatomia do paciente e da resposta à terapia e pode ser ajustada com o tempo e com a necessidade de cada momento da vida do paciente”, afirma Barros.

No caso de Carolina, ela mesma consegue aumentar ou diminuir a corrente elétrica por meio de um controle. A jovem afirma que a recuperação pós-cirurgia tem sido desafiadora, uma vez que demanda muitos cuidados. “Estou usando um colar cervical para evitar mexer o pescoço e não posso falar durante os primeiros cinco dias”. Ainda assim, diz que está seguindo todas as recomendações médicas rigorosamente para garantir uma recuperação adequada e evitar complicações.

Carolina ainda está em fase de adaptação aos neuroestimuladores. “Ainda sinto dor, mas o nível tem se mantido mais estável. Atualmente, a dor varia entre níveis 6 e 10, dependendo do momento”, explica a jovem. Segundo Barros, a expectativa é que o método controle as dores durante as próximas três semanas, total ou parcialmente.

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Caso isso não aconteça, a ideia é partir imediatamente para o próximo tratamento, estabelecido no plano traçado pela equipe de profissionais responsável pelo caso.

Plano de tratamento

A segunda opção do plano de tratamento de Carolina é um implante de bomba de infusão intratecal de fármacos. Nele, um dispositivo é inserido no abdômen da paciente e, por meio de um cateter colocado no sistema nervoso central, libera medicamentos para o controle da dor diretamente no alvo.

Como terceira opção, está a cirurgia para descompressão vascular do nervo trigêmeo. Caso esse método também não funcione, há um quarto tratamento possível para Carolina: uma cirurgia de nucleotractomia trigeminal, que tem como objetivo interromper cirurgicamente a transmissão sensitiva do nervo trigêmeo.

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Sobre a neuralgia do trigêmeo

A neuralgia do trigêmeo é uma condição caracterizada por dor aguda na região do rosto. Esse incômodo segue o trajeto de um nervo chamado nervo trigêmeo. “Nós temos dois deles, um de cada lado da face, sendo cada um responsável pela sensibilidade de uma metade da face”, explica Vinícius Boaratti Ciarlariello, neurologista do Departamento de Pacientes Graves do Hospital Israelita Albert Einstein.

Dessa forma, a dor pode acometer as bochechas, a mandíbula e a região em volta dos olhos. No geral, os episódios de dor podem durar de segundos a minutos e tendem a acontecer várias vezes durante o dia. Alguns gatilhos podem desencadear as crises de dor, como a mudança de temperatura, um toque no rosto e até os atos de falar, escovar os dentes ou mastigar.

O incômodo pode surgir por um conflito neurovascular, como um curto-circuito de vasos sanguíneos e do nervo do trigêmeo. Outra causa para a condição é o aparecimento da dor após a pessoa enfrentar doenças que lesam este nervo ou alguma parte do cérebro. Tumores de base de crânio, doenças inflamatórias de meninges e doenças autoimunes, sendo a mais comum a esclerose múltipla, são alguns exemplos. Também há casos em que não se encontra uma alteração que justifique a doença - esses são chamados casos idiopáticos.

A primeira opção de tratamento é sempre o medicamentoso, feito com remédios de uso contínuo que controlam o disparo inapropriado do nervo e as vias centrais da dor. Segundo Ciarlariello, os principais são alguns antidepressivos e anticonvulsivantes. Há, ainda, opções cirúrgicas.

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“Infelizmente, não se pode dizer que a neuralgia do trigêmeo seja uma condição curável, pelo menos na maioria dos casos. Entretanto, isso não quer dizer que o paciente não possa ter suas dores de alguma forma controladas”, afirma o neurologista do Einstein.

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